terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Adriano não consegue gerenciar sua vida, revela ex-empresário


O caso Oscar Pistorius chocou o mundo do esporte. O fato do corredor paralímpico ter confessado atirar na namorada, alegando que a teria confundido com um invasor, gerou um debate sobre o comportamento dos ídolos do esporte. Para o ex-jogador Gilmar Rinaldi, a fama pode alterar a personalidade de um atleta, principalmente no caso do futebol. Ex-empresário de Adriano, Gilmar revela que o jogador, que passou por fases conturbadas em sua carreira, não teve um acompanhamento psicológico adequado e não consegue gerenciar sua vida.

- O Adriano teve uma fase fantástica de aprendizado, amadurecimento, é uma pessoa maravilhosa, mas ele acaba não conseguindo gerenciar sua própria vida. Não sei se ele realmente sabe o que quer, porque se você perguntar para ele se ele queria ir à Copa do Mundo, acho que ele teria dúvidas, acho que ele não quis ir. Tínhamos uma relação quase de pai e filho e eu tinha a obrigação de falar isso para ele. Mas a aceitação é que muda. Na época ele me ouvia muito, depois ouvia menos. Meu relacionamento com o Adriano e com a família dele era muito franco e direto, sempre dei minha opinião e não gosto muito de rodeios e é claro que eu sou chato por isso. Então, muitas vezes ele se incomoda. O ídolo tem que saber dizer não para que as coisas tenham um equilíbrio - revelou.


Adriano se despedindo do Flamengo (Foto: Cezar Loureiro / Agência O Globo) 
Adriano rescindiu o contrato com o Flamengo e se afastou do futebol (Foto: Cezar Loureiro / Agência O Globo)

Gilmar ainda lembra que sempre foi favorável que seu atleta tivesse um acompanhamento com um psicólogo, porém o erro foi no perfil do médico escolhido pelo clube em que Adriano atuava na época, o Internazionale.

- Ele chegou a ter algumas consultas com um médico indicado pelo Inter, que fiz questão de conhecer. Percebi que o clube errou ao escolher um médico com o perfil totalmente errado, ele era estranho ao meio do futebol. Quando ele veio para o São Paulo, uma das condições que eu coloquei para ele e para a mãe dele era que fizesse um acompanhamento psiquiátrico. Ele teve uns dois ou três meses fantásticos.

Por experiência própria, Gilmar afirma que os clubes deveriam incorporar o acompanhamento psicológico ao departamento médico. Segundo ele, essa é a melhor forma dos times criarem novos ídolos no Brasil, com o apoio de profissionais qualificados.

- Você apontar um psicólogo para um jogador é uma maldade. Opinião de um ex-jogador que viveu o vestiário, porque você apontou o louquinho da turma. Você tem que inserir isso como uma coisa natural, porque se não o psicólogo vai ser rejeitado. Para isso, tem que ter a habilidade da direção de contratar uma pessoa que não seja estranha a esse mundo do futebol, que tenha essa linguagem, que saiba entender um pouco. Se não, você vai colocar um estranho no ninho e vai fazer o efeito contrário.

gilmar rinaldi twitter adriano (Foto: Reprodução/Twitter)
Adriano nasceu e foi criado na Vila Cruzeiro, comunidade do Zona Norte do Rio que sofria com a ação violenta de traficantes. Desde que surgiu no time profissional do Flamengo, em 2000, o vigor físico e força de Adriano chamaram a atenção e o atacante logo fez fama internacional. Na Itália, o jogador ficou conhecido como "O Imperador", em alusão ao imperador romano Adriano, e conquistou títulos importantes pelo Inter de Milão, como os Campeonato Italianos de 2006, 2007, 2008 e 2009, e pela seleção brasileira, com a Copa América de 2004 e a Copa das Confederações de 2005.

Entretanto, logo após o falecimento de seu pai, a carreira do jogador começou a declinar. Adriano se atrasava constantemente para os treinamentos e muitas vezes nem se apresentava. Para Gilmar, foi nessa época que o Inter de Milão pecou e as coisas começaram a piorar.

- Tive uma conversa com o presidente do Inter (Massimo Moratti) porque eles estavam acabando com meu trabalho. Tudo que eu falava não, eles diziam sim, como nas reapresentações. Estava tudo armado para ele chegar na hora, faltando três horas para o voo, ele ligava para o presidente e negociava uma nova data. O jogador sabe qual é o limite dele. Quando esse limite é quebrado sucessivamente quer dizer que ele não tem mais limite.

Gilmar Rinaldi ao lado da mãe e da avó de Adriano (Foto: Reprodução/Twitter)

Em abril de 2009, Adriano declarou que pretendia parar de jogar por tempo indeterminado, pois tinha perdido a alegria de jogar futebol. E rescindiu o contrato com o Internazionale. Mas no mês seguinte, acertou o retorno ao Flamengo e conquistou o título do Brasileirão daquele ano. Os problemas pessoais persistiam, a falta de cuidados com a condição física, também. O jogador eventualmente admitiu sofrer de problemas devido ao alcoolismo e se envolveu em um caso onde uma mulher foi baleada na mão dentro de seu carro. Atualmente sem clube, não há indicação que Adriano vá retornar ao futebol.

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