Ele diz que é paixão. Daquelas arrebatadoras. Carlos Eduardo
está no Flamengo há um mês, disputou só dois jogos, mas está
enfeitiçado. Enquanto o coração ainda se resolve depois de um tempo num
noivado de cinco anos, o meia-atacante se dedica ao Rubro-Negro e está
empolgado com o novo clube, com a torcida e com o Rio de Janeiro. Aos 25
anos, enxerga um futuro de sucesso, de retomada de planos e de
realizações. Às vésperas da primeira semifinal, o camisa 10 está com o
sorriso aberto e empenhado em ser decisivo. Ainda longe da forma ideal,
se prepara para enfrentar o Botafogo, domingo, no Engenhão, em jogo que
vale vaga na decisão da Taça Guanabara. O otimismo e a confiança tomam
conta.
- Estou feliz para caramba. Tenho muito a acrescentar.
Carlos Eduardo na arquibancada da Gávea: amor à primeira vista (Foto: André Durão)
CE10 conversou com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM na sede rubro-negra. No primeiro passeio pelo local, se impressionou com o tamanho da Gávea, viu taças conquistadas pelo clube e foi muito bem tratado por torcedores que estavam por lá. Coincidentemente, o jogador voltou ao campo em que fez o último treino dele antes da transferência para o Hoffenheim, da Alemanha, na metade de 2007.
- Dei um trote aqui nesse campo. O Mano (Menezes) me tirou do treino. Foi o último antes da transferência.
Na entrevista, Carlos Eduardo falou sobre tudo que viveu depois daquele
treinamento: o bom futebol na Alemanha, o risco de parar de jogar
durante a passagem pela Rússia por conta da lesão no joelho direito.
Falou também sobre a timidez e da vida discreta que leva fora de campo.
Agora, está concentrado nos 17 meses de contrato de empréstimo que ainda
tem com o Flamengo. A felicidade no novo clube, segundo ele, é parecida
com a que experimentou nos tempos em que morava sob as arquibancadas do
estádio Olímpico, na base no Grêmio.
Abaixo, os principais trechos da conversa:
Volta ao Brasil
- Não foi uma decisão difícil porque estava com a intenção de ficar no
Brasil, infelizmente o clube (Rubin Kazan) não liberou antes. Tive
proposta da Alemanha para voltar, mas preferi o Brasil, seria meu
recomeço, aqui está perfeito. É o Flamengo, estrutura, família do lado
para me visitar, me deixa mais tranquilo.
Impressões sobre o novo clube
O clube é legal, é o Flamengo. Para falar de Flamengo temos de falar
das coisas boas. A diferença de estrutura em relação aos clubes da
Europa choca um pouco, mas o que importa é ter condições de trabalhar.
Clube sensacional, torcida maravilhosa, muitos sonham jogar aqui, está
sendo legal, o grupo é sensacional, a molecada é dez. Faz um mês que
estou aqui, tenho de me adaptar ainda ao grupo e ao futebol. Fiquei seis
anos fora, joguei depois da lesão, mas não foram jogos seguidos. Tenho
que pegar ritmo. O clube é dez, os jogadores que estão em volta, as
pessoas que trabalham no clube me tratam com muito carinho.
Torcida do Flamengo
- Todo mundo sabe. Morava no Brasil e sabia que a torcida era fora do
normal. O Flamengo tem torcida em todo lugar. O calor da torcida é muito
legal, o carinho, todos me desejando sorte, motiva cada vez mais.
Negociação complicada
- Estávamos em Porto Alegre, no escritório do Jorge Machado, meu
empresário. Estava tudo certo com o Flamengo, até então com o Rubin
também. A gente anunciou antes a minha vinda, uns dez minutos antes,
depois disso veio uma cláusula, mandaram o contrato dizendo que se eu
fosse para a Seleção jogar na Copa do Mundo o Flamengo teria de pagar 13
milhões de euros. Como os caras iam cobrar isso se o Flamengo estava
dando a vitrine para eu aparecer? Ia melar o negócio. Na hora deu bate
cabeça, cinco, dez, 15 minutos, mas a gente conseguiu tirar essa
cláusula. Estava tranquilo, com pensanmento positivo que ia dar tudo
certo.
Jogador posa junto aos troféus conquistados pelo Flamengo (Foto: André Durão)
Craque do Flamengo?
- Por tudo que aconteceu na minha contratação, as especulações, pesa
bastante. Minha passagem na Seleção também. Claro que a cobrança vai ser
forte, mas estou tranquilo. Sei lidar com isso, tenho cabeça tranquila,
me dou com todo mundo, isso ajuda bastante. Acho que tenho tudo para
crescer no momento que voltar ao melhor nível físico. Tenho muito a
acrescentar.
Protagonista
- Sonho com isso, imagino isso. Vestir a 10 do Flamengo é chance única,
qualquer um quer vestir. Trabalho para ser um dos principais jogadores
do Flamengo.
Zico como referência
- É normal, é um ídolo do Flamengo, todo mundo sabe. Não só do
Flamengo, é ídolo do meu pai. Todo mundo admira esse grande jogador, fez
muito para o futebol brasileiro e pelo Flamengo. Todo jogador que
vestir a 10 do Flamengo vai ser mais cobrado. O Zico pode sempre passar
uma experiência, conversamos a última vez quando ele treinava o CSKA.
