domingo, 18 de outubro de 2009

Andrade ainda acredita em título do Flamengo

Em seu hábitat natural, o Maracanã, Andrade disse não haver espaço para oba-oba, na Gávea. Mas, feliz e confiante no elenco que tem, entende que, se o Flamengo vencer o Palmeiras neste domingo, o título deixa de ser um sonho distante e pode, sim, tornar-se algo palpável, embora muito difícil de ser alcançado.

Em entrevista exclusiva, nas numeradas do maracanã, o volante do maior time da história do Flamengo e do Mundo e atual treinador do clube contou que teve de dar um castigo em Zé Roberto e que os garotos das divisões de base têm se perdido em meio a presunção e a empáfia.

Roberto Assaf: Você acredita que existe a real possibilidade de o Flamengo ser campeão?

Não podemos descartar essa hipótese. Se vencermos o Palmeiras, o campeonato fica em aberto. Se ganhar, a diferença de nove pontos cai para seis. Mas tem muita gente na briga. Então, não é festa nem oba-oba. É continuar com o trabalho ponto a ponto.

Bruna Oliveira: O Toró comentou que você trouxe outro clima parao clube, depois da saída do Cuca. O que o Andrade faz para deixar os jogadores à vontade?

Eu não vou impedir ninguém de fazer uma grande jogada. Eu incentivo o Zé (Roberto) a ir para cima do adversário. Eu sempre falo: “Se tiver no mano a mano não pense duas vezes. Arrisque!” Eu deixo sempre o jogador muito à vontade. Sempre tem muita conversa. Não existe disse que disse. O jogador de futebol gosta de franqueza.

Carlos Monteiro: Você era visto com desconfiança. Em algum momento sentiu-se desprestigiado?

Isso aconteceu. Inicialmente, você é funcionário do clube. Depois, você está em começo de carreira. As pessoas te olham com desconfiança. No primeiro resultado que não vem, elas falam: “Foi precipitada a efetivação do Andrade”. Isso acontece. O clube no qual você trabalha, às vezes, não te valoriza. Valoriza apenas os profissionais que vêm de fora. Aconteceu justamente o que eu previa. Peguei um time forte e os resultados apareceram. Hoje, eu me sinto uma pessoas realizada.

RA: Se o time terminar no G4 ou, com uma dose de sorte, for campeão, você deve permanecer para a próxima temporada?

Espero que isso aconteça. Trabalho para isso. Disputar uma Libertadores pelo Flamengo é interessante para qualquer profissional. Isso valorizaria muito meu início de carreira. Futuramente, posso não não estar no Flamengo, mas vou ter um mercado aberto.

RA: É verdade que você torcia pelo Botafogo na infância?

Sou de Juiz de Fora e peguei o Botafogo na época de Jairzinho, Fischer, Paulo Cesar... Era o time do momento. Quando eu era guri, eu gostava de ver o Botafogo jogar, sim. Mais tarde, vim para o Flamengo. Passei 15 anos no clube, que passou a ser a minha segunda casa.

CM: No Flamengo é mais fácil se identificar por conta da força da torcida?

Aqui tudo é mais fácil. Ser querido, amado ou odiado. Se o torcedor gostar, tudo bem. Caso contrário, você tem vida curta. Aqui tudo acontece muito rapidamente, em grande proporção. Ou vira ídolo ou cai em desgraça.

RA: Qual a fórmula para evitar a máscara dos jogadores que saem da base do Flamengo?

Isso acontece por falta de comando. Às vezes, passam a mão na cabeça deles. Agora, mudou. Houve um tempo em que os meninos achavam que mandavam no Flamengo. Esse jogadores, dos quais eu falo, não estão mais no clube. Alguém, no lugar de ajudá-los, atrapalhou e eles não vingaram. Muitos não eram cobrados. Era preciso um puxão de orelha. Eles achavam que podiam tudo, até trocar treinador. Tinha uma safra boa, mas que se perdeu.

RA: O que você fez para salvar o Zé Roberto?

Paciência e um puxãozinho de orelha. Eu o deixei dois jogos fora, até para ele ter consciência de que é um grande jogador. Ele voltou por méritos dele, pela qualidade que tem. Sempre foi um grande jogador. Faltava somente querer.

CM: O Flamengo subiu de produção com a entrada do Petkovic. Era o toque de qualidade que faltava?

Acho que a importância do Pet é muito grande, mas há outros grandes jogadores também. O Zé Roberto voltou a jogar, o Adriano começou a desequilibrar, o Léo Moura, que não vinha bem, reencontrou a velha forma, o Everton estava voando e o Álvaro se encaixou com o Angelim. O resultado é que estamos há oitos jogos sem perder. Então, o Pet é muito importante, mas o time todo voltou a jogar bem.

BO: Como é o puxão de orelha do Andrade?

É a cobrança com o Pet, quando ele começa a bater os escanteios diretamente para o gol. Aí eu peço: “Alterna. Bate uma hora mais atrás para tirar os zagueiros da área.” É a cobrança com o Juan também para ele se ligar na saída alternada, porque não dá para os dois laterais saírem juntos. Nada além disso.

BO: Vira e mexe tem um jogador nas páginas de fofoca, envolvido em alguma confusão fora de campo. Seja Adriano ou Bruno...

Procuro não me meter na vida pessoal dos jogadores. Eles são adultos e sabem o que fazem. Procuro sempre dar um toque para eles cuidarem da imagem. Tem de saber a hora de fazer as coisas. Eu já fui jogador também e procuro pedir para que tenham mais atenção a isso. Não pode ficar em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa.

RA: Quem era seu ídolo no futebol quando começou?

Quando eu era garoto, o Jairzinho. Depois, quando entrei no Flamengo, passei a admirar o Zico, como profissional e chefe de família.

CM: O seu ídolo foi um cara que jogou junto com você. Como é isso?

Eu estava ali no time do Flamengo e vi tudo de perto. Vi ele fazer coisas que ninguém esperava. Apenas ele sabia resolver em algumas situações. O Zico era realmente fora de série.

CM: Qual foi o jogo que você percebeu que ia entrar para história?

Foi na final do Brasileiro de 1981 contra o Atlético Mineiro. Metade do time deles era da Seleção. Aquela final ali foi a confirmação do grupo rubro-negro e a minha também. Ali eu pensei: “Nosso time é bom mesmo. É o melhor.” O único que podia nos bater era o Atlético e não conseguiu.

BO: De onde você tira tamanha tranquilidade?

É coisa de mineiro, né? Sei que a pressão existe, mas é da minha personalidade. Sei que represento 35 milhões de pessoas, mas o time que eu tenho me dá essa tranquilidade. Aproveitando a brecha, falamos de Pet, Adriano... mas esquecemos de um fator importante: a torcida do Flamengo. O time com a nação fica quase imbatível. É difícil ganhar da gente no Maracanã.

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