Mesmo com o Flamengo na lanterna e tendo os piores ataque e defesa do Campeonato Brasileiro - ao lado do Figueirense, com oito gols marcados e 20 sofridos -, a confiança de quem comanda o clube segue inabalada. Depois do presidente Eduardo Bandeira de Mello declarar mais de uma vez nos últimos meses que o Rubro-Negro não cairá para a Segunda Divisão, agora foi a vez de Vanderlei Luxemburgo. Em entrevista à Rádio Globo, o recém-contratado treinador, que dirigiu a equipe em dois jogos, explicou que com 50% dos pontos a serem disputados é possível escapar do rebaixamento.
Restam 25 partidas. Com mais 38 pontos, aproximadamente metade do que estará em jogo, o Fla terminaria a competição com 48, pontuação que matematicamente garante a permanência na Série A. Desde que o Brasileirão passou a ser disputados por 20 clubes em sistema de pontos corridos, o Coritiba, em 2009, foi o rebaixado com o maior número de pontos: 45.
Para alcançar o objetivo de manter o Flamengo no seleto grupo dos clubes brasileiros que nunca foram rebaixados (Cruzeiro, Internacional, São Paulo e Santos formam a lista ao lado do Rubro-Negro), Luxa pede foco. Nada de pensar em metas além de fugir da degola. O comandante cobrou "espírito de decisão" e usou a vitória no clássico sobre o Botafogo como exemplo.
- O medo de perder tira a vontade de ganhar. Não acredito que com minha competência o Flamengo vai cair. Não vai. Só penso em coisa boa. Se tivéssemos vencido a Chapecoense, a coisa era outra: "O Vanderlei é mágico!". Contra o Botafogo, o futebol foi sofrível, mas tivemos raça. Esse grupo vai ter que se conscientizar que ele vai tirar o Flamengo dessa situação. Se eu conseguir formar esse grupo, dar uma sustentação, tem que confiar em alguém. Esse é um momento difícil, mas que dá para reverter. O importante é identificar o que o Flamengo tem hoje. Não é a melhor equipe, não briga pela Libertadores, e sim para não cair. Não adianta pensar num Flamengo forte, dando pancada em todos, como foi em 2009. A competição do Flamengo é sair da zona de rebaixamento. Esse é o título do Flamengo. Essa é a realidade, não dá para ficar enganando o torcedor. Cada jogo é uma decisão, esse é o espírito.
Durante quase uma hora de entrevista, Luxemburgo falou da expectativa sobre os recém-contratados Canteros e Eduardo da Silva; disse confiar em Mugni como armador do time; evitou comentar sobre a situação de jogadores encostados (como André Santos e Elano) e sobre Robinho, que estava na mira do Fla e acertou com o Santos; e deu a entender que o Flamengo vai priorizar a fuga da degola em detrimento à Copa do Brasil, competição em que o clube entrará direto nas oitavas de final.
Confira outros trechos da entrevista de Luxa:
Mugni
- Excelente jogador, muita qualidade, forte... Às vezes cometemos o erro, uma análise de que jogador chegando ao Brasil, se adaptando, já seja a solução de imediato. Com brasileiro já é difícil fazer isso acontecer. Cobramos de um jogador de 18, 20 anos, como se fossem craques. O Zico capengou, ficou um período de transição, não entrava até pegar no breu. Em 1974 que começou a explodir, talvez um pouquinho mais à frente. Um exemplo de argentino que veio para o Vasco, não deu certo de imediato no Fluminense e depois virou ídolo é o Conca. O Mugni é o jogador que consegue ver com mais clareza. Ele tinha que ser coadjuvante de outros, ele está segurando uma onda que não está preparado. Mas tenho que insistir porque é o único jogador com talento que possa olhar mais à frente. Se pegar alguns lances contra o Botafogo, ele teve as bolas do jogo para definir. Só não está com essa segurança. Acho que tem potencial e vai continuar (titular).
Jogadores encostados
- Tem que ser um assunto bem discutido internamente. Externamente você não consegue uma situação satisfatória para o clube. Tem que ter muita calma numa hora dessas. Já tinham sido tomadas as decisões antes. É uma coisa muito interna senão traz problemas seríssimos.
