terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O fardo de Pará: rodagem e cabeça boa são armas para substituir Léo

Quando saiu de São João do Araguaia, no interior do Pará, e viajou três dias e duas noites sozinho de ônibus até São Paulo para dar o primeiro passo rumo ao sonho de ser jogador de futebol, o menino Marcos Rogério, então com 13 anos, certamente não imaginava que poderia ir tão longe. Mas foi. Da escolinha do Barcelona na capital paulista, onde morava no alojamento do clube, recebeu convite para jogar no Santo André-SP. De lá, foi para o Santos, depois para o Grêmio. Até chegar ao time de maior torcida do Brasil, da qual ele próprio faz parte, por sinal, assim como todos os seus familiares. É no Flamengo que Pará, apelido que ganhou ainda no início da carreira por conta de sua origem, terá pela frente o seu maior desafio, aos 29 anos.

Logo na chegada ao Rubro-Negro, o lateral-direito recebeu árdua missão: ser o substituto de Léo Moura, que conquistou diversos títulos em 10 anos de clube e virou ídolo. Léo está de saída para o futebol dos EUA, e cabe a Pará ocupar o lugar dele tanto no campo quanto no coração da torcida. O camisa 21, no entanto, garante ter "casca" para ser bem-sucedido.

Pará, treino do Flamengo (Foto: Ivan Raupp) 
Pará tem a missão de substituir Léo Moura no Flamengo a partir de agora (Foto: Ivan Raupp)

- Para mim é tranquilo, até porque sou um jogador experiente, já passei por dois grandes clubes, Santos e Grêmio, antes de chegar ao Flamengo. Não tem segredo. Vou procurar fazer o meu trabalho, conquistar o meu espaço. Estou muito feliz por defender meu time de coração e espero corresponder à altura - disse, em entrevista ao GloboEsporte.com.

A vida de Pará não será fácil. Prova disso ocorreu no jogo entre Flamengo e Madureira, quando recebeu vaias mesmo sem atuar mal, muito em função da presença de Léo Moura no banco de reservas. A verdade é que Pará ganhou a posição de titular antes de Léo anunciar que deixaria o clube. Com ou sem o ídolo, as comparações da torcida vão existir, e o novo dono da lateral direita vai precisar saber lidar com a pressão. Uma mente forte é sempre bem-vinda.

- Não estou preocupado com isso. Procuro sempre fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. Claro que a gente sempre entra em campo para vencer, nunca para perder, mas quem está jogando em time grande tem que estar acostumado a ter pressão. Aqui no Flamengo não é diferente. A gente vai ter momentos de altos e baixos, e tem que estar com a cabeça boa para poder passar por isso da melhor maneira.

A concorrência na posição só vai se encerrar no domingo, data do último jogo de Léo Moura pelo Flamengo, contra o Botafogo, mas quem pensa que o clima entre os dois é ruim está muito enganado. Pará conta ter sido bem recebido pelo capitão no Flamengo e que ouve dele vários conselhos. A dupla costuma dar risadas e conversar bastante. Léo é tratado como referência pelo jogador recém-contratado, que pretende seguir os passos do camisa 2 e também ter sua própria longevidade no clube.

- Esse é meu principal objetivo. Não é fácil. O Léo Moura é um cara vitorioso e que está no clube há 10 anos. Vou procurar seguir os passos dele. Ele é vencedor, um cara de grupo. Vou procurar as minhas oportunidades para que as coisas possam acontecer naturalmente.

O próximo compromisso de Pará e do Flamengo é nesta quarta-feira, às 22h (de Brasília). O time vai enfrentar o Brasil de Pelotas, em Pelotas, pela primeira fase da Copa do Brasil.

A seguir, veja a entrevista completa com Pará:

GloboEsporte.com: Você tem mais de dois meses de Flamengo. Como tem sido sua adaptação ao novo clube?
Pará:
Por incrível que pareça estou me adaptando bem e de forma rápida. Todo mundo aqui dispensa comentários. O grupo recebe muito bem os atletas que estão chegando. Para mim está sendo motivo de muito orgulho participar desse grupo. Tenho certeza que a gente vai dar muitas alegrias ao nosso torcedor.

O que se pode esperar do Flamengo em 2015?
Nosso grupo está em formação ainda. O professor Luxemburgo deixou bem claro que a qualquer momento podem chegar outras peças. O importante é que a gente está com um grupo bastante homogêneo, que sabe o que quer para a temporada. Tenho certeza que, colocando em campo tudo o que o professor nos pedir, a tendência é que as coisas possam acontecer e, consequentemente, a gente possa conquistar vitórias e títulos
.
Pará, treino do Flamengo (Foto: Gilvan de Souza / Site do Flamengo) 
Pará em ação no empate com o Madureira, pelo Campeonato Carioca (Foto: Gilvan de Souza / Site do Flamengo)

Muitos dizem que o Flamengo é diferente. É diferente mesmo?
Trata-se do clube com a maior torcida do futebol brasileiro. Então, todos que passam por aqui têm um carinho muito grande pelo clube. Comigo não vai ser diferente. Como flamenguista, para mim está sendo maravilhoso meu início aqui, muito promissor. Na minha opinião tenho feito grandes partidas, e espero poder corresponder à altura. Se Deus quiser, que a gente possa conquistar vários títulos para a nossa torcida.

