quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Dorival defende cortes e vê vida sem Love: ‘Realidade que temos que viver’

Quando não pensa em futebol e em Flamengo, Dorival Júnior procura arejar a mente com samba, leitura, teatro e cinema. Da última vez que esteve diante da telona, assistiu a uma comédia brasileira. O filme “De Pernas pro Ar 2”, protagonizado pela atriz Ingrid Guimarães, garantiu boas risadas ao técnico. Algo que ele ainda não conseguiu em quase seis meses de trabalho no clube. Da chegada ao Rubro-Negro até o fim do Brasileiro, uma única missão: livrar o time do rebaixamento. Quando Dorival chegou, o Flamengo estava de pernas para o ar.         

Com contrato até o fim de 2013, o treinador foi mantido no cargo pela nova diretoria, mas não era unanimidade. A negociação envolveu a permanência do preparador físico Celso de Rezende, seu amigo de longa data e homem de confiança. O diretor Paulo Pelaipe queria demitir Celso, mas atendeu ao pedido de Dorival e não o fez.

Um novo ano, uma nova missão. O comandante agora tem que montar um novo Flamengo. Sem dinheiro, o clube decidiu cortar gastos e, no último sábado, abriu mão do atacante Vagner Love, que voltou ao CSKA da Rússia. O zagueiro Welinton também saiu e outros devem se despedir em breve: Liedson, Ibson e Cleber Santana estão na lista de negociáveis. Dorival diz que perdas fazem parte do novo cenário rubro-negro, defende os cortes e garante que há vida sem Love.

- Perdemos um grande jogador (Love), essa é a realidade que nós temos que viver. Só acho que o Flamengo em outros momentos também já perdeu grandes jogadores e não deixou de ser o grande clube que é ou de ter grandes equipes que continuaram brigando por títulos.

Internamente, Dorival não estaria completamente confortável no cargo, já que não foi um treinador escolhido pela atual gestão. Esse fato, inclusive, foi tema de debate entre o ex-diretor Zinho e o técnico no fim do ano passado. Ele espera ter tempo para justificar a permanência.

- Se me derem tempo, vou fazer o máximo para deixar alguma coisa boa plantada, buscando resultados, trabalhamos assim em outras equipes, com difuldades, talvez até maiores do que as que enfrentamos nesse momento. Nós tivemos um relativo sucesso. Espero que possa, também no Flamengo, ter tempo para que esse trabalho seja iniciado.

Montagem Dorival Junior (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com) 
Dorival Júnior em diversos momentos de sua passagem pelo Fla (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
 
A remontagem passa pela promoção das promessas. No lugar de astros, o Flamengo terá o meia Rodolfo e o atacante Rafinha como titulares na estreia no Carioca, sábado, contra o Quissamã, no Engenhão. Mesmo com as dificuldades, o treinador acredita no sucesso do trabalho.

- Às vezes chega o momento que os clubes têm que tomar uma posição. De repente não contamos com tantos nomes, mas não significa que não estaremos fortes. A torcida que espere, porque coisas boas acontecerão.

Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Saída de Vagner Love

- É natural, perdemos um grande jogador, essa é a realidade que nós temos que viver. Só acho que o Flamengo em outros momentos também já perdeu grandes jogadores e não deixou de ser o grande clube que é ou de ter grandes equipes que continuaram brigando por títulos. O Flamengo tem essa obrigação. Eu sei que é um momento de transição, difícil, estamos tendo alguns problemas, a própria formação ou reformulação da equipe passa por momentos delicados, complicados, onde faltam ajustes importantes. Mas eu confio muito nesse tipo de trabalho, na maioria das equipes que passei sempre procurei desenvolver, iniciamos o trabalho assim, com seis, oito, dez jogadores no elenco. E elencos que deram resultados. Espero retribuir essa confiança da diretoria, desenvolver um grande trabalho.

Efeito da saída de Vagner no grupo

- Não que abalou, mas é natural. A perda é imensurável para um primeiro momento. Mas temos a obrigação de buscar aqui dentro ou que um atleta desses que aqui estão possa ocupar esse espaço, possam estar muito fortes em busca dessa posição. Ou de repente uma reposição no mercado. O Flamengo não vai fazer loucuras, não tem feito loucuras. É natural que a exigência num clube grande como o nosso sempre seja forte a necessidade de títulos. Mas uma equipe tem que se preparar para poder ganhar. E o Flamengo não poderia continuar vivendo esse momento que vinha vivendo administrativamente, com essa dificuldade de recursos. Posições estão sendo tomadas, é natural que num primeiro momento tenhamos algum prejuízo. É uma preparação para um futuro bem próximo de grandes conquistas.

Afastamento de Liedson

- O Liedson está fora do elenco, ele deve estar finalizando um acordo de uma transferência, espero que ele seja muito feliz, foi um grande profissional aqui dentro, uma pessoa que sempre teve respeito, nos respeitou muito, deu sua parcela de contribuição.

