Vale
tudo para conquistar um tricampeonato. Até mesmo madrugar. Para evitar
que o horário da segunda partida das finais do NBB 7, às 10h - incomum
no calendário da competição -, interfira no desempenho do time do
Flamengo em quadra, no próximo sábado, a comissão técnica carioca se viu
obrigada a mudar a rotina de seus jogadores. Por isso, os treinos
técnicos e táticos, considerados os mais importantes do dia, que
normalmente eram realizados na parte da tarde, passaram para o período
da manhã. Nesta quinta-feira, por exemplo, os rubro-negros levantaram da
cama às 6h30 em ponto e duas horas depois já estavam treinando no
ginásio Municipal Neuza Galetti, palco do confronto entre cariocas e
paulistas.
Comissão técnica do Flamengo tem se destacado utilizando um método de trabalho multidisciplinar (Foto: Marcello Pires)
Responsável
pela preparação física do elenco rubro-negro e fiel escudeiro do
técnico José Neto, com quem trabalha desde 2007, Diego Falcão sabe o
quanto é complicado mudar os hábitos de atletas profissionais,
especialmente os de basquete e futebol, acostumados a jogar quase sempre
à noite e dormir até mais tarde no dia seguinte.
No entanto,
Diego Falcão faz questão de lembrar que o horário de se recolher não é a
única mudança que atinge a rotina dos jogadores nesse período decisivo.
-
É muito difícil para qualquer atleta que está acostumado a jogar à
noite e dormir tarde mudar esse relógio biológico. Mas isso implica
também na disciplina alimentar, no descanso da tarde e, principalmente,
na hora de despertar. Nossa estratégia é marcar os treinos nessa época o
mais cedo possível para que os jogadores não sintam tanta diferença
durante os jogos - explicou o preparador físico do Flamengo.
Com um calendário apertado e uma programação cheia, que incluiu as partidas pela pré-temporada da NBA, o Campeonato Carioca e a Liga das Américas, Diego reconhece que o planejamento desta vez sofreu um certo atraso e não pôde ser tão bem executado como nos anos anteriores. A razão é simples, falta de tempo.
- Nos dois últimos NBBs nós mudamos
nossa rotina desde que soubemos que éramos finalistas, mas como na atual
temporada chegamos a jogar até três vezes em uma semana, só teremos
dois dias para se adaptar ao horário da partida de sábado - afirmou.
Diego
ressalta ainda que essa mudança não esbarra apenas no trabalho da
preparação física e destaca o trabalho multidisciplinar que é realizado
no basquete rubro-negro, no qual cada um tem seu dever e sua
importância. Além da confiança que o técnico José Neto deposita em cada
membro de sua comissão, um não interfere na área do outro.
Derrotado
apenas três vezes desde a eliminação para o Pioneros no Final Four da
Liga das Américas, em março - uma para o Bauru no segundo turno da fase
de classificação e duas para São José, na primeira rodada dos playoffs
-, o Flamengo chegou às finais sobrando fisicamente. O planejamento já
previa isso, mas Falcão deixa a vaidade de lado e divide os méritos do
sucesso com o restante do grupo.
- Seria um grande erro se eu
dissesse que o time está voando em função do trabalho da preparação
física. O segredo do Flamengo é o trabalho multidisciplinar. Todos aqui
são importantes, desde o José Neto até nosso mordomo (roupeiro). A
chegada do Rodrigo (auxiliar) na temporada passada, por exemplo, era a
peça que faltava. Ele é um cara que entende muito de basquete e completa
o trabalho do Neto passando os scouts (estatísticas) dos adversários e
todas as variações que podemos enfrentar em cada jogo. Ele sabe a hora
certa de falar e tem sido muito importante - destacou.
Não é
à toa que desde que desembarcou no Rio de Janeiro, o técnico José Neto
coleciona números impressionantes. Em nove decisões, incluindo os fases
finais (Final Four), o comandante rubro-negro só não levou o Flamengo ao
título em duas oportunidades. No Final Four da Liga Sul-Americana,
disputado em 2012 em Corrientes (ARG), quando a equipe perdeu para
Brasília, e no Final Four da Liga das Américas desse ano, quando os
então atuais campeões foram surpreendidos para o Pioneros (MEX).
José Neto conversa com o todo o elenco do Flamengo antes do primeiro treino em Marília (Foto: Marcello Pires)
Mas
assim como não costuma se desesperar a cada derrota, José Neto também
não se agarra às conquistas do passado. Sempre olhando para frente, o
comandante rubro-negro tem conseguido motivas seu grupo a encarar novos
desafios usando o velho chavão de que o mais difícil é se manter no
topo.
- Tento passar para eles que não podemos ficar presos às
conquistas e derrotas do passado. Nosso foco é sempre o próximo jogo, a
próxima competição. Tudo que fizemos foi especial, ficou marcado e
ninguém vai apagar. Mas não podemos nos acomodar, a cada competição as
exigências técnicas são maiores e os adversários mais duros. Eu nem
sabia desses números, mas se estamos conseguindo nos manter no topo por
tanto tempo é muito por mérito desse grupo. Eles sabem o que é preciso
para vencer - disse José Neto, que não relaxa nem após a vitória por 91 a
69 no primeiro jogo.
- Não consigo sentir esse conforto que
as pessoas falam por termos vencido a partida no Rio de Janeiro. Fizemos
apenas a nossa parte, pois ainda precisamos ganhar um jogo fora de
casa para garantir o título. Nada mudou, o campeão só será conhecido
após duas vitórias.
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