Ainda criança, Anderson recebeu dos irmãos o apelido de “Pico”.
O motivo e significado: o menino de família humilde era bagunceiro ao extremo. Ele
cresceu, virou jogador de futebol, foi criado dentro do Grêmio e seguiu fazendo
jus ao sobrenome informal. Já como Anderson Pico aprontou com excessos
fora das quatro linhas. No Sul, alguns não tinham dúvida em afirmar que sua
carreira estava no fim. Eis que, aos 26 anos, o lateral-esquerdo recebeu aquela
que pode ser sua última chance através de Vanderlei Luxemburgo. O treinador deu
oportunidade, mas também conselhos na sua chegada ao Flamengo. Ele, então, fechou a boca para combater os
quilos a mais que sempre o acompanharam; e fechou os olhos para as tentações do Rio de Janeiro.
Anderson Pico concorda ao ser questionado se é um exemplo
dos altos e baixos que vive um jogador de futebol.
- Quando se vem de família humilde é complicado, deslumbra
muito com dinheiro, com a vida fácil que temos. Não só com dinheiro. Noite,
bebida...Não digo que não possamos ter essa vida, mas não dá para conciliar
noite e bebida sendo atleta profissional. Para mim, faltou isso (maturidade).
Não tive a cabeça que tenho hoje. Estou em pleno Rio de Janeiro, acordo cedo,
malho, levo meu filho para passear. Perdi quase três anos da vida do meu filho
por conta da vida que levava. Queria curtir mais e deixava minha família de
lado. Se tivesse a mentalidade que tenho hoje há seis anos, estaria em outra
situação e patamar de vida. Mas Deus me deu nova oportunidade. Hoje estou com 26 anos, posso falar de peito aberto, pois
amadureci muito. Tenho que pensar que tenho dois filhos, e no meu
futuro. Só depende de mim estar feliz, bem fisicamente, começar 2015 bem. E não
acontecer como em outros anos – declarou Anderson Pico.
Depois de surgir no Grêmio, Anderson Pico cedeu às
tentações, extrapolou, rodou por times como Chapecoense e Novo Hamburgo. Ficou
desempregado na atual temporada. Dinheiro escasso. E com o segundo filho a caminho. Quando viu Vanderlei Luxemburgo
no comando do Rubro-Negro, decidiu pedir uma oportunidade. Pegou um ônibus
em Porto Alegre e desembarcou no Rio. Sem holofotes nem anúncios, passou a
treinar até em três períodos. Em quatro meses, perdeu 14 quilos. Para atingir o
que foi determinado pela comissão técnica, precisar baixar mais dois.
- Entrei no grupo de maneira tranquila, sem ser apresentado
pela imprensa. Fazem quatro meses que estou aqui, buscando meu crescimento pessoal.
Muita gente ficou com pensamento de que eu me perderia no Rio, pelo meu passado e pelo
que vinha fazendo na minha carreira. Mas não preciso provar nada para ninguém,
só para mim mesmo. Vanderlei disse para não me unir com as pessoas erradas,
trabalhar tranquilo, revelou o que o Rio proporciona, as celebridades. Estou
concentrado – garantiu o jogador.
Quando curtia a vida como se não houvesse amanhã, foi
Fabiana, sua mulher, quem segurou as pontas:
- Ela é minha esposa há sete anos, minha parceira, me
segurou de algumas coisas erradas da vida, nunca deixou a peteca cair. Ela que
está comigo 24 horas. Sempre me deu auxílio. Quando cheguei no Rio, morei na
casa de um amigo, milha mulher ficou no Sul. Cada vez que ligava para casa,
eu chorava, ficava chateado. Mas ela (Fabiana) sabia que eu estava bem feliz. E no
Rio uma espécie de irmão para mim me ajudou bastante.
O contrato de Anderson Pico se encerra no dia 31 de
dezembro, mas com opção de ser renovado por mais dois anos, o que está
praticamente certo. Ele, inclusive, vai abrir mão das férias:
- Chega de férias, não preciso mais. Estou empregado em um
grande clube, vou ficar cinco dias com minha família, e volto com academia, trabalho.
Domingo, ele estará frente a frente com seu clube formador.
Flamengo e Grêmio se enfrentam em Porto Alegre.
- Joguei pelo Novo Hamburgo contra o Grêmio, mas
hoje, no Flamengo, as pessoa já estão me vendo com outros olhos. Vários no Sul disseram que
minha carreira tinha acabado, que era ex-jogador. Não tenho mágoa, respeito
todos lá dentro. Mas futebol é isso. Sei que seremos vaiados, mas quero deixar
uma boa última impressão - disse o jogador
Origem do apelido e loucura
por doce
Em praticamente todas as entrevistas, Pico é questionado
sobre seu peso, um problema que o acompanha em toda carreira e que já causou
até seu afastamento no Grêmio. Ele leva na esportiva, mas se previne. Doce, nem
pensar.
- Sempre fui assim, meu biótipo é assim. Nunca escondi isso
(do peso). Desde os juniores até o profissional. Luto diariamente, fujo de
tentações. Meu filho pequeno gosta de doce, sei que não posso comer, vai me
prejudicar. Não consigo comer apenas um pedacinho. Em casa, doce é proibido,
minha mulher não faz. Muito de vez em quando bebo um refrigerante. A vontade é
muito grande: os caras na minha frente comendo pizza, e eu na salada, peixe e
frango (risos). Vanderlei fala que tenho que matar um leão por dia e correr de
dois - ressaltou.
Desde que chegou ao Rio, Anderson atuou em oito jogos e fez um gol. Foi na vitória
por 3 a 0 sobre a Chapecoense, quando marcou um belo gol e teve atuação de destaque.
Foi o suficiente para surgirem manchetes e trocadilhos com seu apelido que
remete a uma expressão comum entre os boleiros: “Pico das Galáxias”.
- Meu apelido é Pico, pois eu era muito bagunceiro, meus
irmãos me chamam assim. Isso antes da bola. Vi o “Pico das galáxias”. Achei
bom, gostei (risos). Não tinha noção do tamanho que é o Flamengo, é muita
torcida, fanatismo, muita loucura.
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