Nesta quinta-feira, ao publicar em seu site oficial o pagamento de
dívidas referentes à gestão de Patricia Amorim, a nova diretoria -
através do vice-presidente de finanças Rodrigo Tostes - afirmou que,
durante os últimos três anos, os responsáveis pelo Flamengo não
repassaram o Imposto de Renda de funcionários à Receita Federal,
utilizando o dinheiro para outros fins, o que caracterizaria apropriação
indébita ou sonegação de impostos. A atual direção, que abriu o jogo
com o Fisco, age para equacionar os problemas e trouxe o assunto ao
conhecimento público, na primeira grave acusação contra a ex-presidente.
- É crime, que pode ser tratado como sonegação fiscal ou apropriação
indébita, a lei trata assim. Mas o Estado quer receber e cria
possibilidade de pagamentos para que quem seria responsável pelo
pagamento não seja punido judicialmente. Caso isso aconteça, quem
responderia seria quem não pagou ou repassou o tributo devido à época, e
não quem está lá agora. Isso gera as penhoras, que não são punições
criminais, mas sim administrativas para garantir o pagamento de dívidas.
Se o Estado autorizar renegociações, as penhoras vão parar. Ao assumir e
tratar abertamente as dívidas, o Flamengo dá um passo à frente ao
negociar com Estado, Fazenda... – disse o advogado criminalista André
Perecmanis, do escritório Perecmanis In Klein.
Segundo a nota divulgada pelo clube, “o fator que dificultou o acesso
às receitas neste início de ano foi o não pagamento de três anos do
Imposto de Renda dos funcionários, fato que vem sendo apurado pelo
trabalho de auditoria contratado junto à empresa Ernest & Young.
Cada um deles tem 27,5% de seu salário retido no clube, que deve
repassar à Receita Federal. Na última gestão, este repasse não
aconteceu. O valor era descontado do funcionário, mas utilizado para
outros fins”.
O departamento de comunicação do Flamengo disse que a nota, redigida em
companhia de Rodrigo Tostes, “é bem clara sobre o não pagamento do IR,
apropriação indébita e dos problemas acumulados com o Fisco” na gestão
Patricia Amorim, além de confirmar que o clube trata com todos os órgãos
o equacionamento das dívidas.
De acordo com parecer normativo da Receita Federal, “ocorrendo a
retenção do imposto sem o recolhimento aos cofres públicos, a fonte
pagadora, responsável pelo imposto, enquadra-se no crime de apropriação
indébita previsto no art. 11 da Lei nº 4.357, de 16 de julho de 1964, e
caracteriza-se como depositária infiel de valor pertencente à Fazenda
Pública, conforme a Lei nº 8.866, de 11 de abril de 1994”.
Sem o repasse, os funcionários ficam sem direito à restituição do tributo.
- Vamos precisar de algum tempo, mas o Flamengo vai colocar as contas
em dia. Começamos pelo nosso maior credor, que é o Fisco. Eles já
entenderam que o Flamengo mudou - afirmou Tostes.
A diretoria do Flamengo tem tido reuniões frequentes com a procuradoria
para apresentar um plano de quitação destas dívidas, além de garantir o
pagamento em dia dos impostos correntes.
A auditoria contratada pelo clube pretende em 90 dias dar um parecer
preciso da grave crise financeira rubro-negra, mas casos como o revelado
pela diretoria começam a vir à tona.
Patricia não se pronuncia
Procurada pela reportagem do GLOBOESPORTE.COM para falar sobre o
assunto, Patricia Amorim disse que as dívidas também vêm de gestões
anteriores e garantiu que diante das acusações, em breve, se pronunciará
oficialmente.
Em nota publicada nesta quinta-feira, Walter Oaquim, ex-vice-presidente
de relações exteriores, jogou a culpa apenas na gestão de Márcio Braga
(2007-08-09):
- No último trimestre de 2012, o Flamengo teve R$ 20 milhões
penhorados, para pagar o imposto de renda de 2007-2008-2009 (gestão
anterior), que eram destinados para pagamento de salários e outros
débitos.
Mas, diante das evidências do não pagamento de impostos na gestão de Patricia, Oaquim se esquivou:
- Quanto a essa dúvida, não tenho elementos, acredito que o Michel (Levy) possa responder.
Procurado pela reportagem, o ex-vice-presidente de finanças Michel Levy
não foi encontrado para se posicionar sobre o caso. O dirigente e
Patricia Amorim cortaram relações ao fim do mandato, em dezembro.
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