Os jogadores do Flamengo dificilmente ouvirão
berros e palavrões de Cristóvão Borges. O que não significa que o
educado treinador
não saiba ser exigente. Cristóvão é discreto, bem diferente do estilo de
Vanderlei Luxemburgo, seu antecessor. Cobra como qualquer outro
técnico,
mas nunca diante das câmeras. Os problemas internos também não saem do
clube
pela boca dele. Foi assim durante os 11 meses em que esteve no
Fluminense, seu
trabalho mais recente. Chegou às Laranjeiras no ápice da guerra
declarada entre a
diretoria e o patrocinador da época e teve de administrar a briga de
egos.
Consequentemente, precisou conter a insatisfação de um grupo que tinha
vários
jogadores com direitos de imagem em atraso e estavam em fim de contrato e
sem
saber do futuro.
Cristóvão
Borges chega ao Flamengo depois de ficar 11 meses no Flu e dois meses
desempregado (Foto: Richard Souza / GloboEsporte.com)
Cristóvão é um estudioso. Demitido pelo Tricolor
no fim de março, não parou de trabalhar. As reuniões com seu auxiliar técnico,
Cassiano de Jesus, são quase diárias. Estudam métodos de treinos e dinâmicas de
jogo dos principais treinadores do mundo. Recentemente, foi à Europa para
assistir a dois jogos da Liga dos Campeões. Comprovou o que via pela televisão:
a organização do futebol brasileiro ainda engatinha dentro e fora do campo.
Aos 55 anos, o técnico, que também trabalhou no
Bahia e no Vasco, ainda busca um título. Em 2011, no Cruz-Maltino, foi eleito o
melhor treinador do Campeonato Brasileiro. Ano passado, no Fluminense, classificou
o time para a Libertadores da América. Durante boa parte do Brasileirão, conseguiu
armar um time competitivo e que jogava bonito.
- Eu quero fazer meu time jogar o futebol
brasileiro, mas para isso é preciso fazer correções. Estudo para aprender meu
método de treinamento para fazer a equipe jogar como quero. Vejo os times que
fazem coisas que me identifico para saber como se preparam. Procuro saber como
é o trabalho de vários treinadores. No Fluminense, antes da Copa (do Mundo),
consegui fazer isso. Foi minha maior felicidade. Só que, por outro lado, também
vi que é possível só se tiver a condição que o Cruzeiro teve e fez. O Tite está
fazendo a mesma coisa, mas já está sofrendo (no Corinthians). Faz o time dele
jogar com intensidade, marcação pressão... tudo isso. Isso que precisamos para
jogar no mesmo nível dos melhores times do mundo – disse, em entrevista ao
GloboEsporte.com em 11 de maio, quando ainda estava sem clube.
No Fluminense, Cristóvão teve de administrar o
mau momento do atacante Fred, que fracassou com a seleção brasileira na Copa do
Mundo. Na volta do jogador ao Tricolor, chegou a deixá-lo no banco para que
recuperasse a confiança e a forma física. Também foi importante na reação do
meia Wagner, que viveu seu melhor momento no clube com o treinador.
Integrar garotos ao time profissional, casos de
Marlon, Kenedy, Gerson e Robert, também foi um desafio. Pouco a pouco,
transformou os três primeiros em titulares, naquela que foi a melhor formação
que conseguiu para o time após a virada de 2014 para 2015, já sem Darío Conca,
Rafael Sobis e Cícero, nomes importantes que deixaram as Laranjeiras.
A missão de controlar o peso e o destempero do
atacante Walter, hoje no Atlético-PR, também caiu no colo do treinador. Foi
preciso paciência e pulso firme.
Cristóvão recebeu a reportagem do GloboEsporte.com na casa dele no dia 11 de maio (Foto: Richard Souza / GloboEsporte.com)
- No Fluminense, o que vendia era o Fred e o
peso do Walter. Num jogo contra o Palmeiras, no Brasileiro, nós vencemos em um
jogo sensacional, que nos exigiu muito. Aí tinham jogadores com cãibras, e eu
não pude substituir taticamente, era mais na questão física. Fiquei guardando
uma mexida até o final e acabei não fazendo. Aí alguém (jornalista) viu o bico
que o Walter ficou e perguntou o motivo de ele não ter entrado. Não lembro a
resposta, mas ele se mostrou descontente. Aquilo levou uma semana sendo
discutido. Esperei passar uns dias e coloquei ele de frente para mim na minha
sala e perguntei: o que foi? Qual o motivo do bico? Expliquei como funciona o
pensamento do treinador. Disse que tinha jogadores com problemas físicos e eu
não podia arriscar. Ele entendeu e disse que eu estava certo. Falei para ele
que de burro eu não tenho nada, que não posso brigar com jogador, que é quem
resolve para mim dentro do campo. Eu estive dentro de campo por 17 anos e
aprendi muita coisa, já sei do filme do início ao fim. Não tive problema com
jogador nenhum – contou.
O vice de futebol do Flamengo, Alexandre Wrobel,
disse que recebeu as melhores referências sobre Cristóvão, que assina com o
clube até o fim de 2015. Na chegada ao Rubro-Negro, vai reencontrar o
diretor executivo Rodrigo Caetano, com quem trabalhou no vasco em 2011. Entre
os jogadores, revê Alecsandro. O atacante, aliás, era um dos principais
entusiastas da contratação. Eles também trabalharam juntos em São Januário.
A apresentação ocorre nesta quinta-feira, no
Ninho do Urubu, após o treino da tarde, marcado para 16h. A estreia será no
domingo, justamente contra o ex-clube. Flamengo e Fluminense jogarão no
Maracanã, às 18h30, pela quarta rodada do Brasileirão.
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