Passa confiança, tem respeito com todos, é carinhoso. Isso faz dele
maior ainda. Seria muito legal um encontro com ele.
Carlos Eduardo posa para fotos com fãs na Gávea (Foto: André Durão)
Boa fase do time
- O grupo uniu forças, isso ajuda muito. Não precisa ter craque para
chegar (aos títulos). Claro que ajuda, mas um time unido, com bons
jogadores, é um bom caminho. Rafinha está muito bem, o Hernane fazendo
gol, Elias experiente, jogou fora. O Ibson também. Jogadores
estrangeiros como Cáceres, González, que são jogadores de seleções. Léo
Moura vivido, conhece o futebol brasileiro. Tem a molecada da base vindo
forte. Adryan, Thomás, são bons tecnicamente, precisam evoluir, mas têm
talento. Acho que o Flamengo está unindo jovens talentos com
experiência. Isso para um time é muito bom, fortalece.
Chance de título
- A gente vai buscar o título, o fato de ter direito a dois empates
ajuda bastante. Seria bom para mim também chegar numa reta final e
conquistar um título. Tenho muito a evoluir, estou abaixo da forma
física, na parte técnica também, mas essa semana vou me preparar, vou
estar mais preparado.
Readaptação
- Muda muita coisa. Dentro de campo é a tática, na Europa somos mais
cobrados. O calor também estou sentindo bastante no Rio. Senti na minha
estreia isso, era um dia abafado, estou voltando da Rússia, um país
muito frio. Na Europa é um jogo mais truncado, pegado, mas com o
trabalho, paciência do clube, do treinador, creio que logo mais estarei
em alto nível.
Momento pessoal
- Graças a Deus a cada semana estou mais feliz no Flamengo. Chegou um
momento na Rússia em que eu estava muito triste, longe da família. As
pessoas pensam que o jogador só está ganhando dinheiro, que não tem
problema, mas o que pesa é o psicológico do atleta. Longe da família,
dos amigos, sentia muito isso. Isso me deixou triste. Estou feliz para
caramba, perto de tudo, minha família pode me visitar quando quiser.
Estou falando a minha língua, sentindo o calor brasileiro, essa cidade.
Daqui para frente a tendência é voar.
Tempo no sonho europeu
- Como tenho contrato com o Rubin Kazan até 29 anos, renovei por mais
dois anos lá, claro que sonho voltar para a Europa, jogar num grande
clube. Mas minha cabeça está aqui, quero me doar ao máximo. Seria muito
legal ficar o resto da vida no Flamengo. Clube grande, vai evoluir muito
ainda, vai crescer cada vez mais. Com a força da torcida e do clube,
vai ser um dos maiores do mundo.
Vida fora de campo
- Curto muito o Rio, já fiquei um mês direto, tenho amigos aqui. A
cidade é maravilhosa, dá energia para viver. Sou um cara tranquilo, fico
em casa, saio para jantar, ir ao shopping. Vou à praia às vezes, mas
sou caseiro. Quando estou nas férias gosto de escutar hip hop, um
sambão, dá uma energia boa. Mas gosto de reunir amigos em casa, não sou
de sair. Faço churrasco em casa para curtirmos todos juntos. É uma coisa
natural, sou muito na minha, um cara tranquilo, não falo muito. Acho
que não sou diferente dos outros, alguns gostam mais de sair, de curtir a
vida, isso é normal, eu também gosto, isso faz parte. Mas procuro ficar
na minha. Tudo tem momento. Vai ter o de curtir e o dia de ficar sério.
O jogador junto do melhor time da história do Flamengo (Foto: André Durão)
Timidez e assédio
- Agora melhorei, quando subi era muito tímido. Era mais tímido no dia a
dia, nas entrevistas, conhecer pessoas famosas, ficava na minha. Lido
bem com o assédio, não tem problema. Trato bem todas as pessoas. Agora
estou enrolado, tinha uma noiva de cinco anos, tivemos uma discussão,
mas estou enrolado por enquanto. A cabeça está no futebol no momento.
Experiências na Europa
- Foi muito rápido. Joguei seis, sete meses no Grêmio, tinha proposta
do Benfica, do Porto, e essa do Hoffenheim. O projeto dos caras era fora
do normal. O lado financeiro também pesou um pouco. O treinador me
queria muito, isso pesou mais ainda. O presidente do Grêmio me ligou
umas três vezes, era o Paulo Odone: "tem certeza que você quer ir para a
Segunda Divisão da Alemanha?" Quero, respondi. Agregou experiência em
tudo, viver sozinho, aprender a língua. No futebol você aprende mais
taticamente, a cobrança é bem maior. Sinto um pouco a diferença aqui no
Brasil. Lá as coisas são mais sérias, falo do treinamento. Começa o
treino forte, aqui começa mais tranquilo. Não é crítica, são só
diferenças. Deu tudo certo lá. Infelizmente tive uma lesão grave,
prejudicou minha carreira, perdi um pouco, foi um momento triste. Mas
quero recomeçar e daqui para frente é um desafio para mim estar no
Flamengo, um dos maiores clubes do mundo. Ajuda a motivar para voltar a
jogar no mesmo nível.
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