Se
o Flamengo em 2014 pode ser visto como A.L. e D.L. (antes e depois de
Luxemburgo), com o treinador não é diferente. O retorno ao clube de
coração foi a oportunidade ideal para retomar o prestígio no mercado
depois de uma temporada ruim seguida de oito meses parado. Moral que o
fez receber e recusar neste fim de ano uma proposta do Internacional
para comandar os gaúchos na Libertadores. O principal torneio da América
do Sul está no planejamento de Luxa, mas em 2016 e com o Rubro-Negro –
mesmo tendo contrato só até o fim de 2015, quando termina a primeira
gestão de Eduardo Bandeira de Mello. Mas a confiança no trabalho que vem
sendo conduzido é tamanha que vale a pena a aposta tanto para a
diretoria quanto para a comissão técnica. Um "projeto" – palavra muita
usada pelo comandante – que caminha amparado por jogadores e torcida e
sobreviveu sem arranhões à dolorosa eliminação na Copa do Brasil.
8 meses parado: "freela" na Copa e paz com Edmundo
A
má temporada em 2013, com direito a demissões no Grêmio e Fluminense,
deixou Vanderlei Luxemburgo na geladeira no início do ano. Ofertas de trabalho só no exterior,
mas nada que tenha ido para frente. O treinador só voltou a ser
especulado no mercado nacional em maio, quando o Palmeiras o procurou
para ser o substituto de Gilson Kleina. A negociação, no entanto, não avançou por vontade dos próprios dirigentes alviverdes, que concluíram que Luxa não seria o nome mais apropriado para assumir a equipe naquele momento. A situação do técnico fez despertar até um sonho do Bragantino,
clube pelo qual foi campeão Paulista em 1990. Porém, ele seguiu fora do
futebol e atacou de comentarista durante a Copa do Mundo por um canal
de TV a cabo no Brasil.
Nesse período, Luxemburgo iniciou uma reaproximação com Edmundo.
No dia 13 de julho, no Maracanã, antes da final da Copa do Mundo, ambos
trabalharam como comentaristas e se encontraram no centro de
imprensa. A relação entre os dois historicamente tem brigas e
reconciliações. O último episódio foi uma cobrança judicial feita pelo
ex-atacante, relativa a dois cheques que recebeu do atual técnico do
Flamengo, cada um no valor de R$ 200 mil. O Animal alegou que não havia
fundos. Na versão de Luxa, ele pagou e não teve recibo. Em 2011, a
Justiça determinou o pagamento de uma dívida de quase R$ 2 milhões ao
ex-atleta.
"Freela": Vanderlei Luxemburgo atacou de comentarista da Copa do Mundo no Brasil (Foto: Fabio Rossi / Ag. O Globo)
"Convocação": volta ao Fla e lua de mel com torcida
A
luz potente da lanterna do Campeonato Brasileiro fez o Flamengo
recorrer novamente a Luxemburgo dois anos depois da última passagem – e
mesmo com ele tendo sido opositor da atual diretoria nas eleições de
2012. Em avaliação interna, o
treinador foi considerado "malandro" para lidar com o grupo e
suficientemente forte para aguentar a pressão da torcida e da mídia.
Além disso, fugiu da exigência por reforços e garantiu a fuga do
rebaixamento. Em sua apresentação oficial, admitiu que profissionalmente
seria uma boa oportunidade e tratou o convite rubro-negro como uma
"convocação".
E uma das primeiras atitudes do comandante ao ser apresentado foi convocar a torcida para abraçar o time na missão contra o rebaixamento – dias antes, torcedores se envolveram numa confusão, com suspeita de agressão, com o lateral-esquerdo André-Santos na saída do Beira-Rio, logo após a derrota por 4 a 0 para o Internacional. A resposta para Luxa foi imediata. No primeiro treino na Gávea depois disso, vários rubro-negros compareceram e incentivaram os jogadores. Além disso, em enquetes realizadas pelo GloboEsporte.com, 83,5% dos votos aprovaram a contratação do técnico e 52% apostaram que ele tiraria o time do Z-4 em até cinco rodadas.
