Quase meia hora após o apito final da partida entre Flamengo e Olaria pelo Campeonato Carioca Sub-20, um jovem, de 19 anos, deixa o vestiário da Gávea depois de quase todos os companheiros. Calça jeans, camisa pólo, óculos escuros e o inconfundível cabelo Black Power. Tranqüilo, ele conversa com a equipe do site oficial do Flamengo sobre seu início promissor na carreira e suas aspirações ao futuro.
De fala mansa, não lembra, nem de longe, o atacante frio e matador, que é o terror das defesas do Campeonato de Juniores. Com o número 10 às costas, chuteiras azuis, esparadrapo na mão esquerda e um poder de finalização de dar inveja a muitos profissionais. Os gestos, as reclamações e a personalidade são muitas vezes confundidas com marra dentro de campo, mas, basta uma bate-papo fora dele para conhecer o verdadeiro Diego Maurício, revelação das categorias de base do Flamengo e que é apontado por todos como um grande candidato a estourar no profissional.
Filho de seu José Maurício e dona Andréia Cristina, Diego sonha com este momento e vem trabalhando forte para isso. Os números comprovam. Contra o Olaria, ele fez três gols, e na competição, já tem oito – em apenas seis jogos. Artilheiro nato, o jogador tem como objetivo brilhar no futebol não só pela sua paixão pelos campos, mas também para retribuir o investimento feito pelos seus pais, desde a infância no bairro de Rocha Miranda, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Confira a íntegra da entrevista com esta promessa do time de juniores do Flamengo:
Flamengo x Olaria - Foi uma vitória muito importante para a gente. Estamos vindo de uma sequência muito boa e no caminho certo para conseguirmos esse título do primeiro turno. Sabemos que ainda falta muita coisa, mas o grupo está unido, não tem vaidade, não tem soberba aqui e vamos lutar por esse título. Conseguimos abrir uma gordurinha na frente, mas não é por isso que vamos relaxar.
Artilharia – Eu fico muito feliz em fazer meus gols, sou atacante e minha função é essa, mas não faço nada sozinho e sei muito bem disso. É um prazer jogar com esse grupo, que é muito bom, muito unido, e eles me ajudam muito. Estou aqui para fazer o meu futebol e ajudar da maneira que puder.
Pressão e reconhecimento – Fico muito feliz em ver que a torcida já está me vendo com bons olhos, e as pessoas aqui dentro do clube também. É muito bom saber que estou sendo acompanhado pela comissão do profissional, agradeço também ao professor Rogério Lourenço, que me levou para a Seleção Sub-20, onde tive uma experiência muito boa. Acredito que esta fase de juniores é uma primeira etapa para o futuro que desejo, que é o profissional. Ser promovido é uma conseqüência de um bom trabalho na base.
Bom rendimento também como garçom – Eu costumava jogar sozinho no ataque aqui no Flamengo. Sempre joguei como o único centroavante, mas na Seleção Brasileira, com o professor Rogério, eu atuei ao lado de outro atacante, e isso me ajudou bastante, porque tive que sair um pouco mais da área, jogar pelos lados também, e isso me deu mais experiência para atuar assim. Acredito que fui bem, aproveitei a chance e agora estou fazendo isso aqui no Flamengo também.
Crias da base que não se firmam – Infelizmente, tenho amigos que estão no profissional, mas que não vem jogando. Fico triste por isso, mas sei que eles têm potencial e que vão render no futuro. Procuro trabalhar o máximo para quando tiver a minha oportunidade mostrar o meu futebol. Sei que tenho condições para isso e espero um dia poder estar no time principal, ajudando o Flamengo a conquistar muitos títulos.
Jogadores que servem de inspiração – Eu acompanho muitos jogos e muitos jogadores. Os principais são o Adriano e o Ronaldo, aqui no Brasil. Independente do que eles são fora de campo, da vida pessoal deles, estão sempre rendendo bem demais, ajudando as suas equipes, fazendo muitos gols... Espero um dia ser um jogador de alto nível como eles.
Início de carreira – Eu sou de Rocha Miranda, comecei em uma equipe de lá perto da minha casa mesmo, e depois acabei indo para o Vasco. Então, aconteceu uma coisa engraçada na minha carreira. Tive uma chance de ir para o Flamengo, e não pensei duas vezes. Escolhi meu time de coração. Agora já faz nove anos que estou aqui, e muito feliz.
Flamengo – É maravilhoso jogar aqui. Podem falar o que quiser do Flamengo, mas nenhum clube do mundo é como esse. Não tem sensação melhor do que jogar no Maracanã, vendo aquela torcida linda na arquibancada... Arrepia. É impressionante. Não tem torcida, nem um manto sagrado igual a esse.
Estilo de se vestir – Eu gosto de me vestir bem, e graças a Deus, as coisas estão melhorando e estou podendo me arrumar, ter uma condição financeira melhor e ajudar a minha família. Mas não é marra, soberba, nem nada disso.
Família – Meus pais sempre me ajudaram muito. Sou de origem humilde, nasci em uma comunidade, mas nunca deixei de ter apoio em casa. Então, um dos meus grandes objetivos no futebol é também ajudar a minha família. Jogo por mim, pelo meu coração, porque gosto muito de futebol, mas também pelos meus pais, que mesmo com todas as dificuldades sempre estiveram do meu lado. Agora estou começando a colher os frutos e espero fazer muito mais. Ficaria muito triste em não poder retribuir tudo o que eles fizeram por mim.
Jejum de títulos – Está mais do que na hora. Subi cedo para os juniores, quando ainda tinha idade de juvenil, então já faz dois anos que estou nessa categoria e o time ainda não conquistou nenhum título. Está engasgado sim e queremos muito conquistar esse Estadual. Espero continuar marcando gols para ajudar a equipe nos próximos jogos.
Importância dos títulos – Claro que o grande objetivo da base é formar jogadores. Mas, um grande jogador só é formado se também conquistar títulos e se for acostumado a ser vencedor. Aqui no Flamengo, desde cedo, nós aprendemos isso, e acho que é o certo. As vezes um jogador pode ter qualidade mas não estar acostumado às pressões, às decisões e não evolui na carreira.
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