terça-feira, 9 de junho de 2015

Gratidão, samba e futebol: dupla do Flamengo leva amizade para seleção sub-20

Quando Jorge chegou ao Flamengo, ainda menino, com 11 anos, foi Hugo, o garoto que os outros chamavam de Jajá, quem o ajudou. Elogiou o novato no clube, apostou nele, deu força. Ali, começou uma amizade que dura até hoje e atravessou até as fronteiras do Brasil: chegou à Nova Zelândia, onde a dupla está com a seleção brasileira sub-20 para disputar o Mundial da categoria. 

- Quando eu subi, foi ele que me deu moral. Falou para os caras que eu jogava para caramba. Desde estes anos que a gente está junto, sempre dentro de campo, se apoiando e ajudando um ao outro. Ele foi um dos que me receberam, da melhor forma possível. E, hoje, a gente está aí, na seleção, no Mundial, juntos sempre – contou o lateral-esquerdo Jorge. 

Jajá Jorge Brasil sub-20 (Foto: Felipe Schmidt) 
Jajá e Jorge posam para foto durante treino da seleção sub-20 em New Plymouth (Foto: Felipe Schmidt)

A notícia de que eles estavam convocados para o Mundial foi recebida no mesmo momento. Os dois haviam acabado de sair de um treino quando Jorge viu o nome da dupla na relação. Após um momento de incredulidade, veio a festa. 

- Eu tinha até brincado com ele sobre a convocação. Depois do treino, no vestiário, falei: “Estamos na convocação”. Ele não acreditou: “Deixa eu ver, mentira, não estou acreditando”. Quando ele viu o nome dele, pulou em cima de mim, demos um abraço um em cima do outro e fomos comemorar com todo mundo – lembrou Jorge, com um sorriso no rosto. 

A afinidade entre os dois é facilmente percebida nos treinos da seleção. Estão sempre juntos, até mesmo nas atividades de aquecimento. No hotel, dividem quarto, trocam acusações para dizer quem ronca mais, se provocam em relação ao sucesso com as mulheres, mas se unem no gosto musical. 

 - O gosto é parecido. Pagodão, às vezes um funk para soltar a cabeça, aquele samba. É sempre bom um sambinha – completou Jorge. 

Jajá é mais calado que o amigo. Toma cuidado com as palavras e dificilmente sai do discurso padrão dos boleiros. Sua eloquência aparece quando ele fala sobre sua afinidade com o companheiro em campo. 

- Jogamos juntos desde os oito anos de idade. Eu já conheço ele muito bem. Dou só uma olhada para ele, e ele já sabe onde vou colocar a bola para ele. 

Jajá Jorge Brasil sub-20 (Foto: Felipe Schmidt) 
Jajá e Jorge fazem dupla em aquecimento da seleção (Foto: Felipe Schmidt)
 
Clássico "tipo Flamengo x vasco" contra o Uruguai

No Mundial, porém, a dupla pouco jogou junta: apenas 45 minutos na vitória sobre a Hungria por 2 a 1. Na ocasião, Jajá entrou no intervalo e teve boa participação na virada. Depois, foi titular contra a Coreia do Norte, mas Jorge foi poupado. Contra o Uruguai, pelas oitavas de final, nesta quinta-feira, há boa chance de eles, enfim, atuarem com mais frequência: o volante foi testado entre os titulares no treino de terça. 

Enfrentar o Uruguai significa viver uma partida tensa, com provocações e muita rivalidade. A dupla não estava no Sul-Americano, quando, em dois jogos, o Brasil não conseguiu vencer a Celeste – uma derrota e um empate. Ainda assim, eles sabem o que esperar. 

Brasil x Coreia do Norte Mundial Jajá Sub-20 (Foto: AP)
- Vai ser um bom clássico, tipo Flamengo x Vasco no Rio. Vamos entrar com expectativa de ganhar sempre deles. Não temos  nada a ver com o Sul-Americano, não estávamos lá. É jogar e entrar para ganhar. A gente não se preocupa com isso (racismo, catimba). Deixa falar à vontade. A gente só responde jogando na bola – afirmou Jajá.

Mas, se houver qualquer tensão, é bom saber que haverá um amigo para defender o outro. 

- Com certeza. Pode acontecer com qualquer um. Tem que estar sempre atento. Deixar eles caírem na pilha, e a gente jogar nosso futebol – completou Jorge. 

Olho no Flamengo e confiança na diretoria

Apesar da concentração no Mundial, a dupla não deixa de acompanhar o noticiário do Flamengo. As especulações sobre reforços para o elenco principal mostram que vai ser difícil para os garotos ganharem uma vaga a curto prazo. Jorge, por exemplo, tem quatro concorrentes na posição (Armero, Anderson Pico, Thalysson e Pará). Jajá, por sua vez, poderia ser uma aposta caseira para a posição de camisa 10, mas nem ele se vê assim com tanta certeza, apesar de atuar desta forma na base rubro-negro. 

- Só vejo que (os reforços) vão melhorar a qualidade da equipe do Flamengo. Acho que não me vejo como um camisa 10. Estou jogando numa posição que eu gosto muito, que é segundo volante. Espero respeitar a camisa 10, mas se me botar como 8 ou 5... E u quero ajudar a equipe da melhor forma possível – garantiu. 

- É sempre bom ter jogador de alto nível para ajudar a equipe. Voltando, a gente vai trabalhar mais forte para poder estar lá no clube, sempre treinando para poder jogar. 


Flamengo campeão da OPG sobre o Botafogo (Foto: Gilvan de Souza/Fla Imagem) 
Juntos, Jajá e Jorge festejam título pela base do Flamengo (Foto: Gilvan de Souza/Fla Imagem)
 
Sobre as críticas à base do Flamengo, que há algum tempo não revela um jogador de sucesso, os meninos dão de ombros. Sabem que são as novas apostas, mas pregam tranquilidade e confiança no que a diretoria planeja para eles. 

- A gente tem sempre que manter a tranquilidade. O Flamengo é uma equipe grande, forte, sabe do que faz. Temos que sempre manter o foco, esperar a hora para ter oportunidade e saber aproveitar. O Flamengo sabe o que faz. O que o Flamengo fizer, a gente está sempre concordando – disse Jorge. 

- O pessoal que trabalha lá tem capacidade muito grande para identificar os garotos. Tem muito garoto de talento. A gente vem trabalhando e responde dentro de campo – completou Jajá, entrosado com o amigo.



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