sábado, 17 de julho de 2010

Patrícia: 'Bruno não joga mais pelo Flamengo, mesmo sendo inocentado'

A presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, falou com o Globo Esporte sobre a situação do goleiro Bruno, afastado do time pelo envolvimento no desaparecimento da jovem Eliza Samudio. A dirigente se emocionou ao falar dos momentos de pressão pelos quais vem passando, e revelou que o clube deverá demitir Bruno por justa causa, além de incluir nos contratos dos jogadores uma cláusula de bom comportamento que prevê a rescisão do vínculo sem ônus para o Flamengo em caso de quebra.


GE: Como a senhora recebeu a notícia no dia?
Patrícia Amorim: Foi complicado, no primeiro dia fiquei assustada. Já vinha com a preocupação dos casos anteriores, dos outros jogadores. Imediatamente resolvi afastar o Bruno do time. Não tinha nenhum depoimento ainda, ele era apenas um suspeito

Como foi o seu encontro com o Bruno?
Ele me olhou no olho. Naquele momento não estava abatido, não tinha nenhum tipo de situação conflitante em que você poderia notar tristeza. Nós estávamos curiosos, mas não perguntamos nada. Ele disse que era inocente, disse que gostava do Flamengo, não queria prejudicar a imagem do clube, e aceitou. Eu levantei, fiquei olhando a foto do Centro de Treinamento. Não conseguia conviver com aquela situação. Ele ainda queria conversar com os jogadores no vestiário, mas o Isaías (Tinoco, supervisor de futebol) disse que não seria bom. Ele estava muito tranquilo, muito tranquilo. Olhava no olho.

Te assustou toda essa tranquilidade?
Aquela tranquilidade me assustou, porque nenhum de nós estava tranquilo. Foi dificil, complicado. Depois ele saiu pela quadra, e eu vi na internet que ele disse que ainda iria rir da situação. A gente não estava rindo.

Como dirigente e como mulher, foi muito chocante ver o capitão do seu time com roupa de presidiário, saber que uma mulher morreu nessas condições?
Tem sido difícil. Muito chocante e muito dificil. Especialmente pra mim, que sou mulher, é dificil de falar também.

Além de ser mulher, dirigente, você é mãe também. Dentro de casa, você tem quatro filhos que gostam de futebol. Como foi lidar com isso também?
Muito difícil, muito difícil. Ao mesmo tempo, o meu filho mais velho joga basquete e é goleiro. O de nove anos, quando eu afastei, reclamou, disse que não torcia mais pro Flamengo. Ele tá com problemas. Tem o ídolo, né? Nesse último jogo entre Flamengo e Botafogo o Flamengo ganhou por 1 a 0. Tinha uma família esperando pra pegar autógrafos dos jogadores. Tinha um menino de uns quatro anos no colo, e uma menina de uns sete ou oito anos. Ela pediu pra tirar uma foto comigo, e disse assim: 'Se você for visitar o Bruno diz que eu amo ele'. Eu fiquei sem saber o que dizer.

Você pensa em visitar o Bruno?
Não sei. Neste momento, não.

Qual o prejuízo em termos de números desse episódio?
Algo em torno de nove milhões de reais na aquisição e no pagamento de salários ao longo desse tempo. Tem uma hora que você... Eu perguntava para as pessoas de onde vou tirar tanta força. A força vem do amor (chora) que eu tenho por esse clube, um amor inabalável, inabalável. A gente vai seguir, a gente vai virar esse jogo. O encaminhamento da comissão de notáveis é para a rescisão do contrato do Bruno por justa causa e com a possível entrada de um processo por perdas e danos. Mesmo que seja julgado inocente, ele não jogará mais no Flamengo.

O título brasileiro do ano passado deu superpoderes pra alguns jogadores?
Eles pensaram: 'Nós chegamos lá, era isso que todos esperavam depois de dezessete anos. Somos heróis. Podemos tudo.' Não podem mais. A partir de agora o clube vai incluir nos contratos uma cláusula de bom comportamento, que dá ao Flamengo o direito de rescindir imediatamente o contrato sem qualquer ônus para o clube caso ela não seja cumprida. Então que eles cumpram a parte deles, que é jogar um grande futebol à altura do Flamengo, da grandeza do Flamengo e que tenham comportamento compatível com o Flamengo. É isso que eu tenho que fazer. E eu vou fazer.


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