Pelo
 segundo dia consecutivo, a comissão mista responsável por apreciar a MP
 do Futebol não conseguiu se reunir por falta de quórum. Na terça-feira,
 o motivo para ausência dos parlamentares foi a sabatina com o 
presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, na Comissão de Esporte da Câmara
 dos Deputados, marcada para o mesmo horário. Nesta quarta-feira, mais 
uma vez o plenário ficou esvaziado e a sessão acabou cancelada.
Plenário da comissão mista vazio nesta quarta-feira no Congresso Nacional (Foto: Fabrício Marques)
As
 reuniões desta semana estavam programadas para leitura oficial do 
relatório do deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) e debates antes da votação 
do texto, prevista para a próxima semana. O número mínimo de 
parlamentares exigido pelo regulamento interno do Congresso é de seis de
 cada casa - Senado e Câmara. Nesta quarta-feira, seis dos 12 senadores 
membros registraram presença, mas apenas três deputados compareceram.
Para
 os senadores Randolfe Rodrigues (Psol-AP) e Romário (PSB-RJ), a falta 
de quórum na sessão ocorreu por conta de influências da CBF sobre parte 
dos membros da comissão. Segundo os parlamentares, não seria interesse 
da entidade máxima do futebol brasileiro votar o relatório preliminar 
apresentado. 
-
 Essa ausência de quórum tem nome: atuação da CBF. É o segundo dia que 
há convocação e os parlamentares não vêm. É resultado da atuação dessa 
entidade corrupta, dirigida há pouco tempo por um senhor que está atrás 
das grades e hoje por seu companheiro. Estamos sob um boicote organizado
 pela CBF... Eles têm uma bancada. Basta ver o que aconteceu hoje, o que
 está acontecendo. Este senhor Del Nero e seus antecessores, Ricardo 
Teixeira e o outro que está preso, têm mais poder aqui do que a 
presidente da república, pois conseguem barrar uma MP editada pelo poder
 executivo - afirmou Randolfe.
- Para mim, não é nenhuma 
novidade. Tenho claro que tudo que for feito nesta casa (Congresso 
Nacional) para dar qualquer tipo de responsabilidade à entidade maior do
 nosso futebol, não vai para a frente... Essa bancada da CBF tinha que 
ter consciência de que a ausência deles em um momento como esse está 
atrasando o futebol brasileiro - completou Romário.
Senador Romário criticou a falta de quórum na reunião da MP do Futebol (Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado)
 
Randolfe
 Rodrigues ainda criticou a presença na comissão mista que discute a MP 
do Futebol de parlamentares que fazem parte do grupo gestor da CBF. 
Titulares da comissão, os deputados Marcelo Aro (PHS-MG) e Vicente 
Cândido (PT-SP) ocupam cargos na diretoria da entidade.
- Acho
 que foi um erro desde o começo termos aceitado membros da Confederação 
Brasileira de Futebol na comissão de uma medida provisória que vai 
avaliar o funcionamento e tomar medidas que terão impacto na CBF. É 
aceitar o lobby. Ele não é nem mais externo, ocorre dentro da casa - 
disse o senador.

Assinada pela presidente Dilma Rousseff em março, a Medida Provisória 
671 - conhecida como MP do Futebol ou Profut - renegocia as dívidas 
dos clubes com a União, estimadas em R$ 4 bilhões, em troca de 
contrapartidas. O texto original determina que os clubes que aderirem só 
possam disputar 
campeonatos organizados por entidades que sigam as mesmas regras, o que 
atingiria de maneira indireta federações estaduais e CBF. O item foi 
alvo de uma enxurrada de críticas por parte de dirigentes. Alegando 
inconstitucionalidade da medida, que afetaria a autonomia das entidades,
 eles pediram alterações no Congresso.
 O relatório preliminar apresentado pelo deputado Otávio Leite fez 
algumas mudanças no texto, mas manteve as exigências à CBF e federações.
 
