Cristóvão Borges
sabe muito bem o significado de viver os dois lados da moeda quando o
assunto é prestígio no Flamengo. Se do lado de fora, principalmente nas
arquibancadas, o clima não é amistoso, o mesmo não se pode dizer
internamente. Depois da intensificação das críticas em torno do técnico
após a derrota para a Ponte Preta na última rodada, o clube montou
verdadeira operação para blindar o comandante.
Tudo começou
com as reclamações do próprio técnico na última semana. Deixando de lado
uma das suas características mais marcantes, Cristóvão abandonou a
linha defensiva e afirmou que se sentia perseguido. Ele considera
algumas críticas "estranhamente" incessantes e injustas. O técnico chega
a enxergar parte delas inclusive com conotação racista.
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São críticas sistemáticas, e há a preparação de um ambiente para isso. A
torcida do Flamengo está lá, cobra e quer que ganhe. O jogador pede
para sair faltando um minuto e eu que sou burro? É ambiente que está
sendo preparado faz tempo. É real e estranho - afirmou o treinador na
véspera do jogo contra a Ponte Preta.
Porém, a derrota no fim
de semana para a Ponte Preta aumentou a impaciência da torcida com o
técnico. Nem mesmo o fato de o Flamengo ter sido superior à Macaca
durante os 90 minutos poupou Cristóvão da enxurrada de críticas -
principalmente no caso da substituição no intervalo. Foi neste momento
que a operação em torno do treinador ficou ainda mais visível.
Coletiva incomum
O dia seguinte da derrota para a Ponte Preta reservou algo raro no treinamento no Ninho do Urubu. Dois medalhões do elenco foram convocados para atender a imprensa: o zagueiro Wallace e Emerson Sheik. Estava claro que um dos assuntos do dia seria as críticas ao técnico. Sheik, inclusive, não foi escolhido à toa e tem sido o grande defensor público de Cristóvão Borges. O atacante sempre defende o trabalho do comandante rubro-negro publicamente. Não foi diferente na última segunda-feira.
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Felizmente aqui não tem bagunça nenhuma, o trabalho é muito bem feito
pelo Cristóvão. O time é muito bem treinado, e ele me surpreendeu muito.
Eu trabalhei com um cara que todos vocês conhecem e que é muito
vitorioso, o Tite. Vi o Cristóvão muito parecido com o Tite e nunca
imaginei que fosse encontrar um treinador no futebol brasileiro com o
perfil do Tite. É um cara estudioso, que está querendo sempre aprender e
tem essa gana de vencer. Me surpreendeu. Acho que as pessoas esquecem
que por trás do treinador tem um ser humano, pai de família, um filho. E
ele sente, né? - disse.
Cristóvão e Emerson Sheik conversam após treinamento no Ninho do Urubu (Foto: Gilvan de Souza/ Fla Imagem)
Rodrigo Caetano: "Equipe tem um padrão"
Cristóvão
Borges tem outros dois aliados de peso: o presidente Eduardo Bandeira
de Mello e o diretor executivo Rodrigo Caetano. Ambos são seus
defensores ferrenhos. Após a apresentação do atacante Kayke, nesta
terça-feira, Caetano foi bombardeado de perguntas sobre o treinador. O
dirigente não deu brechas. Deixou claro que os resultados não são os
melhores, mas que o departamento de futebol tem enxergado evolução nos
últimos jogos.
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O torcedor é o motivo de estarmos todos aqui. Mas avaliação nossa tem
que ser mais criteriosa. A gente percebe que essa suposta falta de
empatia também é motivada pela falta de resultados. Se tivéssemos tido
percepção de dificuldade de evolução, teríamos trocado (de técnico).
Hoje percebemos que a equipe tem um padrão, uma forma de jogar. E isso
vai aparecer ainda mais. Agora, o que conversamos nas reuniões, isso
sempre fica na "casinha" - opinou Caetano.
Elenco clama pelo técnico
Apesar
de ser Emerson Sheik o grande porta-voz da "defesa" de Cristóvão Borges
entre os jogadores, esta postura resume o sentimento do elenco do
Flamengo, que tem grande carinho pelo técnico e aprova seus métodos de
trabalho. O plantel inclusive tem clamado pelo técnico junto à
diretoria. Como de costume, Rodrigo Caetano não revela o teor das
conversas, mas diz que todos estão unidos pelo Flamengo. E que isso
passa por Cristóvão Borges.
- Reuniões a gente faz
semanalmente. Com uma frequência que a gente julga necessária. É claro
que nos dois últimos jogos eles não traduziram dentro de campo nosso
entendimento de equipe. Falta para o Flamengo essa sintonia que a gente
percebe se transformar em resultados. Essa oscilação tem que acabar, e
isso só vem com evolução. E não são só os atletas, todos estão unidos
pelo Fla. Não só pelo Cristóvão - afirmou o dirigente.
Rodrigo Caetano busca blindar Cristóvão das críticas da torcida (Foto: Richard Souza/ GloboEsporte.com)
Ressalvas apenas no Conselho Gestor
O
mundo de Cristóvão Borges só não é uma unanimidade dentro do Flamengo
por conta de resistência de algumas peças do Conselho Gestor, grupo que
toma as decisões em forma de colegiado no clube. Porém, Bandeira e
Caetano conseguem fazer com que o vento ainda aponte de forma favorável
ao técnico.
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