O
Clube de Regatas do Flamengo vem a público expressar sua indignação com
os fatos ocorridos na noite desta quarta-feira, no Maracanã, durante a
final da Copa Sul-Americana. E também se solidarizar com todos os
torcedores que, de alguma maneira, foram afetados pela selvageria,
violência e falta de cidadania daqueles que provocaram tumulto antes e
depois da partida.
A confusão antes do jogo foi
provocada primordialmente por um grande número de pessoas tentando
entrar no estádio sem ingressos, o que, infelizmente, é um hábito comum e
histórico em todas as partidas de grande apelo do clube no Maracanã.
O
problema ocorrido após o apito final foi fruto da frustração de
torcedores com o resultado, mas de forma alguma se justifica. Torcedores
que amam o clube, suas famílias, além de profissionais atuando no jogo
não podem ficar reféns, retidos no estádio, em função da ação de
selvagens.
Cabe reflexão mais ampla e profunda
sobre os fatos por parte da sociedade. Diferentemente de outros eventos
no Rio de Janeiro, como o Rock In Rio ou o Carnaval que mobilizam enorme
interesse e têm escassez de ingressos, o futebol padece de problemas
mais graves. Existe a "tradição" nefasta do torcedor que não possui
ingresso em forçar a entrada no estádio; a infiltração de desordeiros em
torcidas organizadas e o espírito de agressividade muito maior do que
em outras atividades culturais. Tudo isso faz com que o controle de
público em jogos de futebol seja muito mais complexo.
Se
considerarmos a praça em que o espetáculo é realizado, cabe ressaltar
que o Maracanã é um estádio grande, urbano, dentro de um bairro
populoso, o que faz com o que o acesso a ele seja fácil e,
paradoxalmente, facilite a invasão de torcedor, o que aconteceu até
mesmo na Copa do Mundo.
Portanto, consideramos
equivocada a justificativa dada pelo comandante do Grupamento Especial
de Policiamento em Estádios de que apenas um fator – o uso de
cartões-ingressos descarregados por sócio-torcedores mal-intencionados –
seja a razão predominante para os acontecimentos de ontem. É importante
citar que cartões-ingresso são amplamente utilizados em eventos
esportivos no mundo todo, inclusive no Brasil, e são uma forma de
oferecer conforto e comodidade aos torcedores que fazem uma contribuição
fundamental ao Flamengo, além de representarem um fator inibidor do
cambismo e de confusões na venda de ingressos, como as grandes filas e
quebra-quebras em bilheterias.
Um jogo decisivo
do Flamengo, com lotação máxima apresenta muito maior risco e
complexidade no que diz respeito ao acesso de torcedores do que uma
partida de Copa do Mundo, em função das diferenças de perfil dos
públicos envolvidos. Em compensação, a mobilização e o planejamento dos
órgãos públicos para uma partida como a de ontem é incomparavelmente
menor do que o realizado nos jogos do Mundial de 2014.
Outro
ponto que torna o planejamento complexo para partidas de grande apelo é
o fenômeno das torcidas organizadas, movimento criado há cerca de 50
anos, que surgiu com o propósito de incentivo ao time, mas que hoje é
associado a episódios de invasão, vandalismo e violência.
Some-se
a isso o hábito dos torcedores em geral em postergarem sua entrada no
estádio, a compra de ingressos, muitas vezes falsos, em cambistas e a já
citada utilização indevida dos cartões de sócio-torcedor.
A
título de informação, em reuniões operacionais antes da partida, o
Flamengo notificou o Comando Maior da Polícia, assim como o GEPE, o 6º
Batalhão (Tijuca) e a Guarda Municipal, solicitando o maior efetivo
possível, dado o grande apelo da partida. Por sua vez, contratou quase
mil seguranças privados para atuar a partir do momento da revista e
acesso a catracas e em vários setores dentro do estádio.
Mesmo
assim, tal mobilização pública e privada não foi suficiente para
impedir os problemas, que aconteceram não só no Maracanã, como também em
diversas ruas dos bairros próximos ao estádio, estações de trem e
estações de metrô.
Dada tal escalada de
violência, o Flamengo se propõe a, junto com os órgãos públicos,
encontrar soluções para que seus jogos decisivos no Maracanã tenham o
efetivo de segurança adequado, planejamento e bloqueios de ruas
compatíveis com sua complexidade, uma vez que a Polícia Militar do Rio
de Janeiro tem encontrado muitas dificuldades do ponto de vista de
estrutura e contingente para realizar seu trabalho nas praças esportivas
e outros pontos do Estado.
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