Necessidade de reforços de peso

- Concordo com o torcedor, mas acho que nós temos que ter a consciência do momento do nosso clube, acima de tudo das dificuldades que estamos passando, essa transição da nova diretoria, com uma nova condição de administração. Nós temos que respeitar isso. Eu penso que seja o caminho para todos os clubes. Em determinados momentos, de repente, imaginemos que estejamos dando um passo atrás. E de repente com um salto na frente possamos alcançar alguma coisa de bom. Acho que o Flamengo sempre formou a maioria dos seus times aqui dentro. Então, temos de rever essa posição, voltar às origens. Eu sei que é um trabalho moroso, lento, às vezes os resultados não acontecem. Às vezes o próprio treinador fica numa situção bem complicada. Mas eu tenho consciência disso. Acredito muito nesse tipo de trabalho, sempre fiz isso nos clubes em que estive, com exceção de dois clubes ao longo da minha carreira. Confio nesse tipo e nessa confiança passada pela diretoria nesse tipo de trabalho e espero que possa retribuir. Às vezes é um momento que os clubes têm que tomar uma posição. De repente não contamos com tantos nomes, mas não significa que não estaremos fortes. A partir do momento que tivermos a chance de buscar regularidade, cada jogador vai buscar o seu máximo. A torcida que espere, porque coisas boas acontecerão.

Nova administração

- A austeriadade tem que se fazer presente. Acredito que a diretoria esteja tentando sanar todas as situações possíveis dentro do clube (dívidas) e isso é elogiável. É um risco um pouco maior, nós temos alguns clubes já muito estruturados em termos de equipe, bem mais que a gente, mas não tenho receio. Se me derem tempo, vou fazer o máximo para deixar alguma coisa boa plantada, buscando resultados, trabalhamos assim em outras equipes, com difuldades, talvez até maiores do que as que enfrentamos nesse momento. Nós tivemos um relativo sucesso. Espero que possa, também no Flamengo, ter tempo para que esse trabalho seja iniciado, em determinado momento que ocorram as correções necessárias, para que a gente possa realmente preparar para poder chegar. E na hora que chegar, não só para um campeonato, mas acima de tudo fazer com que o Flamengo volte a conquistar. E esse trabalho inicial é fundamental para isso.

Possibilidades do time no Carioca e no Brasileiro

- Não sei se de imediato, mas com certeza é um trabalho que tende a essa condição. Estipular prazo? Muito difícil. Temos aí dentro do nosso estado o atual campeão brasileiro, com todos os méritos possíveis, uma equipe muito bem montada e que terminou o ano de maneira muito regular, que foi o Botafogo, o Vasco com algumas reformulações, o próprio Flamengo, além do que sempre duas ou três equipes do interior que chegam muito bem. Então é um campeonato que tem tudo para ser difícil, o Flamengo vivendo uma outra situação, mas acima de tudo acreditando no trabalho de renovação, um trabalho difícil, mas eu confio muito que as coisas possam acontecer. Não sei em que momento do ano, mas a partir do instante que você trabalha de maneira correta, pode ter certeza que, às vezes demora um pouco, mas os resultados acontecem.

Time da estreia no Carioca

- Basicamente a equipe que treinou nos últimos dias, não foge muito disso. Estamos com oito ou nove jogadores fazendo um trabalho à parte. Esses que chegaram (Elias, Gabriel e João Paulo) e outros que detectamos algumas carências, alguns jogadores que ficaram lesionados no fim do ano passado e que agora precisamos que eles busquem uma base maior para que tenham uma sustentação ao longo do ano. Esse início ainda é um pouquinho conturbado, mas daqui a pouco as coisas vão se ajeitar e com certeza o Flamengo vai vir forte, como sempre foi, e vai lutar diretamente pelo título do campeonato.

Rafinha

- Esse garoto fez bons jogos desde o ano passado, a oportunidade para que ele possa de repente ocupar espaço está aberta. Acreditamos nele, vamos ter calma, não podemos jogar a responsabilidade sobre um garoto como esse, mas sempre acreditando que o treinador dos profissionais tem que buscar a sequência do trabalho da base, propiciando oportunidades para que os garotos apareçam. Não revelamos ninguém, eles se revelam pelo trabalho da base. Apenas damos oportunidade para que possam trilhar um belo caminho. 

Rodolfo

- Ele foi observado, deu o recado. Se mantiver o bom desempenho, vai buscar o espaço. Esses garotos são os que sempre visualizam nos profissionais seus ídolos, querendo ser um deles. É nessa garotada que temos que acreditar para que no futuro um outro treinador possa estar oportunizando a esses garotos a condição de serem titulares da equipe principal do Flamengo.

Setor crítico do time

- Tempo. Apenas esse. Tempo para desenvolver o trabalho. Reformulação requer tempo, paciênca e repetição. Temos consciência das nossas carências, eu sempre acredito no elenco que tenho nas mãos, independentemente das dificuldades de momento, o trabalho vai ser sempre buscar para que tenhamos o melhor deles. Espero continuar passando confiança a quem me deu oportunidade de trabalho, que possamos conseguir os objetivos. Espero deixar no Flamengo algo plantado e alcançado.

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