Elas trocaram o ginásio fechado e uma bola por um dos mais famosos
cartões postais do Rio de Janeiro e um barco. Não é só o fato curioso de
ter começado a vida esportiva pelo basquete que as remadoras Camila
Carvalho e Luana Bartholo têm em comum. Ambas abdicaram de suas
carreiras fora d’água, defendem clubes cariocas, sofrem para manter o
peso exigido na categoria leve (57kg), têm a mesma altura (1,76m), são
apaixonadas pelo o que fazem e, agora, na Lagoa Rodrigo de Freitas,
compartilham o sonho de remar ao lado da campeã mundial Fabiana Beltrame
nas Olimpíadas de Londres-2012.
Aos 30 anos, Camila Carvalho é a mais experiente da dupla que disputa a
segunda vaga no double skiff peso leve que vai buscar a classificação
para Londres no Pré-Olímpico, de 22 a 25 de março, em Tigre, na
Argentina. A brasiliense, que chegou a fazer parte da seleção de
basquete de seu estado, resolveu trocar as quadras pela água após sofrer
uma lesão no joelho esquerdo, aos 19 anos.
- Hoje em dia, as meninas estão cada vez mais altas. Não daria para ser
pivô, talvez daria para ser uma ala ou uma armadora. Mas a paixão pelo
remo foi maior e, aqui, acho que os resultados são bem melhores do que
se tivesse no basquete.
Desde então, vem alcançando remadas cada vez mais longas. A maior delas
foi a participação nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008, ao lado de
Luciana Granatto, no double skiff peso leve. Depois de quase seis anos, a
dupla se desfez. Mas Camila quer encerrar a carreira de atleta com mais
uma experiência olímpica no currículo. E o cenário não poderia ser mais
estimulante. Assim como Luana, ela tem a chance de se despedir remando
em Londres ao lado da campeã mundial Fabiana Beltrame.
- Eu também tenho um trabalho (psicológico) para ficar mais calma e não
criar tanta expectativa. Querendo ou não, a vida não é só remo –
ponderou a brasiliense formada em Ciências Políticas e Relações
Internacionais, que pretende trabalhar no Comitê Olímpico Brasileiro
depois da aposentadoria.
Luana também se arriscou nos garrafões. Aos 16 anos, jogava basquete no
colégio e resolveu fazer um teste para o time do Vasco. Não passou. Mas
sua ficha foi aproveitada para o remo. A carioca, que se formou em
Jornalismo e Publicidade, sempre se dividiu entre a profissão e o
esporte. Até que, desde o ano passado, já pelo Flamengo, resolveu largar
tudo pelo sonho olímpico. Inclusive, o prato. Sofreu, mas conseguiu
perder 10kg. A mudança de categoria (de pesado para leve) proporcionou
uma reviravolta na carreira da remadora de 25 anos, que passou a chamar a
atenção até da comissão técnica da seleção brasileira.
- Desde que o Ronaldo Carvalho começou a me treinar, há dois meses, foi
uma ascensão muito rápida. Fui conquistando resultados que nunca tinha
tido, em um curto período de tempo. Isso cada vez mais me incentiva a
continuar – destacou Luana, que abriu mão também de desfilar como
destaque em um carro alegórico da Imperatriz Leopoldinense, mesmo sendo
presença assídua na Sapucaí desde criança.
Colega de clube de Luana, Fabiana Beltrame vem acompanhando de perto a
evolução da jovem atleta rubro-negra. A campeã mundial, que está em
busca de sua terceira participação olímpica, no entanto, ressalta que a
experiência de Camila também pesa.
- A Camila é mais experiente e também tem o fato de estar há mais tempo
no peso, com 57kg. Isso conta muito também. Mas a Luana tem uma
determinação muito boa. Uma dedicação que eu gosto de ver. Vai ser
difícil, é páreo duro. Não gostaria de estar nessa situação. Mas é a
vida – comentou Fabiana.
Rivalidade só dentro d'água
Camila e Luana garantem que, apesar da disputa, não há clima ruim entre
elas. Nem mesmo a famosa rixa entre os clubes Vasco e Flamengo
influenciam no relacionamento entre as remadoras. As duas admitem,
porém, que a rivalidade aparece quando o barco entra na água.
- O objetivo é ver com qual das duas o barco anda melhor. Temos também
argumentos individuais de comparação de potência, de resistência, de
peso. Eu busco uma convergência dos argumentos para decidir de uma
maneira mais justa e pedagógica – explicou o técnico da seleção
brasileira, o francês José Oyarzaba.
Até o fim da próxima semana, a dupla ainda tem a chance de convencer o
treinador. Mas o francês já se mostrou inclinado para uma delas. No
treino da última quarta-feira, Fabiana fez tomadas de tempo com as duas
candidatas. Luana levou ligeira vantagem.
- As duas chegaram (à seletiva) mais ou menos equilibradas e essa
comparação entre as duas vem evoluindo. Não vou falar ainda quem vai
ficar no double, mas fica cada vez mais claro uma posição a favor de uma
delas.
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