A reaproximação que começou durante a Copa do Mundo, quando Vanderlei Luxemburgo e Edmundo voltaram a se falar, foi parar no papel na tarde desta sexta-feira. Em audiência extraordinária - prática é incomum às sextas-feiras - proposta pelo desembargador Luciano Rinaldi de Carvalho, na 7ª Câmara Cível do Rio de Janeiro, os dois entraram em conciliação por uma dívida antiga do atual treinador do Flamengo com o Animal de aproximadamente R$ 400 mil. O valor atualmente estaria corrigido em R$ 2,841 milhões, mas o ex-atacante e hoje comentarista esportivo fechou acordo por um montante de cerca de R$ 500 mil a menos. O encontro, que começou de manhã, teve mais de duas horas de diálogos, explanações, assinaturas e tentativas de entendimento.
- Foi um pouco tenso, mas no final
tudo terminou bem. Foi feito acordo, com pagamento parcelado de R$ 2,35
milhões em dez parcelas - explicou o advogado de Edmundo, Roberto Leven
Siano, logo após a sessão.
Edmundo não se mostrou completamente satisfeito com a decisão, mas celebrou fim da briga (Foto: Thiago Lima)
O
clima cordial do reencontro entre os dois no meio do ano passado não se
repetiu nesta sexta-feira. Acompanhado de seus advogados, eles deixaram
o local separadamente. Com treino do Flamengo marcado para às 16h30 no
Ninho do Urubu, Luxemburgo saiu apressado, atendeu rapidamente a pedidos
de fotos de funcionários da limpeza do fórum, e não atendeu a imprensa,
demonstrando certo incômodo com o tema.
- Não quero falar sobre isso, não - limitou-se a dizer o técnico.
Já
Edmundo comemorou timidamente o fim do imbróglio e por não precisar
voltar ao fórum, local de onde guarda más lembranças de quando foi julgado pela morte de três pessoas num acidente de carro em dezembro de 1995. Mas apesar do acordo, o Animal negou que tenha feito as pazes com o treinador do Flamengo.
-
Na verdade as pazes nunca foram feitas. Insistia em dizer que já tinha
pago, quando ainda existia a pendência. Isso me deixou muito chateado
porque parece que eu estava errado na história. O desembargador foi
muito bacana, honesto com ambas as partes, ao dizer que a briga não leva
a nada. É melhor um péssimo acordo do que uma boa briga. Entendendo
isso, também para estar livre desse tipo de perturbação, de ter que
voltar ao fórum, lugar que não me traz boas recordações, acabei
aceitando. Enfim, vida que segue, mas longe de estar em paz - explicou.
Técnico Vanderlei Luxemburgo deixou rapidamente a 7ª Câmara Cível do Rio de Janeiro (Foto: Thiago Lima)
Com o acordo, Luxa deve voltar a receber do Flamengo todos os seus vencimentos normalmente. Por conta do débito, o clube havia suspendido parte do pagamento,
já que em novembro foi determinada a penhora mensal de R$ 108 mil dos
salários do comandante. Recentemente, o Rubro-Negro comunicou a WL
Sports SS LTDA, empresa do técnico, que terá de depositar em juízo até
que se alcance o valor total cobrado.
Entenda o caso
A
relação entre Edmundo e Luxemburgo, historicamente, tem brigas e
reconciliações. Os dois se conheceram no Palmeiras, em 1993, onde
ganharam juntos dois títulos brasileiros, dois paulistas e um Rio-São
Paulo. Mas comandante e atleta tiveram uma relação conturbada, e atos de
indisciplina
do atacante causaram reações fortes. Em 1994, por exemplo, durante um
jogo contra o São Paulo, pela Libertadores, o jogador foi substituído e
reclamou publicamente - ele acredita que o fato foi determinante para
ter ficado fora da lista dos convocados para a Copa do Mundo de 1994.
Meses
depois, já no Flamengo, Luxa disse que ambos haviam feito as
pazes e que o Animal era como um filho para ele.
O último
episódio foi uma cobrança judicial feita pelo ex-atacante em 2006,
relativa a dois cheques que recebeu, cada um no valor de R$ 200 mil, que
seriam para quitar um empréstimo ao técnico em 1999. O Animal alegou
que não havia fundos. Na versão de Luxa, ele pagou e não teve recibo. Em
2011, a Justiça determinou o pagamento de uma dívida de quase R$ 2
milhões, e desde então o caso foi se arrastando nos tribunais. Ano
passado, no dia da final da Copa do Mundo, os dois voltaram a se falar e
até jantaram juntos no Rio, dando a entender que um acordo estaria
próximo.
- Eu sempre o tive como o melhor treinador da minha
carreira. O mais importante foi o Antônio Lopes, que me deu a primeira
chance, mas ele foi o mais capacitado. Eu o tinha como um pai, enfim...
Ele se sentiu traído quando soube da ação e ficou um período distante,
mas não desgosto dele nem mudo minha opinião por causa de um problema
particular - disse Edmundo, na época.
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