O julgamento de Bruno Fernandes de Souza, suspeito do assassinato de
Eliza Samudio, acontece desde segunda-feira no Fórum de Contagem, em
Minas Gerais, mas ecoa na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro. Na sede do
Flamengo, o caso é tratado com extrema discrição pela presidente
Patricia Amorim, que teve na prisão do goleiro a primeira grande bomba
de sua gestão. O ex-camisa 1 tem vínculo empregatício com o clube até
dia 31 de dezembro deste ano. O corpo jurídico suspendeu o contrato de
Bruno ainda em 2010, quando o problema veio à tona, evitou demissão por
justa causa antes que qualquer condenação fosse transitada em julgado e,
agora, apenas acompanha o andamento até o veredicto. Em caso de
absolvição, o jogador tem direito de se reapresentar no Rubro-Negro
assim que deixar a prisão. Mas os advogados do Flamengo se baseiam na
condenação que ele já teve na Justiça do Rio para comprovar os prejuízos
que o funcionário causou ao empregador.
- Nada mudou neste caso. O contrato permanece suspenso e vamos aguardar
o julgamento. Qualquer coisa que seja dita neste momento é precipitada –
afirmou a presidente Patricia Amorim, através da sua assessoria de
imprensa.
Dois
tons de vermelhos, dois momentos disntintos: Bruno com a camisa número 1
ainda como jogador do Flamengo e, depois, algemado e com uniforme de
detento (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
O caso Bruno é extremamente delicado para Patricia, ainda mais às
vésperas da eleição para presidente do clube, marcada para o dia 3 de
dezembro. A mandatária não se estende sobre o assunto, evita tecer
maiores comentários, mas pessoas próximas repassam para a presidente o
andamento do julgamento que envolve o funcionário do Flamengo.
Em julho de 2010, Patricia Amorim chegou a declarar que, mesmo
absolvido, o goleiro não vestiria mais a camisa rubro-negra. E relatou o
primeiro encontro com Bruno quando o caso já tinha vindo à tona, mas o
jogador ainda estava em liberdade. A conversa aconteceu para que o
afastamento fosse comunicado ao atleta:
- Ele me olhou no olho. Naquele momento não estava abatido, não tinha
nenhum tipo de situação conflitante em que você poderia notar tristeza.
Nós estávamos curiosos, mas não perguntamos nada. Ele disse que era
inocente, disse que gostava do Flamengo, não queria prejudicar a imagem
do clube, e aceitou (o afastamento). Ele ainda queria conversar com os
jogadores no vestiário, mas o Isaías (Tinoco, então supervisor de
futebol) disse que não seria bom. Ele estava muito tranquilo, muito
tranquilo. Olhava no olho. Foi muito chocante e muito dificil.
Especialmente para mim, que sou mulher, é dificil de falar também. Mesmo
que seja julgado inocente, ele não jogará mais no Flamengo.
Em setembro de 2010, a presidente, Zico, então diretor de futebol, e
Léo Moura tiveram que depor na 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá, no Rio,
para prestar esclarecimentos sobre o dia a dia do goleiro.
Advogado do Fla: 'O julgamento cabe à Justiça'
O contrato de Bruno firmado com o clube vai até 31 de dezembro e está
suspenso por causa da prisão do goleiro em julho de 2010, suspeito do
assassinato de Eliza Samudio. O corpo jurídico do Flamengo optou por não
demitir o goleiro por justa causa antes do julgamento que começou na
segunda-feira. Mas o clube se resguarda.
No processo que corre na Justiça do Rio, o jogador já foi condenado por
sequestro, cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal
contra Eliza Samudio, numa pena inicial de quatro anos que foi reduzida
para um ano e dois meses. Os advogados entendem que já seriam elementos
suficientes para romper o contrato por danos ao clube. Mas a estratégia é
aguardar o dia 31 de dezembro, quando terminará o vínculo entre as
partes.
- O Flamengo não pode pré-julgar, o julgamento cabe à Justiça. Tomamos
as medidas que eram cabíveis, agora aguardamos a decisão judicial. O
contrato está suspenso, qualquer questão em relação ao futuro tem que
aguardar o julgamento. Vamos esperar o fim do caso - disse o advogado
André Galdeano, que integra o quadro do futebol do Rubro-Negro.
Após
chegar ao Fla em 2006, Bruno renovou contrato em janeiro de 2008, com
vínculo até 31 de dezembro de 2012, como mostra site da Federação de
Futebol do Rio (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
Os advogados têm ciência de que, caso conseguisse um habeas corpus,
Bruno teria direito legal de aparecer no Ninho do Urubu para treinar.
Mesmo com a prisão, o clube não teve como recorrer à demissão por justa
causa, pois nenhuma sentença condenatória foi transitada em julgado. As
leis trabalhistas também protegem o ex-camisa 1.
- Como funcionário, o Flamengo tem que recebê-lo. Se seria aproveitado, é uma outra questão - completou Galdeano.
Internamente no clube, ninguém acredita - nem quer apostar - em
absolvição. Depois do término do contrato, quando estiver em liberdade,
Bruno poderá questionar judicialmente o não pagamento dos vencimentos,
suspensos no dia 7 de julho de 2010. O clube, porém, poderia argumantar
que o atleta não prestou o serviço para o qual foi contratado. O
departamento jurídico decidiu não rescindir o contrato do ex-camisa 1
porque havia o risco de pagar multa rescisória em caso de rompimento
unilateral. O goleiro recebia salários de R$ 160 mil por mês.
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