O caso Oscar Pistorius chocou o mundo do esporte. O fato do corredor
paralímpico ter confessado atirar na namorada, alegando que a teria
confundido com um invasor, gerou um debate sobre o comportamento dos
ídolos do esporte. Para o ex-jogador Gilmar Rinaldi, a fama pode alterar
a personalidade de um atleta, principalmente no caso do futebol.
Ex-empresário de Adriano,
Gilmar revela que o jogador, que passou por fases conturbadas em sua
carreira, não teve um acompanhamento psicológico adequado e não consegue
gerenciar sua vida.
- O Adriano teve uma fase fantástica de aprendizado, amadurecimento, é
uma pessoa maravilhosa, mas ele acaba não conseguindo gerenciar sua
própria vida. Não sei se ele realmente sabe o que quer, porque se você
perguntar para ele se ele queria ir à Copa do Mundo, acho que ele teria
dúvidas, acho que ele não quis ir. Tínhamos uma relação quase de pai e
filho e eu tinha a obrigação de falar isso para ele. Mas a aceitação é
que muda. Na época ele me ouvia muito, depois ouvia menos. Meu
relacionamento com o Adriano e com a família dele era muito franco e
direto, sempre dei minha opinião e não gosto muito de rodeios e é claro
que eu sou chato por isso. Então, muitas vezes ele se incomoda. O ídolo
tem que saber dizer não para que as coisas tenham um equilíbrio -
revelou.
Adriano rescindiu o contrato com o Flamengo e se afastou do futebol (Foto: Cezar Loureiro / Agência O Globo)
Gilmar ainda lembra que sempre foi favorável que seu atleta tivesse um
acompanhamento com um psicólogo, porém o erro foi no perfil do médico
escolhido pelo clube em que Adriano atuava na época, o Internazionale.
- Ele chegou a ter algumas consultas com um médico indicado pelo Inter,
que fiz questão de conhecer. Percebi que o clube errou ao escolher um
médico com o perfil totalmente errado, ele era estranho ao meio do
futebol. Quando ele veio para o São Paulo, uma das condições que eu
coloquei para ele e para a mãe dele era que fizesse um acompanhamento
psiquiátrico. Ele teve uns dois ou três meses fantásticos.
Por experiência própria, Gilmar afirma que os clubes deveriam
incorporar o acompanhamento psicológico ao departamento médico. Segundo
ele, essa é a melhor forma dos times criarem novos ídolos no Brasil, com
o apoio de profissionais qualificados.
- Você apontar um psicólogo para um jogador é uma maldade. Opinião de
um ex-jogador que viveu o vestiário, porque você apontou o louquinho da
turma. Você tem que inserir isso como uma coisa natural, porque se não o
psicólogo vai ser rejeitado. Para isso, tem que ter a habilidade da
direção de contratar uma pessoa que não seja estranha a esse mundo do
futebol, que tenha essa linguagem, que saiba entender um pouco. Se não,
você vai colocar um estranho no ninho e vai fazer o efeito contrário.
Adriano nasceu e foi criado na Vila Cruzeiro, comunidade do Zona Norte
do Rio que sofria com a ação violenta de traficantes. Desde que surgiu
no time profissional do Flamengo, em 2000, o vigor físico e força de
Adriano chamaram a atenção e o atacante logo fez fama internacional. Na
Itália, o jogador ficou conhecido como "O Imperador", em alusão ao
imperador romano Adriano, e conquistou títulos importantes pelo Inter de
Milão, como os Campeonato Italianos de 2006, 2007, 2008 e 2009, e pela
seleção brasileira, com a Copa América de 2004 e a Copa das
Confederações de 2005.
Entretanto, logo após o falecimento de seu pai, a carreira do jogador
começou a declinar. Adriano se atrasava constantemente para os
treinamentos e muitas vezes nem se apresentava. Para Gilmar, foi nessa
época que o Inter de Milão pecou e as coisas começaram a piorar.
- Tive uma conversa com o presidente do Inter (Massimo Moratti) porque
eles estavam acabando com meu trabalho. Tudo que eu falava não, eles
diziam sim, como nas reapresentações. Estava tudo armado para ele chegar
na hora, faltando três horas para o voo, ele ligava para o presidente e
negociava uma nova data. O jogador sabe qual é o limite dele. Quando
esse limite é quebrado sucessivamente quer dizer que ele não tem mais
limite.
Gilmar Rinaldi ao lado da mãe e da avó de Adriano (Foto: Reprodução/Twitter)
Em abril de 2009, Adriano declarou que pretendia parar de jogar por
tempo indeterminado, pois tinha perdido a alegria de jogar futebol. E
rescindiu o contrato com o Internazionale. Mas no mês seguinte, acertou o
retorno ao Flamengo e conquistou o título do Brasileirão daquele ano.
Os problemas pessoais persistiam, a falta de cuidados com a condição
física, também. O jogador eventualmente admitiu sofrer de problemas
devido ao alcoolismo e se envolveu em um caso onde uma mulher foi
baleada na mão dentro de seu carro. Atualmente sem clube, não há
indicação que Adriano vá retornar ao futebol.
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