O
 texto, que ainda pode sofrer alterações, precisa ser aprovado por 
maioria simples pelos membros da comissão mista - 12 senadores e 12 
deputados. Em seguida, será encaminhado para apreciação nos Plenários da
 Câmara e do Senado. A MP tem que ter a tramitação concluída no 
Congresso até o dia 17 de julho ou perderá a validade.
Em
 conversa por telefone com o GloboEsporte.com, o secretário-geral da 
CBF, Walter Feldman, rejeitou as acusações feitas pelos senadores 
Randolfe Rodrigues e Romário. O dirigente garantiu que a entidade não 
tem promovido nenhuma articulação ou exercido influência sobre os 
parlamentares da comissão mista que avalia a MP do Futebol.
Secretário-geral da CBF, Walter Feldman, negou qualquer articulação (Foto: Alex Ferreira / Câmara dos Deputados)
 
-
 Não existe nenhum movimento de esvaziamento. Nada disso. Jamais 
faríamos qualquer intervenção no parlamento brasileiro, influenciando a 
posição dos parlamentares no ponto de vista de presença na comissão, no 
voto - disse Feldman.
O secretário também defendeu a presença 
dos deputados Marcelo Aro e Vicente Cândido na comissão. Segundo ele, 
são parlamentares com larga atuação em temas ligados ao esporte, muito 
antes de assumirem cargos na CBF.
- São dois deputados com 
muita experiência na área do esporte e no futebol. Fui deputado em São 
Paulo e vi várias leis sancionadas pelo deputado Vicente Cândido. Tem 
uma longa militância. O Marcelo Aro tem uma militância também, seja no 
Atlético-MG ou na federação mineira. Eles foram chamados pelo presidente
 (Marco Polo Del Nero) para darem uma contribuição, muito além do 
mandato. Não estão lá para atuarem como deputados ligados ao futebol.
Relator admite mudanças no texto
 
 
Um
 dos três deputados presentes no plenário da comissão nesta 
quarta-feira, o relator Otávio Leite também lamentou o cancelamento da 
reunião. Para ele, seria mais uma oportunidade de se discutir o texto 
preliminar apresentado. Ainda segundo o parlamentar, até a próxima 
segunda-feira deve ser protocolado o relatório final e a intenção é de 
que ele seja colocado em votação na comissão logo na sequência.
-
 Eu esperava nessa reunião obter sugestões, críticas, proposta de 
aperfeiçoamento ao meu texto preliminar. E o fiz preliminar justamente 
para permitir que houvesse mais tempo durante o período para que os 
deputados e senadores apresentassem sugestões. A decisão que tomei é de 
que agora vou apresentar o parecer definitivo. Vou protocolar até 
segunda-feira e o presidente convocou a reunião para terça-feira, para 
votar - afirmou Otávio Leite.
Deputado Otávio Leite (centro) conversa com outros parlamentares antes do cancelamento da reunião (Foto: Senado)
 
O
 deputado disse que continua aberto a sugestões de mudança no texto 
durante os próximos dias. Ciente de uma reunião entre dirigentes de 
clubes agendada para a próxima segunda-feira, no Rio de Janeiro, Otávio 
Leite admitiu que ainda pretende ouvir os dirigentes antes de fechar o 
documento definitivo, que deve sofrer alterações em relação ao 
preliminar.
- Prossigo aberto às sugestões. Vários 
parlamentares já fizeram algumas ponderações. Lamento apenas não ter 
tido oportunidade de trocar mais ideias... Quero ouvir os clubes na 
sexta-feira. É sempre válida a opinião de quem está envolvido de alguma 
forma e faz parte do contexto. Já ouvi muitos clubes, participei de 
seminários, fizemos várias reuniões. A realidade financeira dos clubes é
 algo que tenho muito claro em minha consciência. Uma nova rodada (de 
conversas) nunca é demais. Desde que não se ultrapasse o limite. Do 
contrário, se essa MP caducar (perder a validade), estaremos perdendo 
uma oportunidade que não vai se repetir - concluiu o deputado.