Até o dia 8 de novembro de 1981, foram nove anos em que os rubro-negros, torcida e jogadores, tiveram de aturar provocações por conta de um episódio humilhante ocorrido em 1972: a goleada, também por 6 a 0, imposta pelos rivais alvinegros na data oficial do aniversário de fundação do Flamengo, 15 de novembro, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro.
Naquele dia, em 1972, o Furacão da Copa de 1970, Jairzinho, comandou um brilhante Botafogo na vitória que deixou, além de profundas marcas na alma rubro-negra, a sensação de um feito inigualável, que garantiria aos alvinegros o direito à superioridade eterna sobre os rivais.
Diante de um público de 46.279 torcedores, o Furacão da Copa marcou três vezes, uma delas de calcanhar; Fischer fez dois e Ferreti marcou uma vez. A patir dali, uma faixa, simplória na forma, mas extremamente significativa e pesada no conteúdo, passou a ser vista por engasgados rubro-negros no meio da torcida rival. Seus dizeres, direto ao assunto, não permitiam ao outro lado o almejado esquecimento: 6 a 0. Talvez, sem imaginar, os responsáveis pela amarga recordação tenham sido, também, culpados pela redenção.
- Aquilo era muito chato. Em todo jogo contra o Botafogo, olhávamos para a arquibancada, em frente à saída do túnel, e lá estava a faixa lembrando os 6 a 0. Queríamos muito acabar com aquilo - lembrou Zico que, no jogo de 1972, já era jogador do Flamengo, mas fora preterido pelo técnico Zagallo e assistiu a tudo da arquibancada.
No ano de 1981, o mais vitorioso do clube, o Flamengo seria coroado campeão do mundo após conquistar a Copa Libertadores da América e o Carioca. Contudo, os rubro-negros não tinham, até o início de novembro, vencido o Alvinegro em quatro partidas disputadas. Ainda assim, naquele oito de novembro, na terceira vez em que os rivais se enfrentavam pelo certame local, a torcida compareceu num total de 69.051 espectadores que, ao ocuparem as arquibancadas do, então, maior estádio do mundo, não imaginavam o desfecho do que seria muito mais que uma vitória em um jogo de futebol.
Com a bola rolando, aos sete minutos de jogo, Nunes escorou, de pé esquerdo, cruzamento da direita para abrir o placar. Aos 27, Zico tentou duas vezes e, na segunda, marcou em arremate de canhota que ainda bateu na trave esquerda do goleiro alvinegro, Paulo Sérgio, antes de entrar. O terceiro saiu do pé direito de Lico, em preciso arremate da entrada da área. Ainda na primeira etapa, Adílio subiu mais que a zaga alvinegra e marcou, de cabeça, o quarto, mandando boa parte dos torcedores botafoguenses de volta para casa. Os que ficaram devem ter se arrependido, pois, aos 30, o Galinho de Quintino marcou em cobrança de pênalti sofrido por Adílio..
Com o quinto gol, foi a vez de a torcida rubro-negra lembrar, em coro, aqueles 6 a 0. Clamavam pela redenção que, por obra do destino, caberia a uma das maiores equipes que o Flamengo já teve. Quando, aos 42 da etapa final, Adílio cruzou da direita, Zico escorou e viu-se a camisa 6 rubro-negra disparar em direção à bola, muitos torcedores comemoraram antes mesmo de Andrade soltar a bomba, de bate-pronto, que estufou as redes alvinegras e fez o Maracanã explodir de alegria. Ao camisa 6, coube a glória do sexto gol. Gol que calou as gozações alvinegras e apagou das arquibancadas do estádio a lembrança de um terrível aniversário flamenguista.
- Quando o Andrade marcou o sexto gol, saímos correndo, pulando, falando todos os palavrões que se possa imaginar. Agora acabou, acabou tudo, a gente gritava, pensando naquela faixinha. Ô faixinha danada! Tu nuca mais vai aparecer aí! Ali, nós estávamos como torcedores mesmo. Tanto que não quisemos fazer mais. Agora, vamos fechar aqui, retranca e esperar acabar o jogo. Seis a zero, na mesma moeda - recordou recentemente Zico, ainda vibrando com a forra que ajudou, como um torcedor dentro do campo, seu Flamengo a conquistar.
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