Quando Jorge chegou ao Flamengo, ainda menino, com 11 anos,
foi Hugo, o garoto que os outros chamavam de Jajá, quem o ajudou. Elogiou o
novato no clube, apostou nele, deu força. Ali, começou uma amizade que dura até hoje e
atravessou até as fronteiras do Brasil: chegou à Nova Zelândia, onde a dupla
está com a seleção brasileira sub-20 para disputar o Mundial da categoria.
- Quando eu subi, foi ele que me deu moral. Falou para os
caras que eu jogava para caramba. Desde estes anos que a gente está junto, sempre
dentro de campo, se apoiando e ajudando um ao outro. Ele foi um dos que me
receberam, da melhor forma possível. E, hoje, a gente está aí, na seleção, no
Mundial, juntos sempre – contou o lateral-esquerdo Jorge.
Jajá e Jorge posam para foto durante treino da seleção sub-20 em New Plymouth (Foto: Felipe Schmidt)
A notícia de que eles estavam convocados para o Mundial foi
recebida no mesmo momento. Os dois haviam acabado de sair de um treino quando
Jorge viu o nome da dupla na relação. Após um momento de incredulidade, veio a
festa.
- Eu tinha até brincado com ele sobre a convocação. Depois
do treino, no vestiário, falei: “Estamos na convocação”. Ele não acreditou: “Deixa
eu ver, mentira, não estou acreditando”. Quando ele viu o nome dele, pulou em
cima de mim, demos um abraço um em cima do outro e fomos comemorar com todo
mundo – lembrou Jorge, com um sorriso no rosto.
A afinidade entre os dois é facilmente percebida nos treinos
da seleção. Estão sempre juntos, até mesmo nas atividades de aquecimento. No
hotel, dividem quarto, trocam acusações para dizer quem ronca mais, se provocam
em relação ao sucesso com as mulheres, mas se unem no gosto musical.
- O gosto é parecido.
Pagodão, às vezes um funk para soltar a cabeça, aquele samba. É sempre bom um
sambinha – completou Jorge.
Jajá é mais calado que o amigo. Toma cuidado com as palavras
e dificilmente sai do discurso padrão dos boleiros. Sua eloquência aparece
quando ele fala sobre sua afinidade com o companheiro em campo.
- Jogamos juntos desde os oito anos de idade. Eu já conheço ele
muito bem. Dou só uma olhada para ele, e ele já sabe onde vou colocar a bola
para ele.
Jajá e Jorge fazem dupla em aquecimento da seleção (Foto: Felipe Schmidt)
Clássico "tipo Flamengo x vasco" contra o Uruguai
No Mundial, porém, a dupla pouco jogou junta: apenas 45
minutos na vitória sobre a Hungria por 2 a 1. Na ocasião, Jajá entrou no
intervalo e teve boa participação na virada. Depois, foi titular contra a
Coreia do Norte, mas Jorge foi poupado. Contra o Uruguai, pelas oitavas de final, nesta quinta-feira, há boa chance de
eles, enfim, atuarem com mais frequência: o volante foi testado entre os
titulares no treino de terça.
Enfrentar o Uruguai significa viver uma partida tensa, com
provocações e muita rivalidade. A dupla não estava no Sul-Americano, quando, em
dois jogos, o Brasil não conseguiu vencer a Celeste – uma derrota e um empate.
Ainda assim, eles sabem o que esperar.
- Vai ser um bom clássico, tipo Flamengo x Vasco no Rio. Vamos
entrar com expectativa de ganhar sempre deles. Não temos nada a ver com o Sul-Americano, não estávamos
lá. É jogar e entrar para ganhar. A gente não se preocupa com isso (racismo,
catimba). Deixa falar à vontade. A gente só responde jogando na bola – afirmou Jajá.
Mas, se houver qualquer tensão, é bom saber que haverá um
amigo para defender o outro.
- Com certeza. Pode acontecer com qualquer um. Tem que estar
sempre atento. Deixar eles caírem na pilha, e a gente jogar nosso futebol –
completou Jorge.
Olho no Flamengo e confiança na diretoria
Apesar da concentração no Mundial, a dupla não deixa de
acompanhar o noticiário do Flamengo. As especulações sobre reforços para o
elenco principal mostram que vai ser difícil para os garotos ganharem uma vaga
a curto prazo. Jorge, por exemplo, tem quatro concorrentes na posição (Armero,
Anderson Pico, Thalysson e Pará). Jajá, por sua vez, poderia ser uma aposta
caseira para a posição de camisa 10, mas nem ele se vê assim com tanta certeza,
apesar de atuar desta forma na base rubro-negro.
- Só vejo que (os reforços) vão melhorar a qualidade da
equipe do Flamengo. Acho que não me vejo como um camisa 10. Estou jogando numa
posição que eu gosto muito, que é segundo volante. Espero respeitar a camisa
10, mas se me botar como 8 ou 5... E u quero ajudar a equipe da melhor forma
possível – garantiu.
- É sempre bom ter jogador de alto nível para ajudar a
equipe. Voltando, a gente vai trabalhar mais forte para poder estar lá no clube,
sempre treinando para poder jogar.
Juntos, Jajá e Jorge festejam título pela base do Flamengo (Foto: Gilvan de Souza/Fla Imagem)
Sobre as críticas à base do Flamengo, que há algum tempo não
revela um jogador de sucesso, os meninos dão de ombros. Sabem que são as novas
apostas, mas pregam tranquilidade e confiança no que a diretoria planeja para
eles.
- A gente tem sempre que manter a tranquilidade. O Flamengo
é uma equipe grande, forte, sabe do que faz. Temos que sempre manter o foco,
esperar a hora para ter oportunidade e saber aproveitar. O Flamengo sabe o que
faz. O que o Flamengo fizer, a gente está sempre concordando – disse Jorge.
- O pessoal que trabalha lá tem capacidade muito grande para
identificar os garotos. Tem muito garoto de talento. A gente vem trabalhando e
responde dentro de campo – completou Jajá, entrosado com o amigo.
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