Último trabalho, pelo Fluminense
- A minha passagem pelo Fluminense, nunca tinha feito isso, contrato de cinco meses. Falo isso há anos, de planejamento e projeto, depois da Copa virou uma constante. Vida é feita de planejamento e projetos. Fluminense teve eleição, momento de transição, não deu certo. Muitos jogadores lesionados, e a coisa não engatava. Aí veio a mesma situação parecida de agora. Falei para o presidente do Fluminense que nosso campeonato passou a ser diferente. Peter não cumpriu a palavra após a derrota para o Corinthians, quis dar cartada política. Sabemos como funciona, estamos calejados. Poderíamos ter feito de maneira diferente. Mas é um cara que gosto, pensa no Fluminense.
Era o momento de voltar ao trabalho?
- Meu projeto não era voltar agora, tive um problema com uma das minhas filhas sério de saúde. Recuperou, tudo sossegado. Queria ficar até o fim do ano sem trabalhar, cuidando das coisas pessoais. Direcionando minha filha Vanessa para ser testa dos meus negócios. Mas aí veio o convite. Flamengo não convida, Flamengo convoca. Tive conversa séria, vi que são pessoas que querem coisas sérias (diretoria). Independente de ter votado na Patricia, contra eles, sou flamenguista e o voto é democrático. Momento importante meu e do clube de avançarmos nesse sentido.
Comentarista durante a Copa do Mundo
- Não fui contratado para ser comentarista da Seleção. Ficava ali no programa do Falcão. Pediram para eu fazer uma dobradinha com o Mario Sérgio em jogo, é agradável, o João Guilherme também. Acabei encaixando ali. Como homem de futebol, prestígio que eu tenho, passar informação para o torcedor, por que vou me furtar? Ética não tem a ver com isso. Comentei a Copa, mas sempre abordando o que eu via nos jogos. Sempre dizendo que a decisão e a responsabilidade era sempre do Felipão.
Posicionamento de Canteros
- Isso é coisa de Brasil. O time campeão do mundo jogava com três jogadores soltos, que trocavam de posição. Não falavam de primeiro ou segundo volante. Khedira, Schweinsteiger - esse nome difícil que eu tive que falar (risos) - e Kross. E cada hora era um. O Canteros joga como primeiro, segundo ou terceiro. Mas você não vai ter um terceiro como meia, e sim como foi a Alemanha. Três que trocam e têm toque de bola, eu prefiro esse tipo. Posso jogar com Muralha, Canteros e Luiz Antonio, marcação e saída de bola. Mas posso jogar só com o Cáceres, que faz o papel até de zagueiro.
Léo Moura no meio?
- Isso aí... (negando). Se eu começar a fazer teste, o couro come em cima de mim. Tem que definir: "É esse time aqui". As possibilidades de mudanças acontecem naturalmente.
Copa do Brasil
- Ir pra segunda divisão disputando as duas? Eu escolho o Campeonato Brasileiro. De repente pode acontecer como o Palmeiras, ganhou e caiu. O torcedor do Flamengo sabe o que nós queremos. Juntos vamos tirar o Flamengo dessa confusão. Falei com o Fred (Luz, diretor de marketing) e Felipe Ximenes (diretor executivo) para planejarmos 25 jogos. Não vamos tirar a Copa do Brasil do calendário, mas o grande trabalho é o Flamengo não cair. Queremos 50% de aproveitamento.
Robinho
- Conheço o Robinho. Na opção de Santos e Flamengo, ia optar pelo Santos. Não tinha dúvida disso.
Eduardo da Silva
- Jogador interessante que ficou fora do Brasil. Faz um lado de campo muito bem feito. Consegue jogar com boa técnica, encostar no ataque. Tem um passe muito preciso, mas ainda não está em forma. Vai ajudar bastante. O Flamengo não vai cair, temos coisa boa. Lucas Mugni, por exemplo, tem muita qualidade. Paulinho é um jogador fantástico.
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