quarta-feira, 23 de maio de 2018

De saída, Fred Luz revela negociação por "fico" de Vinicius Junior e diz que Ilha do Urubu segue nos planos



Em nota oficial, o Flamengo anunciou na manhã desta quarta-feira a saída de Fred Luz da direção geral do clube. No clube desde a chegada do grupo que conduziu Eduardo Bandeira de Mello à presidência na Gávea, o engenheiro de 64 anos vai ser coordenador de campanha do pré-candidato à presidência da República do partido "Novo", João Amoedo.

Por 35 minutos, Fred Luz atendeu ao Globo Esporte. com. Por telefone, falou dos motivos da saída e, claro, da atuação à frente do Flamengo. Apresentou expectativa positiva pela permanência de Vinicius Junior, artilheiro do Flamengo na temporada, e revelou ainda que o clube vai seguir na administração da Ilha do Urubu, apenas com ajustes a serem feitos, em vista do contrato a médio prazo a ser assinado com o Maracanã.
Confira a entrevista com Fred Luz:
Por que a decisão de sair do Flamengo para se dedicar à campanha política?
Essa experiência aqui no Flamengo me fez acreditar que é possível pegar uma entidade, que é quase pública, com um clube das dimensões do Flamengo, e com práticas de princípios e valores, com energia muito grande, fazer transformações relevantes. Comecei a me questionar se poderia fazer isso fora do futebol, num universo que também é muito carente de transformação, que é a política. Comecei a estudar o cenário em cursos, conhecer partidos que poderiam fazer processos de mudança de fora para dentro e acabou que houve a empatia com o “Novo”, do João Amoedo.

Eu já estava muito junto do Bernardinho, que vai continuar como embaixador do partido, e, como no futebol, qualquer mudança tem que vir da solidez e da sustentabilidade, para compatibilizar o curto prazo sem perder de vista o longo prazo. Eu já disse que quando o Flamengo começar a ganhar, e já está ganhando, vai ganhar sempre, porque vai ter estrutura financeira e gente capacitada. A mesma coisa precisa acontecer no Brasil. 

Como foi esse processo de saída? A conversa com o Bandeira?
Eduardo tem valor maravilhoso nisso (na gestão). Acho que maior exemplo que está dando, no último ano como presidente do Flamengo, é que não está torrando dinheiro. Claro que queremos resultados melhores que em 2017, mas o Eduardo vai deixar legado extraordinário para o próximo mandatário. O próximo presidente vai ter mais dinheiro em 2019 do que temos agora em 2018. 

O que sempre buscamos aqui, solidez e continuidade, estamos fazendo com promoções internas. Tivemos a saída do Rodrigo Caetano, que ajudou para caramba, e propiciou a promoção do Noval. O Barbieri foi trazido para um projeto de longo prazo, mas no futebol, às vezes, as coisas se precipitam e ele acabou assumindo. O Spindel, com quem trabalhei no marketing, também agora como novo diretor geral. 
 
Como vai ser esse vínculo de consultor? É remunerado?
O Eduardo pediu que eu continuasse como consultor para apoiar aqui. Claro que com muito menos intensidade. É um vínculo remunerado, com carga menor de horário e valores menores. Mas não estou saindo hoje. Isso deve acontecer entre a primeira e a segunda semana de junho. 

Que objetivos considera que alcançou nesse tempo todo?
Cheguei para ser diretor do Fla-Gávea, junto com a pasta de marketing. Fiquei pouco tempo. Em 2014 fui promovido a diretor geral. Acho que o principal resultado foi tornar o Flamengo o clube mais sólido do Brasil. Um clube que depende dos seus próprios recursos, que não tem um patrocinador externo ou mecenas que ajude, como o Fluminense já teve.. E seria ótimo se tivesse. Mas o Flamengo está construindo um caminho com robustez, com as próprias pernas. 

Hoje, temos métodos, processos, visão de futuro, sistemas de acompanhamento... Tudo para continuar evoluindo, continuar aumentando receitas, a qualidade da gestão. O próximo passo é buscar excelência na gestão. Isso inclui pouco. Dizem que estou muito no futebol. Mas não vou para o futebol para escolher jogador, dar palpite em técnico. Vou para acompanhar o processo, a estrutura que montamos. 

De que maneira?
Falo da estrutura do Centro de Excelência em Perfomance, do Centro de Inteligência e Mercado, do futebol de base. Hoje, o Flamengo ganhou outra dimensão. Evoluímos, importamos conhecimento com a capacitação dos nossos profissionais, liderados pelo Tannure. Fizemos essa transição da liderança, colocando um cara mais jovem, moderno, propenso em receber isso. Ele tinha experiência com a Exxos (consultora contratada pelo Flamengo) no UFC. 

