domingo, 14 de março de 2010

Império das “pérolas” no Mengão

Nos anos 60 do século passado, o jornalista e escritor Sérgio Porto (1923-1968) eternizou nos anos 60 uma série clássica do humor brasileiro, o FEPEABÁ: Festival de Besteira que Assola o País. Usando o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, ele aproveitava frases infelizes, autoritárias ou francamente boçais desferidas por autoridades e políticos brasileiros.

Foi uma semana imperial no Flamengo – por mais que o dono da coroa não estivesse em campo nas partidas que o time venceu. Em vez de jogar em Volta Redonda e Caracas, a metade nobre do Império do Amor ficou no Rio de Janeiro – e ficou justamente porque o amor em seu império privado entrou, digamos, em campo. O barraco na corte da Chatuba, que opôs Imperador e Imperatriz, removeu Adriano dos gramados. E expôs o delicado equilíbrio rubro-negro.


O que se viu depois do barraco da Chatuba foi um exercício de ginástica verbal para justificar o injustificável. Poucas vezes o sincericídio foi exercido com tanta capacidade. Dirigente dizendo que seu jogador tem problema com bebida? Jogador perguntando quem nunca bateu em mulher? Médico dizendo que álcool não tem problema nenhum? Bem-vindos ao FEBEAFLA.

A ironia é que as pérolas proferidas oscilaram entre o cinismo e uma estranha sinceridade. Marcos Braz tinha uma intenção – evitar que os rumores que ligavam Adriano ao uso de drogas ganhassem corpo. Seu método? Lembrar que o jogador tem problemas com álcool. O próprio Adriano admitiu isso no passado – e não é segredo para ninguém na Gávea a relação entre o Imperador e a cevada. A tática funcionou - mas a que custo?

E a frase de Andrade? Pode alguém ser mais sincero do que isso:

- Se o Adriano tivesse comportamento exemplar… estaria na Europa e não no Flamengo.

Pena que pouco depois o treinador tenha deslizado:

- Os jogadores não foram a um baile funk. Foram beber juntos num barzinho.

O festival de pérolas trouxe para a superfície a dificuldade que o Flamengo tem para lidar com seu principal jogador. É um equilíbrio Interessante. O cálculo dos dirigentes rubro-negros é até simples: a conta Adriano pode ser alta, mas vale a pena – como demonstrou o título brasileiro. Dentro de campo – em razoável forma – ele resolve. Vale a pena cada sumiço, cada desculpa esfarrapada, cada confusão. Por isso, a politica de tolerância maxima.

Mas essa política tem preço. Os embalos de Adriano corroem a imagem do Flamengo. E a tolerância com sua vida sem regras passa a sensação de que o clube não tem comando. Por isso, depois do barraco da Chatuba – temperado pela declaração supimpa do goleiro Bruno sobre sair na mão com moças - a presidente Patrícia Amorim precisou deixar o gabinete e falar. Falar suave com tom grosso – deixando no ar a ameaça de mandar o Imperador embora. Ninguém no Flamengo tem o menor desejo de cumprir a ameaça. Mas ela tem uma tradução: Adriano precisa continuar resolvendo em campo.


O subtexto da ameaça é que, para resolver em campo, Adriano precisa treinar – pelo menos um pouco. O futebol rubro-negro tem convivido com as noitadas (que não são só do Imperador) e com a agenda flexivel (essa é só dele). Todos sabem que sua folga pós-jogo é estendida e sagrada; que nem sempre ele aparece aos sábados; e que gosta de tomar cerveja com freqüência. Mas quando Adriano engorda, perde a forma e se arrasta em campo… a conta começa a ficar salgada demais.

Até agora, o Imperador só jogou bem uma partida e meia em 2010: no segundo tempo do Fla-Flu e na vitória contra a Universidad Catolica, no Maracanã. É pouco pelo custo. Mas a confusão ajudou, de certa forma, os gestores do clube. Adriano deixou o episódio acreditando que a imprensa exagerou na cobertura do barraco – e, ao que parece, motivado para responder em campo. Foi treinar na praia na manhã de quinta-feira (treinar de manhã, algo raríssimo na sua agenda recente). E deu entrevista dizendo que não tinha perdido a alegria de jogar.

Neste domingo, o Imperador voltará – depois de 20 dias – a jogar pelo Flamengo. E terá a seu lado, como sempre, a torcida do clube. Mas, no meio da torcida, haverá uma torcedora em especial. A tal “alegria de jogar” de Adriano, atualmente, tem muito a ver com a vulcânica relação que mantém com Joana Machado. Se continuar de mãos dadas com a Imperatriz – e recusar alguns convites de sua ampla corte – é bem possível que Adriano volte, rapidamente, a imperar também dentro de campo.

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