Ao jogar videogame, Willians escala Willians. No Flamengo, depois de
uma sequência de atos de indisciplina, vive o seu momento mais
problemático desde a chegada, em 2009. A falta sem justificativa ao
treino do último sábado, véspera do importante jogo contra o Grêmio,
provocou o corte do volante da partida e o afastamento do elenco por
tempo indeterminado. Do mundo virtual para o real, sai a máquina e entra
o ser humano, com seus defeitos e a certeza de que a vida de jogador de
futebol não pode ser controlada como num jogo de Nintendo. Willians
esteve perto do Game Over.
- Queria parar de jogar, eu ia parar.
O jogador repensou a decisão. A partir de agora, terá o acompanhamento de um psicólogo para evitar recaídas.
Willians joga video game. Na tela, futebol virtual, com 'Willians' em campo (Foto: Janir Junior)
Apesar de desentendimentos com a mulher, Mariana, prestes a dar luz a
Beatriz, os problemas particulares são outros que vão além, mas que
Willians prefere não se estender. Ele admite que faltou suporte na
ascensão.
Em 2009, ao acompanhar de perto a trajetória de Adriano, o volante viu gols e problemas, recaídas e superações.
Em entrevista exclusiva, Willians reconhece o erro, pede desculpa aos
companheiros, ao técnico Vanderlei Luxemburgo, à torcida e promete:
- Vou ser um novo Willians.
O que você pode falar sobre todo episódio, do sumiço, a falta ao treino de sábado sem dar justificativas, o afastamento?
Sei que errei por não ter ido ao treino. Errei com meus companheiros,
com a torcida, com o professor Vanderlei, com a diretoria, todos que
contavam comigo. Não estava num momento muito agradável. Passava por
problemas particulares há um tempo, mas sempre guardei para mim, sabia
que uma hora ia estourar. Queria ficar sozinho, não tinha mais cabeça
para jogar, nem para ir trabalhar. Fiquei isolado, sem ninguém para me
incomodar. Lógico que sei que tinha que dar uma justificativa, mas não
tinha cabeça para fazer isso. Não estava legal. Aconteceu, refleti muito
no sábado, domingo, conversei com minha esposa, amigos e familiares.
Pude refletir bastante. Estou muito arrependido. Deixei companheiros, o
Flamengo e a nação numa situação difícil. Estava de cabeça quente.
Quando fica assim, a pessoa não pensa em nada. Acabei explodindo. Queria
parar de jogar, eu ia parar. Com o apoio de todos, do próprio Isaías
Tinoco, que conheço há muito tempo, vou fazer o máximo para voltar a
jogar e ajudar a equipe.
Willians faz sinal de positivo na varanda do apartamento onde vive (Foto: Janir Junior)
Você repensou o fato de parar de jogar, sabe que errou, pede desculpas... Mas o que esperar do Willians a partir de agora?
Admito que toda ajuda é válida. É sempre bom tem um ser humano ao seu
lado para dar apoio nos momentos bons ou ruins. Vivi uma fase boa e
passei por uma situação que não era apropriada. Tenho um amigo que é
psicólogo. Ele vai me ajudar, já que tenho dificuldades de abrir meus
sentimentos para quem não conheço. Eu precisava disso. Farei de tudo
para voltar a jogar. Vou buscar ser um novo Willians. Tenho que pensar
na minha família, na minha esposa, meus filhos.
Como seria um novo Willians?
Quero conquistar muita coisa, tenho 25 anos, sou novo, tenho que tirar
isso como aprendizado. Quero ser ídolo, quem sabe um dia jogar no
exterior, ser reconhecido, ser lembrado. Isso é o que quero. Uma criança
que sonha ser como a gente, como eu fui um dia, nunca pode largar esse
sonho.
Saindo do interior de São Paulo, com origem humilde, você
passou pelo Santo André e chega num clube como o Flamengo. O mundo do
futebol mexeu com sua cabeça?
