Não sei como seria o Estadual do Rio se fosse possível manter
Otávio Pinto Guimarães, o Otavinho Piteira, à frente da Ferj até hoje.
Os tempos são outros, todos os Estaduais perderam espaço, relevância e
até interesse para as competições de âmbito nacional. Mas, mesmo com
tudo isso, a entrada de Eduardo Vianna, o Caixa D'Água, marca o início
de uma era que dura até o dia de hoje, e que é marcada pelo esvaziamento
da competição e de repetidas tentativas de enfraquecer alguns clubes
grandes em detrimento de outros. Otávio fazia o contrário, defendia os
grandes, queria um Estadual e um futebol do Rio com seus quatro grandes
fortes, relevantes, protagonistas no Brasil. Trago o tema ao blog e faço
esta memória ao ver que o clássico de domingo entre Botafogo e Vasco
saiu do Maracanã e foi para o Engenhão.
A partir da era Caixa, o Estadual vai piorando, piorando, até que
chega a um fundo e aí alguém toma uma medida paliativa, apenas o
reinício do processo de queda. É como se se mantivesse o Estadual como
um escravo que só não pode morrer, e quando isso se aproxima alguém lhe
dá um copo de água. Vianna assumiu em 1985 e foi privilegiando os
pequenos e o seu Americano até a vergonha de 1990, quando ninguém sabia
qual era o regulamento da final, houve duas voltas olímpicas - o
Botafogo com uma taça e o Vasco com uma caravela de madeira - e o título
foi dado pela Justiça ao Alvinegro.
Em 91 deu-se um alento até 92 quando, sem Maracanã, todos os
clássicos do Vasco foram marcados para São Januário e os dos demais para
as mais insólitas localidades para a disputa de grande jogos, como o
estádio Ítalo del Cima, em Campo Grande, zona oeste do Rio.
Novo copo d'água da Caixa d'Água no Estadual até 1998, quando tivemos
o Estadual dos W.O.s, vencido pelo vasco. Detalhe: nessa ocasião eu,
como repórter, já ouvira o hoje presidente cruzmaltino, Eurico Miranda,
em incontáveis reuniões do Conselho Arbitral da Ferj, dizer que enquanto
ele existisse os clubes pequenos seriam valorizados e teriam voz ativa
nas decisões do futebol do Rio.
Alento a partir de 1999 quando o Jornal Extra encampou a competição,
até 2002, quando chegamos a um dos fundos desse interminável poço com o
troféu Caixão, vencido pelo Fluminense. A partir do ano seguinte, alento
ao escravo com a mudança de fórmula, com semifinais, amplamente
aprovada pelo público.
Em 2006, trocou-se o Americano pelo Bangu, saiu morto Eduardo Vianna,
entrou seu pupilo Rubens Lopes, que está até hoje, 9 longos anos
depois. Em 2008, o Estadual que voltara a ser um sucesso, tomou uma
pancada da Ferj e passou dos já excessivos 12 clubes para inimagináveis
16 equipes.
E por aí vai, se fôssemos detalhar a capacidade da Ferj de depreciar
seu produto e suas tentativas de apequenas os grandes clubes que não
fazem o seu jogo teríamos de escrever uma enciclopédia. Agora, a briga
da Federação com Flamengo, e mais violenta com o Fluminense, é
vergonhosa. Não sou fã do novo Maracanã, nem concordo com preços
extorsivos para o futebol, mas antes disso defendo o estádio como o
grande palco da cidade, e defendo Fla e Flu com autonomia para decidir
sobre seu destino.
A volta de Eurico ao poder do vasco deu enorme fôlego e um aliado
poderosíssimo à Federação de Rubinho. E o Botafogo entra de gaiato
nisso, achando que vai a algum lugar aliando-se a quem só é a favor dos
pequenos. A diretoria do Botafogo parece não ter entendido que ter ido
de novo para a Segunda Divisão não faz do Alvinegro um pequeno. Longe
disso. É um dos maiores de nossa história, tem de estar sempre ao lado
dos grandes.
Bom para vasco e para Botafogo que ambos têm bons estádios para jogos
de porte pequeno e médio - e até grande contra bons times de outros
estádios. Mas clássico carioca têm de ser no Maracanã.
Curiosamente para
brigar pelo lado esquerdo das tribunas para a torcida - e quero
ressaltar que concordo com esse pleito do vasco, aquele é o lugar de sua
torcida, é difícil para um vascaíno ver o jogo do outro lado - aí o
Maracanã é importante. Mas para jogar contra o Botafogo no Engenhão e
não dar lucro ao Consórcio, aí o Maracanã não serve.
A quem eles pensam que enganam? Até quando o futebol carioca será
escravo da Ferj? Quando teremos quatro diretorias simultâneas de
Botafogo, Flamengo, Fluminense e vasco que vão acabar com essa ditadura
nociva ao Estadual do Rio? Até quando a Federação vai ter alguma
importância?
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