Com
quatro rodadas, a Federação de
Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) festeja o aumento de público
do Campeonato Carioca em
relação à edição do ano passado. Em termos financeiros, a situação é
ainda melhor para a entidade. Afinal, ao contabilizar apenas taxas de
bilheteria, a entidade já lucrou
R$ 244.841 com os 32 jogos disputados. Ninguém fez tanto dinheiro com a
venda de ingressos no estadual. O clube que chegou mais perto disso foi o
Flamengo, time de maior público
nos estádios. Com as despesas descontadas, os cofres
rubro-negros receberam R$ 68.206,56 de bilheteria. Os números são
baseados nos borderôs das partidas e não levam em consideração as cotas
de transmissão.
Flamengo x Barra Mansa recebeu 13.235 pagantes
Os rivais não chegam perto desse valor e, inclusive, têm
fechado no vermelho. A exceção é o Fluminense, com saldo positivo de modestos R$
2.029,48. O Botafogo só não ficou no prejuízo em uma partida (na vitória sobre
o Bonsucesso, que levou 9.562 pagantes ao Engenhão pela terceira rodada) e tem
saldo negativo de R$ 24.406,17. A situação do Vasco é pior: são R$ 74.923,82 em
prejuízo com bilheterias.
A matemática das bilheterias não tem muito mistério. A
Ferj leva geralmente 10% da renda bruta das partidas e sai sempre no lucro. Os
clubes, em contrapartida, têm que arcar com delegado, carro forte, taxa de
iluminação, posto médico, INSS, taxa de bombeiro, antidoping... As despesas de
um jogo profissional são inúmeras e caem na conta dos clubes. Ou seja, se a
casa não estiver cheia, o prejuízo é provável, e, com exceção do Flamengo, essa
é a realidade dos participantes.
O
presidente da Ferj, Rubens Lopes, observa a situação de uma maneira
diferente e lembra que os clubes possuem outras receitas. Fora direitos
de transmissão – e bilheteria –, ele alega que os clubes ganham também,
por exemplo, com estacionamento e bares.
– Os clubes também
não perdem. Não é verdade que têm prejuízo em jogos. Prejuízo é quando a
despesa é maior que a receita. As receitas ligadas ao evento são
aquelas que não existiriam se não houvesse evento. Direito de TV,
camarote, bar, estacionamento... Se dependesse só de bilheteria, nenhum
evento aconteceria. O Rock in Rio não aconteceria. Então, todas as
receitas têm que ser colocadas no borderô. No Maracanã, 50% das despesas
são com o estádio. Então, não é a taxa da Federação o problema. E quem
aprovou este modelo foram os clubes – disse Rubinho em entrevista ao
jornal "O Globo" publicada neste domingo.
Na mesma entrevista,
Rubens Lopes se defende ao justificar que outras federações também
cobram taxas da renda das partidas. E ele garante que o dinheiro é
repassado de volta aos clubes (assim como os 5% da Previdência Social –
outra taxa descontada da renda dos jogos). Além disso, explica o que é
feito com a parte que entra nos cofres da Ferj.
– O valor não é
tão significativo. Não dá para subsidiar todas as competições, ajudar
todos os clubes. Está tudo no balanço. Temos despesas de patrimônio,
como a sede. Tem despesa de pessoal, imposto, débitos passados e
aplicamos no fomento do futebol. Subsidiamos torneios amadores,
campeonatos de ligas municipais, damos premiações, troféus, medalhas,
material esportivo. Na Série C, por exemplo, a Federação não ganha nada.
E subsidia. Deixamos os clubes pagarem em 60 vezes – completa o
cartola, dizendo ainda que a taxa impacta em apenas 1% nas despesas dos
clubes.
O que sobra da conta do borderô é fatiado entre as
duas equipes, exceto em jogos entre pequenos, quando o mandante leva toda a
renda do jogo (ou arca sozinho com o prejuízo). Em duelos que há presença de um grande, a divisão é feita da seguinte
forma: 60% dos lucros para o vencedor e 40% para o perdedor, com os valores se
invertendo em caso de prejuízo. Em caso de empate, fica 50% para cada. Assim, em partidas deficitárias, os grandes
têm prejuízo dentro e fora de casa, enquanto os pequenos só perdem dinheiro
nas vezes em que são mandantes – ainda assim, dividem a receita negativa quando recebem
os quatro gigantes.
No caso dos jogos entre pequenos, a
situação não é diferente. Com estádios vazios no subúrbio carioca e no
interior do estado, o normal é ver partidas fechando no vermelho. Uma
das poucas exceções foi o clássico do Sul Fluminense entre Barra Mansa e
Volta Redonda, que levou 7.090 pessoas ao Raulino de Oliveira na
primeira rodada (o Barra Mansa faturou R$ 19.898,44 por ser mandante, e o
Voltaço, vencedor da partida, ficou sem nada).
Tudo azul: Ferj celebra aumento de público
Tudo isso após uma polêmica da Ferj com Flamengo e
Fluminense em razão de preço dos ingressos. Terminada a terceira rodada, a entidade, que voltou atrás na medida de colocar os valores promocionais,
celebrou o aumento da média de público em relação ao ano passado,
através de uma nota publicada em seu site oficial na terça-feira. Em
2014, a
média de pagantes neste início era de 2.706 pessoas; agora é de 3.635.
Faltou
dizer que as partidas são deficitárias.
É importante lembrar
que os números são baseados nos borderôs das partidas, que em casos de
jogos com pouco público são maquiados. O artigo 11 do regulamento obriga
os times de menor investimento a lançarem 25% da capacidade liberada pelo Corpo de Bombeiros como ingressos utilizados.
Ou seja: em confrontos com público inferior a esse "piso", o público
pagante fornecido nos borderôs pode não corresponder ao número de
torcedores que de fato comprou os ingressos – e o
mandante fica sujeito a prejuízo. Uma espécie de "doping" para a
estatísticas do Carioca.
"§ 1º - Nas partidas em que não
envolvam qualquer dos clubes grandes (Fluminense, Botafogo, Flamengo e
Vasco), 25% da capacidade de público do estádio liberada pelo CBMERJ
terão os ingressos contabilizados como utilizados, tomando-se como base
de cálculo o valor de uma arquibancada inteira, podendo o clube dispor
dos mesmos da forma como lhe convier, preferencialmente destinados a
fins sociais".
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