Em nota oficial, o Flamengo anunciou na manhã desta quarta-feira a saída de Fred Luz da direção geral do clube. No clube desde a chegada do grupo que conduziu Eduardo Bandeira de Mello à presidência na Gávea, o engenheiro de 64 anos vai ser coordenador de campanha do pré-candidato à presidência da República do partido "Novo", João Amoedo.
Por 35 minutos, Fred Luz atendeu ao Globo Esporte. com. Por telefone, falou dos motivos da saída e, claro, da atuação à frente do Flamengo. Apresentou expectativa positiva pela permanência de Vinicius Junior, artilheiro do Flamengo na temporada, e revelou ainda que o clube vai seguir na administração da Ilha do Urubu, apenas com ajustes a serem feitos, em vista do contrato a médio prazo a ser assinado com o Maracanã.
Confira a entrevista com Fred Luz:
Por que a decisão de sair do Flamengo para se dedicar à campanha política?
Essa experiência aqui no Flamengo me fez acreditar que é possível pegar
uma entidade, que é quase pública, com um clube das dimensões do
Flamengo, e com práticas de princípios e valores, com energia muito
grande, fazer transformações relevantes. Comecei a me questionar se
poderia fazer isso fora do futebol, num universo que também é muito
carente de transformação, que é a política. Comecei a estudar o cenário
em cursos, conhecer partidos que poderiam fazer processos de mudança de
fora para dentro e acabou que houve a empatia com o “Novo”, do João
Amoedo.
Eu já estava muito junto do Bernardinho, que vai continuar como
embaixador do partido, e, como no futebol, qualquer mudança tem que vir
da solidez e da sustentabilidade, para compatibilizar o curto prazo sem
perder de vista o longo prazo. Eu já disse que quando o Flamengo começar
a ganhar, e já está ganhando, vai ganhar sempre, porque vai ter
estrutura financeira e gente capacitada. A mesma coisa precisa acontecer
no Brasil.
Como foi esse processo de saída? A conversa com o Bandeira?
Eduardo tem valor maravilhoso nisso (na gestão). Acho que maior exemplo
que está dando, no último ano como presidente do Flamengo, é que não
está torrando dinheiro. Claro que queremos resultados melhores que em
2017, mas o Eduardo vai deixar legado extraordinário para o próximo
mandatário. O próximo presidente vai ter mais dinheiro em 2019 do que
temos agora em 2018.
O que sempre buscamos aqui, solidez e continuidade, estamos fazendo com
promoções internas. Tivemos a saída do Rodrigo Caetano, que ajudou para
caramba, e propiciou a promoção do Noval. O Barbieri foi trazido para
um projeto de longo prazo, mas no futebol, às vezes, as coisas se
precipitam e ele acabou assumindo. O Spindel, com quem trabalhei no
marketing, também agora como novo diretor geral.
Como vai ser esse vínculo de consultor? É remunerado?
O Eduardo pediu que eu continuasse como consultor para apoiar aqui.
Claro que com muito menos intensidade. É um vínculo remunerado, com
carga menor de horário e valores menores. Mas não estou saindo hoje.
Isso deve acontecer entre a primeira e a segunda semana de junho.
Que objetivos considera que alcançou nesse tempo todo?
Cheguei para ser diretor do Fla-Gávea, junto com a pasta de marketing.
Fiquei pouco tempo. Em 2014 fui promovido a diretor geral. Acho que o
principal resultado foi tornar o Flamengo o clube mais sólido do Brasil.
Um clube que depende dos seus próprios recursos, que não tem um
patrocinador externo ou mecenas que ajude, como o Fluminense já teve.. E
seria ótimo se tivesse. Mas o Flamengo está construindo um caminho com
robustez, com as próprias pernas.
Hoje, temos métodos, processos, visão de futuro, sistemas de
acompanhamento... Tudo para continuar evoluindo, continuar aumentando
receitas, a qualidade da gestão. O próximo passo é buscar excelência na
gestão. Isso inclui pouco. Dizem que estou muito no futebol. Mas não vou
para o futebol para escolher jogador, dar palpite em técnico. Vou para
acompanhar o processo, a estrutura que montamos.
De que maneira?
Falo da estrutura do Centro de Excelência em Perfomance, do Centro de
Inteligência e Mercado, do futebol de base. Hoje, o Flamengo ganhou
outra dimensão. Evoluímos, importamos conhecimento com a capacitação dos
nossos profissionais, liderados pelo Tannure. Fizemos essa transição da
liderança, colocando um cara mais jovem, moderno, propenso em receber
isso. Ele tinha experiência com a Exxos (consultora contratada pelo
Flamengo) no UFC.
