segunda-feira, 23 de março de 2015

Até quando a Ferj vai apequenar o futebol carioca?


Não sei como seria o Estadual do Rio se fosse possível manter Otávio Pinto Guimarães, o Otavinho Piteira, à frente da Ferj até hoje. Os tempos são outros, todos os Estaduais perderam espaço, relevância e até interesse para as competições de âmbito nacional. Mas, mesmo com tudo isso, a entrada de Eduardo Vianna, o Caixa D'Água, marca o início de uma era que dura até o dia de hoje, e que é marcada pelo esvaziamento da competição e de repetidas tentativas de enfraquecer alguns clubes grandes em detrimento de outros. Otávio fazia o contrário, defendia os grandes, queria um Estadual e um futebol do Rio com seus quatro grandes fortes, relevantes, protagonistas no Brasil. Trago o tema ao blog e faço esta memória ao ver que o clássico de domingo entre Botafogo e Vasco saiu do Maracanã e foi para o Engenhão.

 
A partir da era Caixa, o Estadual vai piorando, piorando, até que chega a um fundo e aí alguém toma uma medida paliativa, apenas o reinício do processo de queda. É como se se mantivesse o Estadual como um escravo que só não pode morrer, e quando isso se aproxima alguém lhe dá um copo de água. Vianna assumiu em 1985 e foi privilegiando os pequenos e o seu Americano até a vergonha de 1990, quando ninguém sabia qual era o regulamento da final, houve duas voltas olímpicas - o Botafogo com uma taça e o Vasco com uma caravela de madeira - e o título foi dado pela Justiça ao Alvinegro.

Em 91 deu-se um alento até 92 quando, sem Maracanã, todos os clássicos do Vasco foram marcados para São Januário e os dos demais para as mais insólitas localidades para a disputa de grande jogos, como o estádio Ítalo del Cima, em Campo Grande, zona oeste do Rio.

Novo copo d'água da Caixa d'Água no Estadual até 1998, quando tivemos o Estadual dos W.O.s, vencido pelo vasco. Detalhe: nessa ocasião eu, como repórter, já ouvira o hoje presidente cruzmaltino, Eurico Miranda, em incontáveis reuniões do Conselho Arbitral da Ferj, dizer que enquanto ele existisse os clubes pequenos seriam valorizados e teriam voz ativa nas decisões do futebol do Rio.

Alento a partir de 1999 quando o Jornal Extra encampou a competição, até 2002, quando chegamos a um dos fundos desse interminável poço com o troféu Caixão, vencido pelo Fluminense. A partir do ano seguinte, alento ao escravo com a mudança de fórmula, com semifinais, amplamente aprovada pelo público.

Em 2006, trocou-se o Americano pelo Bangu, saiu morto Eduardo Vianna, entrou seu pupilo Rubens Lopes, que está até hoje, 9 longos anos depois. Em 2008, o Estadual que voltara a ser um sucesso, tomou uma pancada da Ferj e passou dos já excessivos 12 clubes para inimagináveis 16 equipes.

E por aí vai, se fôssemos detalhar a capacidade da Ferj de depreciar seu produto e suas tentativas de apequenas os grandes clubes que não fazem o seu jogo teríamos de escrever uma enciclopédia. Agora, a briga da Federação com Flamengo, e mais violenta com o Fluminense, é vergonhosa. Não sou fã do novo Maracanã, nem concordo com preços extorsivos para o futebol, mas antes disso defendo o estádio como o grande palco da cidade, e defendo Fla e Flu com autonomia para decidir sobre seu destino.

A volta de Eurico ao poder do vasco deu enorme fôlego e um aliado poderosíssimo à Federação de Rubinho. E o Botafogo entra de gaiato nisso, achando que vai a algum lugar aliando-se a quem só é a favor dos pequenos. A diretoria do Botafogo parece não ter entendido que ter ido de novo para a Segunda Divisão não faz do Alvinegro um pequeno. Longe disso. É um dos maiores de nossa história, tem de estar sempre ao lado dos grandes.

Bom para vasco e para Botafogo que ambos têm bons estádios para jogos de porte pequeno e médio - e até grande contra bons times de outros estádios. Mas clássico carioca têm de ser no Maracanã.

Curiosamente para brigar pelo lado esquerdo das tribunas para a torcida - e quero ressaltar que concordo com esse pleito do vasco, aquele é o lugar de sua torcida, é difícil para um vascaíno ver o jogo do outro lado - aí o Maracanã é importante. Mas para jogar contra o Botafogo no Engenhão e não dar lucro ao Consórcio, aí o Maracanã não serve.

A quem eles pensam que enganam? Até quando o futebol carioca será escravo da Ferj? Quando teremos quatro diretorias simultâneas de Botafogo, Flamengo, Fluminense e vasco que vão acabar com essa ditadura nociva ao Estadual do Rio? Até quando a Federação vai ter alguma importância?




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