Instaurada uma crise política no Flamengo por causa dos preços de ingressos,
os resultados financeiros da partida com o Corinthians jogam contra
Luiz Eduardo Baptista, o Bap, vice-presidente de marketing, e a favor de
Alexandre Wrobel, vice-presidente de futebol. Com o tíquete médio mais
caro de todos os jogos que fez no Maracanã entre Campeonato Brasileiro e
Copa do Brasil, o clube levou menos torcedores ao estádio do que quando
jogou com preços promocionais e não conseguiu compensar com mais
receita líquida.
O Flamengo reduziu os preços para os confrontos com Botafogo, Sport,
Atlético-MG e Grêmio no Brasileiro, cujos tíquetes médios ficaram entre
R$ 27 e R$ 29, e contra o Coritiba, pela Copa do Brasil, quando a
entrada custou em média R$ 23. No melhor resultado entre as duas
competições, diante dos gremistas, os cariocas receberam 59 mil pagantes
no Maracanã e tiveram receita líquida de R$ 607 mil, descontadas
despesas da partida e penhoras.
Contra o Corinthians, apesar de Wrobel ter prometido quando foi
apresentado na vice-presidência de futebol que o Flamengo não aumentaria
preços de ingressos, Bap insistiu para que as entradas ficassem mais
caras. É, na lógica do vice-presidente, um modo de aumentar a receita
com bilheterias e privilegiar – e incentivar associações – de
sócios-torcedores. O tíquete médio subiu para R$ 40,02. A torcida
compareceu em menor número, 36,9 mil, e a receita líquida foi inferior
ao jogo com o Grêmio, R$ 458 mil. Certamente não funcionou como esperava
o dirigente.
O dinheiro empatou com o arrecadado diante do Botafogo, quando o
preço esteve mais baixo. Na ocasião, 52 mil torcedores foram ao Maracanã
e geraram receita líquida de R$ 434 mil.
Jogos com Sport, Atlético-MG e Coritiba renderam menos, com receitas
líquidas de R$ 293 mil, R$ 272 mil e R$ 49 mil, respectivamente. Algo
absolutamente natural que, diante de rivais menos populares que
Botafogo, Grêmio e Corinthians, o resultado financeiro ficasse abaixo
desses três. Público e receita dependem de preço, mas também da
qualidade do espetáculo.
As meias razões de Bap
O vice-presidente de marketing flamenguista não está errado em arriscar o aumento dos preços para enfrentar o Corinthians. É, afinal, o segundo clube com mais torcida no país, e o futebol vive momento bom suficiente para empolgar torcedores cariocas e aumentar ganhos.
Mas Baptista também não está totalmente correto. Privilegiar
sócios-torcedores tem sentido, pois uma entrada cheia mais cara aumenta a
atratividade da meia. Mas, ao mesmo tempo, ter um Maracanã lotado
também privilegia o associado, pois ele tem preferência na compra do
ingresso. Há, no fim das contas, argumentos razoáveis relacionados a
sócios para ambos os lados.
E, principalmente, Bap pode ter se decepcionado em esperar que um
jogo contra o Corinthians no Brasileiro tivesse o mesmo efeito que
tiveram as últimas partidas do clube na Copa do Brasil de 2013. Um
tíquete médio de R$ 141 na final com o Atlético-PR rendeu lucro de R$
4,7 milhões, ambos valores absurdamente altos para o padrão brasileiro, e
mesmo semifinais e quartas com Goiás e Botafogo deixaram R$ 1,5 milhão e
R$ 1,2 milhão com ingressos a R$ 60 e R$ 49.
Aparentemente, fases decisivas de uma Copa do Brasil são mais
desejadas pela torcida flamenguista do que jogos populares do
Brasileiro. Esta deve ter sido a desagradável surpresa de Bap.
O erro de toda esta história
Não há mal nenhum em aumentar custos de ingressos em partidas mais chamativas. Preços flutuam de acordo com a qualidade do espetáculo não só no futebol, mas na indústria do entretenimento. Desde que estejam em um meio termo que consiga casa cheia ao mesmo tempo em que maximiza receitas, está tudo certo. Este é o ideal. Isso é negócio.
O que pega mal para o Flamengo é ter uma promessa pública do
vice-presidente de futebol quebrada pelo vice-presidente de marketing
pouco tempo depois. A torcida se sente enganada, um dirigente de alto
escalão sai desprestigiado, e o mercado fica com a impressão de não
haver coesão na cúpula flamenguista. Bastava combinar tudo antes de ir a
público.
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