Acho que sim. Para você fazer o que você pensa, analisar o que está
acontecendo, tem que ter uma estrutura. Eu não tive. Era muita coisa na
cabeça, a questão de dinheiro... Não soube conduzir o que tinha que
fazer ou não. Tive meu momento de fraqueza. Mas todos merecem uma chance
para dar a volta por cima. Isso que quero fazer. Fazer meu trabalho
bem, pois não cheguei aqui roubando ninguém.
Para permanecer no Flamengo, mais do que nunca terá que provar que tem compromisso com o clube, não poderá cometer mais erros...
Quero ficar no clube, tenho essa vontade grande. Foi o clube que abriu
as portas para mim, onde conquistei título, que me fez sentir bem, fiz
muitos amigos. Acho que vou voltar com tudo, como sempre foi.
Quando se quebra a confiança é difícil reconquistar. Como fazer para conseguir isso?
O trabalho e a disciplina são as melhores respostas. Vou mostrar que estou querendo.
Concorda que é preciso ter a cabeça no lugar, que os problemas e
excessos fora de campo refletem diretamente dentro das quatro linhas?
Sendo pessoa pública, o jogador, muita coisa ao redor. Tenho que
esquecer e mostrar que todo ser humano erra. Fazer de tudo para acertar.
Na parede, as conquistas como jogador de futebol profissional (Foto: Janir Junior)
Por um problema particular, você quase coloca tudo a perder.
Tem noção que toda a caminhada desde a infância passou perto de ser
jogada fora?
No momento em que eu estava, não pensei em tudo que passei, no meu
começo de carreira, das dificuldades. As pessoas ao lado abriram meu
olho, que eu não tinha que largar. Agora, tenho que seguir em frente
para chegar no clube e pedir desculpa a todos. Dentro do clube vou
mostrar o que é ou não é.
Futebol tem momentos de conto de fadas com capítulos de terror ou suspense?
Futebol não é só um conto de fadas, muito pelo contrário. Dentro ou
fora de campo todos têm problemas. Passei por esse problema. Não sou um
robô, máquina, tenho sentimentos. Você está ali, mas ninguém sabe o que
passa dentro de ti. Ninguém sabia o que se passava comigo, eu não me
abria, acabei estourando.
Se hoje você encontrar seus companheiros, que ficaram
preocupados, com Vanderlei, que achou falta de compromisso, com a
torcida, que sabia da importância do jogo... O que falaria?
Não estava num momento bom para jogar. Sei que errei. Uma desculpa não
seria tudo. Quero fazer as pessoas olharem que sou ser humano, se
conversasse alguns entenderiam.
Tem um prazo para tentar voltar ao grupo?
Primeiramente, tenho que voltar ao trabalho. Separado ou não do grupo,
vou voltar a trabalhar, passar confiança para voltar a jogar. Sei que
tenho essa capacidade.
Há poucos dias, você nem queria ver bola, e agora já está com saudade?
Quero voltar a atuar, quero treinar com bola, para mostrar que eu vou voltar.
No videogame (o jogador é fanático pelo futebol virtual), você escalaria o Willians?
Escalaria, sim. Afinal, sou eu (risos). Estou jogando ainda mais videogame para relembrar. Me ver é sempre bom.
Mas no videogame não tem como treinar separado...
Não dá mesmo. Ou tá dentro ou tá no banco, na casinha.
Em quadro, Willians em dois momentos pelo Flamengo (Foto: Janir Junior)
Em 2009, Adriano viveu situação semelhante. Largou a
Internazionale de Milão, disse que abandonaria a carreira, cometeu
excessos fora de campo, mas, mesmo com todos os problemas, conseguiu
voltar e ser campeão brasileiro...
Pude ver a força de vontade que ele teve para mostrar que era o
Imperador. Achei até emocionante, ele é como um irmão. Tive essa recaída
e vou tirar de lição. O Pitbull vai voltar.
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