A rotina de Sucre é outra desde a última terça-feira. A cidade que
atrai milhares de turistas todos os anos graças ao seu centro histórico
bem conservado recebe a delegação do Flamengo. O clube a escolheu para
se preparar para o jogo de ida da pré-Libertadores, contra o Real
Potosí, na próxima quarta-feira. Em dias de crise, a cidade tornou-se o
refúgio perfeito. Sucre está a 164 km do local da partida e a 2.800
metros de altitude. O compromisso em Potosí, no estádio Victor Agustín
Ugarte, será a 4.000 metros acima do nível do mar e está marcado para
21h50m (de Brasília).
Rua estreita da cidade de Sucre, onde o Fla se prepara na Bolívia (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
Com a presença da delegação rubro-negra, ir ao estádio Patria tornou-se
um compromisso diário. Na noite de sexta-feira, quase 40 mil pessoas se
espremeram para entrar no local e assistiram ao jogo-treino de 70
minutos contra o Universitário de Sucre. O Fla não jogou bem, mas venceu
por 1 a 0, gol de Renato.
Na porta do hotel que hospeda a equipe, no Centro, bolivianos e
brasileiros que vivem na cidade se aglomeram para ver os jogadores.
Pescoços esticados, máquinas fotográficas em punho, expectativa e
histeria. Gritos em castelhano por Ronaldinho são ouvidos a cada vez que
o craque passa pelo saguão para fazer as refeições ou ir e voltar dos
treinos.
Estádio Patria foi a casa do Flamengo em Sucre (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
R10, aliás, tem recebido uma série de homenagens na passagem pela
Bolívia. Vestiu até um poncho tarabuqueño, traje típico. A mais
expressiva delas ocorreu na tarde de sexta. O atacante foi condecorado
pelo presidente Evo Morales com a medalha de honra ao mérito desportivo.
Durante a cerimônia, foi classificado como “de outro planeta” e teve os
feitos da carreira destacados. Evo disse ser fã dos dribles e gols do
astro. Nos treinamentos, Ronaldinho é sempre o centro das atenções. O
que já ocorre no Brasil fica ainda maior em Sucre. Notícias que chegam
de Potosí dão conta de que por lá a expectativa para ver o jogador
também é imensa.
Ronaldinho ganhou e vestiu o poncho tarabuqueño, traje típico local (Foto: Alexandre Vidal/Fla Imagem)
Sucre tem uma população de 230 mil habitantes. É a capital
constitucional da Bolívia, sede da Suprema Corte de Justiça, e capital
do departamento de Chuquisaca. Está localizada na parte sul-central do
país.Muitos brasileiros vivem por aqui por conta das faculdades de
medicina. É comum que adolescentes e jovens deixem o Brasil para estudar
no país. Foi o que fez Junior Césio de Almeida, há oito anos. Agora,
vive na cidade com a esposa e as três filhas.
- Eu me formei e não voltei mais. É um privilégio pode ver o Flamengo
de perto, é emocionante. Sou fã do Léo Moura, que para mim é o principal
jogador. Vou a Potosí assistir ao jogo e espero que o time se
classifique. O Flamengo vive uma crise, não ficou com o Thiago Neves,
Alex Silva está afastado, Ronaldinho e Luxemburgo não se dão. Mas tomara
que supere tudo isso – disse, ao lado da filha Juliana, de 12 anos, que
nunca assistiu a um jogo do Rubro-Negro.
- Gosto do Ronaldinho e do Léo Moura – comentou.
Ronaldinho saúda a torcida no Estádio Patria (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
Pobreza, caos e alegria
As construções dos séculos XVIII e XIX dão charme à cidade. Nas ruas
estreitas, com trânsito caótico e tumultuado, vê-se muita pobreza. A
mendicância chama a atenção, principalmente de crianças e idosos.
Apesar das condições ruins, a hospitalidade e a alegria são
características marcantes do povo de Sucre.Nesta época do ano, é
preciso andar atento pelas ruas. O mais distraído pode acabar molhado.
Faz parte da cultura carnavalesca atirar pequenos balões com água nas
pessoas. Na Praça 25 de maio, crianças e adolescentes se divertem assim.
Das janelas das construções mais altas, as bexigas também são lançadas.
Mercado Central de Sucre atrai muitas pessoas (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
Um passeio pelo Mercado Central vale a pena. Há um pouco de tudo. De
alimentos a peças de vestuário. A movimentação pelo local é intensa
diariamente. O cheiro forte de especiarias e carnes é a marca do lugar.
Lá, é possível encontrar a famosa folha de coca, cujo consumo mesmo se
em grandes quantidades leva apenas à absorção de uma dose minúscula de
cocaína. Ela é usada há mais de 1.200 anos pelos povos nativos da
América do Sul. Eles a mastigavam para ajudar a suportar a fome, a sede e
o cansaço, sendo, ainda hoje, consumida legalmente em alguns países,
como Peru e Bolívia, sob a forma de chá.
Praça 25 de Maio, em Sucre (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
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