O Flamengo ficou muito menos dependente de salvadores da pátria. Quando
falo que importamos conhecimento não é o cara vir aqui e dizer o que
tem que fazer. São processos educacionais. Quando tivemos que fazer
substituição na hora crítica, fizemos promoção interna. Como casos do
Tannure e do Noval, que já estavam antes da nossa administração e tem a
cultura do clube já. Mas não tem terra arrasada, essa coisa de trocar
todo mundo. O Flamengo hoje é uma organização que aprende.
Essa última mexida, com demissões de quatro profissionais, não foi mexida grande?
Mas não trocamos todo mundo. A gente trocou pessoas que já passavam
muito conhecimento, mas que, na nossa avaliação, não iam levar o
Flamengo à evolução e modernização que queríamos. Não fizemos nenhuma
mexida que não acreditássemos que fosse importante e relevante.
Depois
de mais de cinco anos, a questão do estádio ainda está longe de ser
resolvida. É uma missão incompleta na sua saída, nessa gestão?
Estádio não é uma ciência exata. Estamos cada vez mais perto de ter uma
solução. Qualquer que seja a demora, temos uma solução nesse contrato
do Maracanã, para os próximos quatro, cinco anos, que ainda vai passar
pelo Conselho. Nesse período vamos ver o que fazer. O Maracanã hoje é
uma oportunidade. Não são as condições ideais, que o Flamengo só vai ter
com seu próprio estádio. E acho cada vez menos provável (que a solução
seja) o Maracanã. Cada vez vejo mais dificuldade do Governo do Estado em
conseguir conduzir esse processo.
O que vai ser decidido da Ilha do Urubu?
A Ilha do Urubu vai ficar como um seguro lá, como sempre foi, para em
qualquer eventualidade a gente jogar no Rio de Janeiro. O que está em
curso é que estamos em conversa para rever as condições na participação
da Portuguesa na recuperação da estrutura. Mas nossa intenção é
continuar com a Ilha.
Soube que você estava negociando, buscando, a permanência do Vinicius. Como está isso?
Temos um acordo com o Real que ele pode ficar por mais tempo. Se não me engano até o meio do ano que vem.
Mas o Real não pode chamá-lo agora no meio do ano, ao completar 18 anos?
Nosso acordo é que isso vem de uma decisão consensual.
Isso está no papel?
Está no papel como isso se dá (a decisão consensual). Desde o início, com o Real, a decisão consensual sempre tem prevalecido.
Então o Vinicius fica até o ano que vem?
Não é que ele fique, ele pode ficar. A nossa expectativa é que isso
ande bem. O Real agora está focado na decisão da Champions. Depois disso
aí a gente retoma a conversa. O Vinicius está tendo aproveitamento
bastante grande aqui, agora, no Flamengo. Estão todos satisfeitos com
isso.
A
candidatura do Bandeira, ainda não anunciada, e a sua saída para ser
coordenador de campanha, não reforça a ideia de que o futebol virou
ponte para a política?
Não vou ser candidato. Repara só, o movimento, a qual pertenci, sempre
foi profissional. Vim também numa atitude missionária, num trabalho de
transformação no Flamengo. Tive papel importante até por certa
independência na condução, apesar de sempre ser muito alinhado com o
Conselho Diretor. Acho que o Flamengo tinha uma linha programática desde
o lançamento da chapa. E isso foi mantido, mesmo com a dissidência. O
Fla se fortaleceu muito, se consolidou, existe esse entendimento do
colégio eleitoral. E tem que continuar trilhando esse caminho da
responsabilidade.
Antes de entrar no Flamengo, jamais imaginei trabalhar no Flamengo.
Tinha receio do modelo do futebol, tinha aversão e desconfiança. Aqui
encontrei ambiente propício a fazer trabalho de qualidade. Uma vez, um
cara aqui do Flamengo me mandou um vídeo, com uma citação: “Uma
sociedade só prospera quando as pessoas do bem são mais participativas e
audaciosas do que as pessoas do mal”. Tenho repetido isso. Aconteceu no
Flamengo, com movimento de fora para dentro, com grupos que se
organizaram para interferir na política do clube.
E se conseguirmos contribuir para repetir isso na administração pública,
com progressos importantes para o Rio, para o Brasil... Isso tudo me
fez abrir os olhos para esse desafio. O Flamengo é uma das experiências
da minha vida. Antes, fui de um grupo empresarial, que hoje é líder
mundial no seu segmento, com gestão de excelência. Isso tudo, com
princípios e valores éticos que me nortearam no Flamengo, são
necessários para governos, gestões na administração pública.
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