Desempenho, recuperação e prevenção. São esses os pilares
do CEP FLA, o Centro de Excelência em Performance do Flamengo. Idealizado pelo
coordenador médico do clube, Márcio Tannure, trata-se de um departamento criado
para melhorar a saúde dos jogadores, sob o conceito de que um atleta mais
saudável produz mais e está mais resistente a lesões. E os resultados do
projeto, colocado em prática em fevereiro, têm sido positivos.
- Hoje, na Série A, o Flamengo é um dos times com menor
incidência de lesão, se não for o que teve menos. Foi o time que mais viajou
para jogar. Se a gente for ver proporcionalmente, com esse fator que é muito
ruim, estamos muito acima da média. Um dos que teve menos lesão - disse Tannure.
Fotos: Gilvan de Souza
Além
da idealização do projeto, o médico foi decisivo também para o CEP sair
do papel. Através de permutas, Tannure conseguiu equipar o local, e o
Fla precisou apenas arcar com o aluguel dos containers.
Segundo informou o clube, desde que o centro de excelência
foi criado, apenas dois jogadores sofreram lesão muscular: o zagueiro Juan e o
goleiro Paulo Victor – o meia Alan Patrick se machucou no início de fevereiro,
mesma época em que o CEP começou a funcionar.
- Estamos bem satisfeitos com isso. Poucos atletas impedidos
de jogar por lesão. A gente faz o trabalho preventivo, de preparação física, de
forma integrada. Todos os setores estão envolvidos, inclusive a parte técnica.
O que a gente percebe é que algumas equipes estão sofrendo mais. Isso é um
processo paulatino. Não adianta esperar resultados em março de uma metodologia
implantada em fevereiro. Contamos também com a conscientização dos atletas. O desenvolvimento
é gradativo. A gente espera que em um ano o trabalho esteja atingindo maturidade –
analisou um dos preparadores físicos do clube Daniel Gonçalves, que já
coordenou o CEP.
A equipe do CEP FLA é composta por dois preparadores físicos,
dois fisiologistas, três fisioterapeutas, cinco médicos e três psicólogos. Um time
que tem a tecnologia como aliada. Com aparelhos de última geração, o clube
caminha para se transformar em referência em inovação científica no futebol
brasileiro.
- A gente sempre busca a excelência. O bom é inimigo do ótimo.
Estamos implementando novas metodologias, mas temos que aperfeiçoar. No início do
ano, a gente fez avaliação funcional, de marcha, perfil de DNA de cada um,
código genético, propensão de lesão, dificuldade de recuperação, desequilíbrio
de marcha. Foram feitas todas essas avaliações. Foi colhido o material genético
deles. É difícil de fazer. A gente cruza com outros dados para saber qual a
deficiência, biomecânica, avaliação de marcha, correção. São duas grandes causas
de lesão: marcha incorreta e execução incorreta do movimento – frisou Tannure.
Com o fechamento do Maracanã e do Engenhão para a Olimpíada
do Rio, o Flamengo elegeu Brasília e Volta Redonda como casas provisórias na
temporada. Mas, por interesses comerciais, já jogou em Manaus e vai atuar em
Natal e no Espírito Santo. O trabalho do CEP também está direcionado para isso.
- Mudamos muito a rotina, não só pelo excesso de viagens,
mas pela nova tecnologia de treinamento. Mudamos desde o início do ano para
fazer a prevenção, o trabalho funcional, de força, de correção de movimento,
tudo isso. É uma coisa que a gente acredita. Foram muitas mudanças. Várias
outras mudanças logísticas para lidar com a fadiga central do atleta, que perde
noite de sono por exemplo, o que interfere na recuperação – explicou o médico
Márcio Tannure.
Com mais quilômetros rodados, é preciso combater o desgaste.
- Somos a equipe que mais viajou no futebol brasileiro e estatisticamente
as equipes que viajam muito têm perda de desempenho. Chega a cair 29% o êxito
da equipe visitante. Estamos satisfeitos porque estamos conseguindo nos manter
na briga pelo G-4. O campeonato é cruel para aqueles que têm sua casa, têm sua
praça, imagina para a gente – completou Daniel Gonçalves.
Fla com mais fôlego
A equipe do CEP também tem
registrado melhora no desempenho do time, especialmente na reta final das
partidas.
- A gente está percebendo crescimento do time nos minutos
finais. Fizemos praticamente três partidas com jogador a menos, contra Chapecoense,
Ponte Preta e Palmeiras, o que gera desgaste. Mas a gente conseguiu ter um desempenho
adequado. Contra o Cruzeiro, passamos por uma situação normal de
contra-ataques. Já contra o São Paulo a gente terminou com intensidade. Temos
percebido o aumento da distância total percorrida e do número de piques. A
média mundial varia de 50 a 60 piques. Temos atletas nossos que dão de 80 a 90
piques por jogo – informou o preparador físico.
Sala do Centro de Excelência em Performance do Flamengo (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)
Daniel Gonçalves cita dois atletas que têm apresentado
evolução.
- Vale ressaltar a função do Alan Patrick, que
está mais intenso, mais participativo, é referência técnica do nosso time. O
Willian Arão cresceu em assistências e desarmes, se desloca o tempo todo
fazendo movimento de área a área. Arão tem percorrido quase 12 mil metros por
jogo. Hoje, temos cinco atletas percorrendo 11 mil metros por jogo. São dados
muito relevantes.
Após a vitória por 1 a 0 sobre o Santa
Cruz, na quarta-feira, o técnico Zé Ricardo citou o trabalho do CEP FLA e
disse que recorreria aos dados do departamento para avaliar a condição
de cada atleta antes de definir o time titular para a próxima partida,
contra o Fluminense, em Natal, no domingo.
- A gente tem tido o menor índice de lesão do
Brasileiro, ou um
dos menores. A gente tem um centro de excelência que monitora muitas
informações. Alguns atletas estão desgastados, alguns deles participaram
de todos esses sete jogos em que eu estou no comando. Vamos ver com
quem vamos
poder contar contra o Fluminense.
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