Fala mansa, jeito brincalhão fora das quatro linhas, mas com seriedade à
beira do campo. Dos 60 anos de vida de Jayme de Almeida, grande parte
foi vivida dentro do Flamengo, do começo como jogador de base até o time
profissional. Assim como Carlinhos e Andrade, o técnico que estará à
frente do Rubro-negro diante do Náutico, neste domingo, às 16h, na Arena
Pernambuco, sabe como poucos o que representa vestir a camisa em tom
vermelho e preto. E, com conhecimento, Jayme, que substitui Mano
Menezes no comando da equipe, parece ter no coração a receita para dias
melhores.
- O Flamengo tem muito a ver com luta. Essa é a história do clube, a
filosofia. Luta não é pontapé, é se doar ao máximo. Tivemos grandes
ídolos que não foram grandes craques, mas inspiraram essa luta para
torcida. Quando a coisa não anda bem, o que é normal, tem que ter
doação. Isso que tentamos passar. A torcida percebe isso e vai com a
equipe, mesmo sem jogar maravilhosamente. Tem dia em que a coisa não
funciona. O próprio Zico já falou: “Não precisa fazer 20 gols, então vou
correr, dar bico”. Fui criado aqui dentro, aprendi a ser assim. Aprendi
também que, para ganhar do Flamengo, tem que correr muito mais do que a
gente – afirmou o treinador.
Como zagueiro, Jayme defendeu as cores do Flamengo na década de 70.
Pelo clube, chegou à Seleção em um torneio disputado em 1976. No
Rubro-Negro, além de jogador, trabalhou nas categorias de base, rodou
por outros clubes e retornou à Gávea em 2010. No auge de sua
simplicidade, o treinador não alimenta sonhos sobre sua permanência. A
realidade é vencer o Náutico neste domingo.
Questionado sobre uma possível efetivação, Jayme diz:
- Sou bem simples e sincero. Tenho que pensar jogo a jogo, não dá para
projetar. Minha única preocupação é conseguir uma vitória contra o
Náutico, que vai dificultar nosso objetivo. E aguardar o que vai
acontecer daqui para frente. Tenho muito carinho e respeito por esse
clube.
Numa época em que jogadores chegam ao Flamengo por empréstimo, muitos
sem conhecerem as raízes do clube, Jayme dá sua lição. E jamais coloca o
Flamengo como algo à parte. Quando conjuga o verbo, troca o ele por
nós:
- Tenho que tentar uma equipe equilibrada e, acima de tudo, com
espírito, se doando mais, Temos que ser mais Flamengo, que é aguerrido,
lutar sem desorganizar. Temos que jogar.
Jayme já comandou a equipe após as quedas de Vanderlei Luxemburgo e
Jorginho. Quando Joel Santana foi demitido, no ano passado, ele treinou a
equipe, mas Dorival foi para o banco um dia depois de assinar contrato.
Neste domingo, Jayme terá mais uma oportunidade. Ao falar sobre
Flamengo, a voz chega a ficar embargada. E as palavras mostram um
sentimento muitas vezes sufocado apenas por cifras, e não amor à camisa.
- Comecei no Flamengo como jogador nas categorias de base e passei por
quase todas as funções. Tenho orgulho muito grande quando vou a campo.
Trabalhei em outros clubes, mas não com o mesmo porte. Não tem quem não
queria trabalhar aqui, qualquer um que tenha tem ambição de ter o
Flamengo no currículo. Tenho carinho e orgulho de estar aqui – destacou.
À beira do campo, um Jayme sério; fora dali, uma pessoa sempre de bom humor e pronta para uma brincadeira.
- Na minha vida, ainda quando jogava, sempre gostei de brincar, ter
ambiente legal, fazer um lado lúdico, e não é só com jogador, até com
porteiro do meu prédio. Mas no trabalho é seriedade. Não adianta entrar e
os caras acharem que estou brincando. Tem esse respeito. Isso é legal,
não é de hoje, meu foco é o trabalho. Mas acaba se divertindo um pouco.
Diversão à parte, Jayme sabe que o Flamengo é coisa séria.
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