Nesta
quarta-feira, um dos mais polêmicos duelos entre Botafogo x Flamengo
completa 70 anos. Em 10 de setembro de 1944, o clássico disputado pelo
Carioca, em General Severiano, não acabou. Após sofrer o quinto gol, do
atacante alvinegro Geninho, jogadores do Fla protestaram contra a
marcação do tento pelo árbitro Aristide "Mossoró" Figueira, se sentando
em campo. A bola não teria entrado, segundo os rubro-negros. O Fla, que
seria tricampeão carioca naquele ano, recorreu ao Tribunal de Penas da
Federação Carioca, mas o resultado do campo (5 a 2) foi mantido.
Para marcar o aniversário do polêmico jogo e resgatar detalhes daquela partida, o jornalista Paulo Cézar Guimarães lança o livro "Jogo do Senta: a verdadeira origem do chororô". O lançamento será nesta terça-feira, a partir das 19h, na sede do Botafogo, em General Severiano.
Torcedor alvinegro, Guimarães lembra que torcedores do
Bota provocaram os atletas rubro-negros, gritando: "Senta para não
apanhar de mais". E afirma que a atitude dos jogador do Flamengo foi uma
ordem de dirigentes rubro-negros.
- Foi o primeiro grande chororô da história - diz o autor, que fez extensa pesquisa sobre a partida e conseguiu entrevistar três torcedores que estiveram no estádio naquela tarde há 70 anos.
- Como surgiu a ideia de escrever um livro sobre este Botafogo x Flamengo de 1944?
-
Lendo o livro do Marcos Eduardo Neves ("Nunca houve um homem como
Heleno") e do Mestre Sérgio Augusto sobre o Botafogo ("Botafogo entre o
céu e o inferno"). O jogo é citado em algumas linhas nos dois livros.
Mas com destaque. Como Marcos foi meu aluno e tornou-se meu amigo,
conversei com ele para saber se tinha mais detalhes. Quando tive a ideia
de escrever o livro no final do ano passado passei a entrar em contato
com outras pessoas, especialmente botafoguenses, e ouvia sempre a
pergunta "Já leu o livro do Doutor Alceu?" ("O futebol no Botafogo, de
1904 a 1950"). Depois li alguns outros livros. Mas consegui apenas
pequenos registros. Fui a General Severiano pesquisar. Passei uma tarde
lá e os arquivos do clube nada têm sobre o jogo.
- O que mais chamou a atenção na pesquisa e entrevistas que você fez para escrever o livro? Algo lhe surpreendeu?
- O que mais chamou a atenção na pesquisa e entrevistas que você fez para escrever o livro? Algo lhe surpreendeu?
-
Sim. A dificuldade para encontrar testemunhas "oculares" do jogo. Uma
delas morreu durante a produção do livro. Tentava marcar uma entrevista
através de um amigo. Mas era sempre adiada. Um dia ele me ligou pra
avisar que o velhinho tinha morrido. Mas consegui encontrar três
pessoas: um procurador da Justiça, um benemérito do clube e um
ex-jogador de futebol Cacá. Todos eles me contaram que foram a jogo
quando eram crianças.
- Sem paixão: pelo que você pesquisou, a bola do quinto gol realmente entrou? ´
-
(rs) Pelo que pesquisei, sim. Mergulhei em jornais da época como "O
Globo", "Jornal do Brasil", "A Noite", "Diário da Noite", "Correio da
Manhã", "Diário Carioca" e outros veículos. Há declarações de que a bola
realmente entrou. Mas como provar, né? Antigamente não tinha tira-teima
e todos esses recursos que os veículos têm hoje. Mas é bom ressaltar
que as matérias dizem que o segundo gol do Flamengo foi ilegal.
Portanto, tudo o que aconteceu, como consta nas pesquisas, foi uma
armação do Flamengo para não levar uma goleada. Não foi à toa que a
torcida botafoguense gritou para os jogadores quando eles estavam
sentados: "Senta para não apanhar de mais".
- Foi uma decisão dos jogadores ou eles foram influenciados por alguém extracampo (dirigentes por exemplo)?
-
O técnico do Flamengo, Flávio Costa, não queria que os jogadores se
sentassem. A declaração dele foi destaque nas matérias dos jornais da
época. Os dirigentes é que obrigaram o time a sentar em campo.
-
O subtítulo do livro é a "verdadeira origem do chororô". Como você acha
que os rubro-negros vão encarar o livro? É uma obra para alvinegros?
-
É uma obra para todas as torcidas. Não é um livro sobre o Flamengo. É
sobre um jogo histórico que está fazendo 70 anos. O adversário poderia
ter sido o Flamengo, o Vasco, o Flu, o Barcelona, o Rosita Sofia. E o
livro fala também sobre outros jogos polêmicos envolvendo os dois clubes
protagonistas do livro. Mas claro também que não deixa de ser uma
resposta ao Jogo do Chororô. Tentaram marcar o Botafogo como o time do
chororô, mas o livro prova com fatos quem é o maior chorão do futebol
carioca, quiçá do futebol brasileiro. Mas no fundo, além de ser um
resgate histórico, é também uma grande zoação. É disso que se alimenta a
rivalidade das torcidas. Não conheço torcedores do Santos, do Grêmio,
do São Paulo, do Inter. Conheço um do Corinthians, um do Grêmio e um do
Cruzeiro. Mas do Flamengo conheço um monte. A começar pelo mala do meu
porteiro Renato, que quando o Flamengo perde ou o Flamengo ganha, vai
atrás de mim na garagem pra me zoar. Quando perde, some.
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