Você começou a pré-temporada na reserva e, após a lesão do Léo Moura, ganhou a posição e continuou titular mesmo com a volta dele. O que isso representou para você?
Quando cheguei, deixei bem claro que vim para poder ajudar, independentemente da posição em que venha a atuar. Vim para procurar meu espaço, trabalhar no dia a dia com muita seriedade. Toda vez que tiver oportunidade, vou procurar agarrar. As coisas estão acontecendo naturalmente para mim. Toda vez que entro em campo é para dar o meu melhor. O Léo Moura é um cara muito experiente. Quando cheguei aqui, ele foi um dos primeiros a me apoiarem, a me dar conselhos, por estar há 10 anos no clube. Ele conquistou tudo no Flamengo. Vou procurar fazer tudo aquilo que ele fez para também conquistar meu espaço e os títulos, que são a coisa mais importante.

Assim como fez o Léo, você pretende jogar no Flamengo por vários anos?
Esse é meu principal objetivo. Não é fácil. O Léo Moura é um cara vitorioso e que está no clube há 10 anos. Vou procurar seguir os passos dele. Ele é vencedor, um cara de grupo. Vou procurar as minhas oportunidades para que as coisas possam acontecer naturalmente

Qual o peso de substituir o Léo Moura? Como lidar com isso?Para mim é tranquilo, até porque sou um jogador experiente, já passei por dois grandes clubes, Santos e Grêmio, antes de chegar ao Flamengo. Não tem segredo. Vou procurar fazer o meu trabalho, conquistar o meu espaço. Estou muito feliz por defender meu time de coração e espero corresponder à altura.

Então vocês conversam bastante? O Léo te dá muitos conselhos?
Ele veio falar comigo quando cheguei aqui. A gente conversa e brinca no dia a dia. Ele falou para eu fazer as coisas com simplicidade para poder ganhar confiança. Falou que tenho um potencial muito grande, e fico feliz de ouvir essas coisas da boca dele. Me espelho nele. Tenho certeza que, com esses conselhos que ele me deu, poderei crescer cada dia mais no Flamengo.

Muitas vaias ainda podem surgir, principalmente por essa comparação ao Léo Moura. Você já pensou nisso? Como vai lidar com essa questão?
Não estou preocupado com isso. Procuro sempre fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. Claro que a gente sempre entra em campo para vencer, nunca para perder. Mas quem está jogando em time grande tem que estar acostumado a ter pressão. Aqui no Flamengo não é diferente. A gente vai ter momentos de altos e baixos, e tem que estar com a cabeça boa para poder passar por isso da melhor maneira possível. E sempre levando pelo lado positivo, pois nós estamos defendendo milhões de torcedores do Flamengo. Tenho certeza que vou levar a cobrança pelo lado positivo. Vou trabalhar muito e espero dar muitas alegrias ao nosso torcedor.

O Léo brincou uma vez, dizendo que foi ele quem trouxe o estilo de cabelo moicano para o futebol brasileiro. Você foi um seguidor dele nesse sentido?
Venho com meu moicano desde que cheguei no Santos, em 2008, aí peguei aquela turma toda do Neymar e do Ganso. Em 2010, quando conseguimos ganhar tudo no Santos, o Neymar fez esse corte e pegou todo mundo. Nunca mais larguei o moicano. O Léo Moura também tem moicano. Para mim é uma satisfação ter esses jogadores como exemplo não só no futebol, mas no cabelo também.

Pará, treino do Flamengo (Foto: Gilvan de Souza / Site do Flamengo) 
Pará tenta alcançar Léo Moura no treino: espelho para o novo titular (Foto: Gilvan de Souza / Site do Flamengo)
 
Como é sua a relação com o Vanderlei Luxemburgo, com quem trabalhou no Santos e no Grêmio antes do Flamengo?
É uma relação tranquila de treinador e atleta. Quando ele chegou ao Santos, foi ele quem me colocou para jogar. Por onde ele passa, tenta me contratar, até pela minha seriedade e pelo futebol de muita vontade e entrega que demonstro dentro de campo. Hoje em dia, o futebol brasileiro requer isso. Também sou um cara de grupo, bem alegre, e ele sabe que pode contar comigo para o que der e vier.

Você se vê hoje entre os melhores laterais-direitos do Brasil?
Tem vários jogadores da função que estão fazendo um papel interessante. Cito o Léo Moura, em quem me espelho, e o Marcos Rocha (do Atlético-MG), que vai muito bem na função. Não me preocupo em ser o melhor lateral, e sim em fazer o meu trabalho com muita seriedade. Se um dia eu vier a ser o melhor lateral de algum campeonato, vou ficar muito feliz.

E seleção brasileira? É uma meta com a qual você trabalha?
Deixo nas mãos de Deus. Procuro fazer meu trabalho no dia a dia, sem forçar nada e deixando que aconteça naturalmente. Claro que a seleção é um sonho, mas deixo nas mãos de Deus, Ele sabe o que faz. Vou trabalhar aqui para conquistar meu espaço.



Nenhum comentário:

Postar um comentário