quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Intocável e irregular, João Paulo vira o 'queridinho' dos técnicos no Flamengo

 

O corte mal feito no passe de Marlone que resultou no gol de Willie, do vasco, no clássico de domingo, em Brasília, colocou João Paulo em evidência no Flamengo. A falha custou dois pontos ao Rubro-Negro na tabela do Brasileirão, e puxou os holofotes para um jogador que, se não encanta o torcedor, tem sido intocável na equipe titular, seja quem for o treinador. Os números mostram isso: o lateral-esquerdo esteve em campo em 44 dos 52 compromissos do time em 2013. O rendimento, no entanto, foi discreto - pelo menos em termos ofensivos: dois gols e quatro assistências.

Contratado ao Mogi Mirim, após se destacar pela Ponte Preta no Brasileirão do ano passado, João Paulo foi beneficiado pela expulsão de Ramon, então titular, logo na primeira rodada do Carioca. A partir daí, assumiu a posição e não saiu mais com Dorival Júnior. A chegada de Jorginho representou seu período mais complicado, mas a passagem pelo banco de reservas foi curta. Bastou Mano Menezes ser contratado para escalá-lo entre os 11 iniciais já no primeiro treinamento e assim permanecer quase que de forma ininterrupta até o pedido de demissão - Samir foi improvisado no setor em duas oportunidades.

Neste período, suas sombras alternaram: Ramon seguiu para o Besiktas e André Santos chegou ao clube. Nada mudou. Reforço com status de Seleção, o camisa 27 foi deslocado para o meio, com João Paulo seguindo como titular, em panorama que permanece com Jayme de Almeida. Em entrevista, o treinador já falou que não pensa em usar André na lateral até o fim da temporada por questões físicas, o que dá tranquilidade ao atual dono da posição, mesmo que tenha sido "culpado" pelo próprio comandante pelo empate com o vasco.

 A falha, por sinal, não é algo que tire o sono de João Paulo. O lateral sabe que errou, não há como negar, mas trata o lance com naturalidade. Em análise, assume sua parcela de culpa e coloca o foco já no confronto com o Internacional, quinta-feira, no Maracanã.

- Foi um lance normal de jogo. Pode acontecer com qualquer jogador. Infelizmente, era eu que estava tentando cortar a bola, mas poderia ser outro. São coisas do futebol. Fico triste por ter acontecido, mas tenho que levantar a cabeça e partir para outra. Não tem muito tempo para ficar pensando. 
Quinta-feira já temos outro jogo e tenho que focar no Internacional. Foi uma infelicidade. Se eu deixo a bola correr, o adversário vinha de frente e eu não ia conseguir chegar. Tentei interceptar, mas não deu. É normal. Empatamos, não era o que queríamos, mas tranquilo.

A tranquilidade do lateral vem muito do retorno que tem tido dos treinadores ao longo de sua passagem no Flamengo. Ciente de que nunca foi unanimidade entre os torcedores, João Paulo se mostra satisfeito com a primeira temporada no Rubro-Negro.

- Passaram quatro técnicos e com todos eu joguei, todos me deram oportunidades. Agora, tenho jogado direto, já que o Jorginho me tirou em determinado momento. Lógico que é bom aparecer para o torcedor, mas tenho que ficar tranquilo e não deixar que isso atrapalhe. Tenho jogado, tenho feito o meu melhor, e os treinadores têm reconhecido isso. O ano em si está sendo muito bom para mim. Vim com um pensamento de fazer parte do grupo, mas, graças a Deus, já são 44 jogos mostrando o João Paulo para todo mundo. Fico feliz. Tive altos e baixos, o que é normal para qualquer jogador.

As características ofensivas que o fizeram se destacar na Ponte Preta, por sua vez, ainda não apareceram no Rio de Janeiro. A justificativa do camisa 16 está na disposição tática do Flamengo. Atuando com pontas abertos desde o início da temporada - Rafinha, Gabriel, Nixon, Paulinho e Carlos Eduardo já desempenharam este papel -, o time tem utilizado os laterais mais defensivos, o que explica também o fato de Léo Moura ter apenas três assistências em 40 exibições.

- Vejo muito pelo trabalho do treinador e respeito o que me pedem. Tenho jogado em uma formação diferente do ano passado, na Ponte, quando pude atacar bastante. Assim, podia dar bastante assistência e até fazer gols. Aqui, estou mais retraído pelo esquema, mas depende mesmo da situação do jogo. Tenho que ficar tranquilo, porque uma hora as coisas vão acontecer. Só trabalhando e acertando o que é necessário que as coisas vão evoluir. Sinto falta por ser ofensivo, é minha característica.

Defensivamente, porém, o lado esquerdo está longe de ser o ponto forte do Flamengo. Se João Paulo tem sido quase intocável, Samir, Wallace, González e, contra o Inter, Frauches já formaram a defesa naquele setor. Contra o Corinthians, por exemplo, três dos quatro gols sofrido saíram por ali, o que evidencia uma fragilidade.

- Quando se mexe muito, estamos sujeito ao erro. Mas temos que ficar tranquilos. Quando há trocas, conversamos bastante em campo para minimizar os erros. Acho que em campo tenho feito o que me pedem. Até porque, se não fosse assim, não continuaria como titular. Lógico que vez ou outra acontecem erros, mas não podemos nos abater - avaliou o lateral.

Enfim, o Rio de Janeiro

Altos e baixos à parte, a temporada no Flamengo tem tido também uma realização pessoal para João Paulo. Carioca, o lateral saiu cedo de casa para tentar a sorte no futebol e rodou bastante. Até o retorno para casa, passou por times de Minas Gerais, São Paulo, Brasília, Rio Grande do Sul, Paraíba, Santa Catarina e Bahia.

- Saí do Rio cedo, com 13 anos, rodei, fui para Minas para poder jogar... Voltar com 27 é uma grande realização, um sonho que estou vivendo. É maravilhoso, até por ser flamenguista. Quando acontece alguma coisa, fico chateado também como torcedor.

Por fim, o lateral de 27 anos projeta um 2014 ainda melhor. Com mais um ano de contrato com o Flamengo, sonha em marcar mais gols, principalmente em cobranças de faltas, e, principalmente, conquistar títulos.

- Foi um ano em que aprendi muito o que é o Flamengo, essa turbulência toda. Qualquer coisinha, sai matéria na mídia. Espero que possamos voltar diferentes no ano que vem para brigarmos por títulos. Isso é importante para o Flamengo. Gostaria de voltar fazer gols de bolas paradas. É uma coisa minha e todo ano acontecia. Fiz contra o Bangu, mas não foi aquela falta frontal, que eu gosto. E sinto falta também de chegar mais no ataque, ajudar meus companheiros a fazer os gols.

Com João Paulo em campo, o Flamengo venceu 22 partidas, empatou 12 e perdeu dez. Nesta quinta-feira, o lateral completa seu 45º jogo pelo clube, diante do Internacional, às 21h (de Brasília), às 27ª rodada do Brasileirão.


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