E o reconhecimento veio em forme de gritos das arquibancadas. Ainda no fim do primeiro turno do Campeonato Brasileiro, no triunfo por 2 a 1 sobre o Vitória em Salvador – resultado que deixou o time a sete pontos de distância para a zona de rebaixamento –, a torcida entoou o nome de Luxemburgo em forma de agradecimento no Barradão.
Bê-a-bá de Luxa: A "confusão" e A "caixinha virtual"
Considerado técnico que "fala a língua dos jogadores", no jargão do futebol, Luxemburgo foi além e adotou palavras para lidar com a imprensa em meio à pressão no clube. No bê-a-bá do treinador, ele cunhou a expressão "sair da confusão" para não falar "zona de rebaixamento", termo considerado pesado pelo comandante. Tudo pelo lado psicológico. Para consumo interno, também criou a "caixinha virtual" onde colocou temas e planejamentos para serem discutidos com a diretoria mais tarde, a fim de não atrapalhar a reação da equipe no Campeonato Brasileiro.
Papel de "pai": a contratação de Anderson Pico
Em setembro, Luxemburgo fez também fez as vezes de "pai" no Flamengo durante a contratação de Anderson Pico.
O lateral-esquerdo, então desempregado, viajou de Porto Alegre ao Rio
de Janeiro de ônibus para pedir ajuda a quem já havia sido seu
comandante no Grêmio em 2012. Apesar do histórico de problemas do
jogador – a quem Luxemburgo já chamou de "fio desencapado" –, o
treinador aceitou o desafio. E teve papel fundamental na recuperação do
futebol do atleta, que terminou o ano como um dos destaques do time.
Desde que chegou ao clube, já perdeu 15kg e disse que Luxa é "como um
pai" para ele.
Assalto, eliminação e protesto: a fase conturbada
Mesmo num ano de redenção, nem tudo foram flores, e o técnico enfrentou uma fase conturbada, com direito até a assalto em seu carro na Barra da Tijuca,
Zona Oeste do Rio de Janeiro – o
assaltante levou o seu relógio. Mas o pior momento foi nos gramados,
especificamente no jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil, contra o
Atlético-MG no Mineirão. O técnico foi apontado como o principal
culpado pela eliminação rubro-negra pelas substituições que fez na
partida: colocou Elton e Matheus nos lugares de Nixon e Everton,
respectivamente, quando o time ainda conseguia segurar o resultado que
lhe era favorável.
Luxemburgo
também foi criticado por não ter poupado o time contra a Chapecoense,
três dias antes da partida – o Fla venceu por 3 a 0 e praticamente
espantou o risco de rebaixamento àquela altura do campeonato. Na volta
da delegação ao Rio após a eliminação na Copa do Brasil, ele virou alvo
de protestos de torcedores no aeroporto. Alguns rubro-negros culparam o
treinador pelo resultado e gritaram contra o comandante, que precisou
ser acompanhado por seguranças no trajeto até o ônibus do Flamengo.
Projeto 2015: contrato assinado e "não" ao Inter
Apesar
das críticas, a imagem com que Luxemburgo termina a temporada não foi
arranhada. O treinador superou o momento conturbado, manteve o prestígio
com grande parte da torcida e começou a planejar 2015 com
antecedência – antecipou até os exames médicos da pré-temporada. E, enfim, assinou seu contrato
após divergência com a diretoria sobre uma cláusula que previa a cessão
de ingressos e camisas por jogo ao comandante. A cabeça no Fla o fez recusar até proposta do Internacional para a disputa da Libertadores no ano que vem.
Luxemburgo disse não ao Internacional: "Meu compromisso é com o Flamengo" (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)
E
o planejamento para a próxima temporada inclui a remontagem da dupla
com Rodrigo Caetano, contratado no início do mês como o novo diretor
executivo do Flamengo. Juntos, os dois não tiveram bons resultados no
Fluminense em 2013, mas se mostram empenhados para o novo desafio render
frutos e iniciaram as conversas. Em sua apresentação oficial, o dirigente elogiou o técnico e comentou a grande expectativa para o trabalho conjunto.
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