Na noite de terça-feira, o presidente e candidato à reeleição do
Flamengo pela Chapa Azul, Eduardo Bandeira de Mello, apresentou a sócios
seu plano de governo para o próximo triênio do clube, em um hotel na
Zona Sul do Rio de Janeiro. Acompanhado de alguns vice-presidentes, o
dirigente apresentou números para embasar o argumento de que o Flamengo
é, atualmente, um clube que dá exemplo em administração no futebol
brasileiro. A iniciativa em pagar dívidas partiu da Chapa Azul no fim de
2012, continua com a versão atual e reformulada e também é plano da
Chapa Verde, de Wallim Vasconcellos. Na ponta do lápis, em dois anos e
meio o Flamengo pagou R$ 189 milhões e reduziu sua dívida em 25%.
A dívida, avaliada em R$ 750 milhões no primeiro semestre de 2013,
por exemplo, está em R$ 561 milhões de acordo com os cálculos mais
recentes. Com algum otimismo, em 2015 ela poderia ainda ser reduzida a
R$ 530 milhões. A preocupação do presidente foi ressaltar que o trabalho
de saneamento das dívidas irá continuar. E, com isso, rechaçou um
futuro de dificuldades para captar patrocínios mesmo em tempos de crise
econômica no país. Em uma tela, três cenários para cada ano do próximo
triênio foram apresentados: pessimista, base e otimista.
No cenário pessimista, o clube teria R$ 35 milhões com patrocínios
master e costas. De caixa livre, verba para investir, seriam R$ 5
milhões em 2016, R$ 20 milhões em 2017 e R$ 39 milhões em 2018. No
cenário base, considerando a situação atual, seriam R$ 54,5 milhões em
patrocínios como Caixa Econômica Federal, Jeep, Tim, Viton 44 e outros
menores. Como caixa livre, os números saltariam para R$ 42 milhões em
2016, R$ 111 milhões em 2017 e R$ 133 milhões em 2018. No último
cenário, o otimista, o patrocínio seria igual, com R$ 54,5 milhões. Esta
conta não leva em consideração o contrato com a Adidas, por exemplo.
Como caixa livre, R$ 76 milhões em 2016, R$ 174 milhões em 2017 e R$ 163
milhões em 2018.
“O cenário é desafiador, mas imagina para os outros. Não acreditem em
cenário de terror. Pode estar difícil para todo mundo, mas pior para os
outros. O trabalho de recuperação e captação foi feito não por conta de
pessoas, mas devido ao Flamengo”, disse o vice de finanças, Cláudio
Pracownik.
Para as duas próximas temporadas, o planejamento da Chapa Azul não
conta com venda de jogadores. Apenas para 2018 o valor seria de R$ 10
milhões no ano. Em relação a acordos trabalhistas, o previsto é um gasto
de R$ 12 milhões em 2016. A partir de 2017, apenas o acordo com Romário
permanecerá, com vigência até 2022. Na questão de empréstimos, para
2016 há uma rolagem prevista de R$ 30 milhões. Em 2017, R$ 20 milhões.
Os financiamentos fiscais, correspondentes a cerca de R$ 350 milhões
da dívida rubro-negra, antes equacionados por acordos, estarão ajustados
ao Programa de Modernização do Futebol Brasileiro (Profut), o que dará
um fôlego maior ao caixa rubro-negro. Segundo Bandeira de Mello, o
Flamengo é o clube mais próximo de se adequar às normas do programa
federal de refinanciamento de dívidas.
“Dia 28 teremos o Pacto pelo Esporte: conjunto de normas por três
ONGs e que várias empresas importantes já declararam apoio. Serão mais
de 20 que só vão apoiar os clubes de futebol que cumpram uma série de
requisitos. A maioria deles se diz a favor às contrapartidas do Profut. O
único clube que cumpre metas previstas para até 2021 é o Flamengo. O
Flamengo já tem mais de 90% cumprido e já no final desse mês vamos dizer
que cumprimos tudo pelo Pacto do Esporte. E essas empresas vai
patrocinar quem? É o Flamengo, o clube que dá o exemplo”, disse
Bandeira.
Desafogo na área jurídica e Carioca com time alternativo
Durante a apresentação para os sócios, a gestão Bandeira de Mello
apontou ainda o desafogo de processos jurídicos contra o clube.
Vice-presidente da pasta, Flávio Willeman explicou que os processos
trabalhistas chegavam a cerca de 560 em 2013 e foram reduzidos a menos
de cem atualmente. O resultado é considerado tão positivo que o Flamengo
cogita estipular um valor fixo para o fundo do Ato Trabalhista, de
cerca de R$ 1 milhão mensal, por exemplo. Atualmente, o acordo
possibilita a penhora de 15% das receitas rubro-negras. Com a redução de
processos, o fundo rubro-negro tem atualmente um saldo positivo de
cerca de R$ 7 milhões.
O maior entrave para o acordo é o processo movido por Ronaldinho
Gaúcho contra o clube. O jogador pede até R$ 40 milhões e ainda não
houve acordo. O julgamento deverá ser iniciado em breve. Em termos
jurídicos, o famoso processo do Consórcio Plaza, referente à gestão de
Kleber Leite, em 1995, quando o clube recebeu R$ 5 milhões em troca da
construção de um shopping na Gávea, que não ocorreu. Até hoje, o
Flamengo já pagou cerca de R$ 30 milhões apenas com penhoras e o valor
total poderia chegar a R$ 100 milhões.
Já no carro-chefe do clube, o futebol, Bandeira indicou a finalização
do módulo profissional do Ninho do Urubu para o fim de 2016. A
modernização do departamento de análise de performance também ganha
contornos de protagonista para o próximo triênio. A ideia é voltar a
formar valores e que ao menos 30% da equipe profissional seja composta
por pratas da casa. Recentemente, o clube fechou contrato com a EXOS,
empresa norte-americana para análise de performance de atletas utilizada
pela atual campeã do mundo, a Alemanha. O presidente fez, também, um
mea-culpa por erros cometidos.
“Erramos também. Na primeira metade do nosso mandato lidamos de
maneira empírica, na base do ‘Vamos lá, moçada!’, erro e acerto.
Melhoramos. Houve as contratações em 2015, o grau de acerto
delas….podemos errar menos se trabalharmos com scout. Temos o melhor
centro de inteligência do mercado do Brasil”, disse o presidente.
O mandatário ainda confirmou o rompimento com a Ferj para 2016 e a
disputa do Campeonato Carioca com um time de força menor, que deverá ser
composto por jogadores que estão emprestados e devem retornar ao clube
na próxima temporada.
“Somos obrigados a disputar porque senão podemos ser desfiliados,
rebaixados, perder direitos de atleta. Vamos colocar um time
alternativo”, finalizou Bandeira.
Fonte: ESPN
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