O Flamengo ficou muito menos dependente de salvadores da pátria. Quando falo que importamos conhecimento não é o cara vir aqui e dizer o que tem que fazer. São processos educacionais. Quando tivemos que fazer substituição na hora crítica, fizemos promoção interna. Como casos do Tannure e do Noval, que já estavam antes da nossa administração e tem a cultura do clube já. Mas não tem terra arrasada, essa coisa de trocar todo mundo. O Flamengo hoje é uma organização que aprende.

Essa última mexida, com demissões de quatro profissionais, não foi mexida grande?
Mas não trocamos todo mundo. A gente trocou pessoas que já passavam muito conhecimento, mas que, na nossa avaliação, não iam levar o Flamengo à evolução e modernização que queríamos. Não fizemos nenhuma mexida que não acreditássemos que fosse importante e relevante. 

Depois de mais de cinco anos, a questão do estádio ainda está longe de ser resolvida. É uma missão incompleta na sua saída, nessa gestão?
Estádio não é uma ciência exata. Estamos cada vez mais perto de ter uma solução. Qualquer que seja a demora, temos uma solução nesse contrato do Maracanã, para os próximos quatro, cinco anos, que ainda vai passar pelo Conselho. Nesse período vamos ver o que fazer. O Maracanã hoje é uma oportunidade. Não são as condições ideais, que o Flamengo só vai ter com seu próprio estádio. E acho cada vez menos provável (que a solução seja) o Maracanã. Cada vez vejo mais dificuldade do Governo do Estado em conseguir conduzir esse processo.
 
O que vai ser decidido da Ilha do Urubu?
A Ilha do Urubu vai ficar como um seguro lá, como sempre foi, para em qualquer eventualidade a gente jogar no Rio de Janeiro. O que está em curso é que estamos em conversa para rever as condições na participação da Portuguesa na recuperação da estrutura. Mas nossa intenção é continuar com a Ilha. 

Soube que você estava negociando, buscando, a permanência do Vinicius. Como está isso?
Temos um acordo com o Real que ele pode ficar por mais tempo. Se não me engano até o meio do ano que vem. 

Mas o Real não pode chamá-lo agora no meio do ano, ao completar 18 anos?
Nosso acordo é que isso vem de uma decisão consensual. 

Isso está no papel?
Está no papel como isso se dá (a decisão consensual). Desde o início, com o Real, a decisão consensual sempre tem prevalecido. 

Então o Vinicius fica até o ano que vem?
Não é que ele fique, ele pode ficar. A nossa expectativa é que isso ande bem. O Real agora está focado na decisão da Champions. Depois disso aí a gente retoma a conversa. O Vinicius está tendo aproveitamento bastante grande aqui, agora, no Flamengo. Estão todos satisfeitos com isso. 

A candidatura do Bandeira, ainda não anunciada, e a sua saída para ser coordenador de campanha, não reforça a ideia de que o futebol virou ponte para a política?
Não vou ser candidato. Repara só, o movimento, a qual pertenci, sempre foi profissional. Vim também numa atitude missionária, num trabalho de transformação no Flamengo. Tive papel importante até por certa independência na condução, apesar de sempre ser muito alinhado com o Conselho Diretor. Acho que o Flamengo tinha uma linha programática desde o lançamento da chapa. E isso foi mantido, mesmo com a dissidência. O Fla se fortaleceu muito, se consolidou, existe esse entendimento do colégio eleitoral. E tem que continuar trilhando esse caminho da responsabilidade. 

Antes de entrar no Flamengo, jamais imaginei trabalhar no Flamengo. Tinha receio do modelo do futebol, tinha aversão e desconfiança. Aqui encontrei ambiente propício a fazer trabalho de qualidade. Uma vez, um cara aqui do Flamengo me mandou um vídeo, com uma citação: “Uma sociedade só prospera quando as pessoas do bem são mais participativas e audaciosas do que as pessoas do mal”. Tenho repetido isso. Aconteceu no Flamengo, com movimento de fora para dentro, com grupos que se organizaram para interferir na política do clube. 

 E se conseguirmos contribuir para repetir isso na administração pública, com progressos importantes para o Rio, para o Brasil... Isso tudo me fez abrir os olhos para esse desafio. O Flamengo é uma das experiências da minha vida. Antes, fui de um grupo empresarial, que hoje é líder mundial no seu segmento, com gestão de excelência. Isso tudo, com princípios e valores éticos que me nortearam no Flamengo, são necessários para governos, gestões na administração pública.

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