terça-feira, 26 de abril de 2011

Felipe x Bruno: ótimo desempenho nos pênaltis, mas estilos diferentes

É inevitável. Se o Flamengo vai para uma disputa de pênaltis, o rubro-negro vasculha na memória e encontra a imagem de Bruno. O goleiro, atualmente detido em Minas Gerais sob acusação do desaparecimento de Eliza Samudio, era especialista na arte de desmoralizar batedores. Só contra o Botafogo foram dois títulos cariocas desta forma (2007 e 2009) e quatro defesas.

Em 2011, começa a surgir uma nova figura no gol do clube da Gávea. O torcedor ganha outra referência na posição. Desde a estreia pelo clube, Felipe participou de duas disputas de pênalti e foi decisivo em ambas. Contra o Botafogo, na semifinal da Taça Guanabara, espalmou as cobranças de Everton e Somália – Renato Cajá chutou para fora. Neste domingo, na semifinal da Taça Rio, contra o Fluminense,cresceu diante de Araujo e Tartá – Souza bateu por cima do travessão.

Montagem goleiro Bruno Felipe Flamengo (Foto: Montagem sobre foto do Globo)Bruno e Felipe em momentos decisivos para o Flamengo: semifinal da Taça Guanabara de 2007 e semifinal da Taça Rio de 2011 (Foto: Montagem sobre foto do Globo)

A primeira defesa de Felipe com a camisa rubro-negra foi um pênalti. Em 9 de janeiro, no amistoso sem gols com o Londrina, durante a pré-temporada no interior do Paraná. Ao assumir a camisa 1, ele sempre soube que seria alvo de comparações com Bruno. Até agora, não decepcionou. Virou temor para os batedores.

- Você começa a pegar muitos pênaltis e os adversário começam a querer evitar. Fico feliz de ter uma boa sequência, consegui ajudar o Flamengo em duas disputas seguidas. Na estreia, defendi um pênalti. Não sei se o coração vai aguentar (risos). Uma hora não vai dar certo. Não pode pensar que se for para os pênaltis vamos ganhar sempre. Sabemos que vamos perder um jogo ou uma disputa. Mas vou fazer o possível sempre para ajudar a equipe.

Bruno e Felipe têm comportamentos e resultados parecidos, mas estilos diferentes na hora de tentar pegar penalidades. Antes da disputa contra o Botafogo, por exemplo, Felipe pediu a palavra e avisou aos companheiros.

- Caprichem porque vou pegar dois – dito e feito.

Bruno motivava o grupo da mesma maneira. Ele batia no peito para dizer que nunca perdera uma decisão por pênaltis e garantia “pelo menos uma defesa”.

Bruno, treino Flamengo (Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com)
Os dois têm quase a mesma altura. Bruno tem 1,90m, enquanto o atual titular tem um centímetro a mais. O ex-camisa 1 criou uma técnica interessante para confundir o batedor e, ao mesmo tempo, atingir uma grande área de alcance no lado escolhido para pular nas penalidades. Após dar um longo passo para um lado, o goleiro fazia uma ginga fingindo que voltaria, mas acabava caindo para onde havia se movimentado pela primeira vez. Com isso, apresentava um aproveitamento impressionante quando acertava o canto escolhido pelo batedor.

Um fato interessante é que Bruno gostava de observar com qual perna o cobrador bateria na bola. E normalmente optava pelo canto do chute cruzado. Se o adversário fosse destro, o goleiro na maioria das vezes preferia pular para a direita. Se o batedor fosse canhoto, ele optaria por saltar para o lado esquerdo. Como há mais jogadores destros, o canto direito era o preferido de Bruno, que nunca ficava parado no meio do gol.

 A história dele com as penalidades começou em 2005. No Campeonato Brasileiro, jogando pelo Atlético-MG, defendeu dois pênaltis. O primeiro cobrado por Michel Bastos, que atuava no Figueirense. O segundo de ninguém mais, ninguém menos que Romário, que na época buscava o milésimo gol pelo Vasco. No ano seguinte, já no Flamengo, o goleiro não deu tanta sorte. Não defendeu nenhuma das dez cobranças que aconteceram contra o seu gol. Em 2007, a história mudou e nasceu a fama. Bruno defendeu sete das 15 cobranças. Em 2008 foram só duas defesas em 11 pênaltis. Em 2009, o goleiro pegou sete das 19 penalidades - duas delas cobradas por Ganso no mesmo jogo. Até o início de abril de 2010, foram três defesas em oito pênaltis.

Felipe não é um estudioso no fundamento. Diz que não analisa os cobradores, não é fã dos DVDs e descarta os conselhos de treinadores e amigos.

- Pênalti não se treina. Tem que ter confiança, sorte e acertar o canto que o batedor escolher.

Contra o Botafogo, no primeiro turno, foram quatro cobranças. Felipe alternou os cantos, começando pelo esquerdo. Defendeu uma de cada lado. Contra o Fluminense, foram três pênaltis a mais. Saltou seis vezes no canto esquerdo e apenas uma no direito. Curiosamente, só defendeu pela primeira vez quando mudou a posição.    

No Fla-Flu, o jogador viveu apenas a terceira disputa de pênaltis da carreira como profissional. Por enquanto, aproveitamento irretocável. Na semifinal da Copa do Brasil de 2008, defendeu a cobrança de Zé Carlos, do Botafogo, que classificou o Corinthians para a decisão. O Timão perderia o título para o Sport. A segunda foi novamente contra o Bota, na semifinal da Taça Guanabara deste ano.


Explosão de Bruno, religiosidade de Felipe

Felipe do Flamengo (Foto: Vipcom)
Bruno alternava a posição para aguardar a cobrança. Ora ficava de pé sobre a linha, com os braços abaixados e dava pulinhos enquanto o batedor corria até a bola. Costumava também manter os joelhos flexionados e as mãos sobre eles. Já Felipe opta por dobrar mais os joelhos e deixar os braços ao lado do corpo.

Em 2007, por exemplo, Bruno não comemorava os pênaltis defendidos. Dois anos depois, passou a vibrar com gritos e socos no ar, mesmo que a série ainda estivesse no início. Felipe é comedido. Quando consegue fazer a defesa, geralmente faz o sinal da cruz, olha para o céu e agradece. A religiosidade, aliás, é marca do camisa 1. A cada batedor, ele beija e coloca o terço dado pela mãe, dona Rita, dentro do gol. Antes de a agonia começar, se isola no meio-campo, agarra o amuleto que o acompanha em todas as partidas e cobre a cabeça com uma toalha.

A atuação decisiva de Felipe no Fla-Flu o manteve invicto no clube. São 23 jogos sem perder. O recorde histórico é de Jurandir, na década de 40, que ficou 24 jogos sem conhecer o sabor amargo de uma derrota.

Bruno e Felipe fortalecem invencibilidade nos pênaltis

A angústia dos pênaltis tem acompanhado os rubro-negros nos últimos anos, mas sempre termina em euforia. A série do Fla-Flu do último domingo foi a sexta em que os jogadores não voltaram para o vestiário cabisbaixos. Ao brilhar contra Botafogo e Fluminense, Felipe dá continunidade à dinastia do antecessor. 

Bruno participou de três disputas por pênaltis. A primeira na semifinal da Taça Guanabara de 2007 contra o Vasco. Dudar e Diego falharam contra ele. Na final do Carioca daquele ano, o camisa 1 bloqueou Lucio Flavio e Juninho, os dois principais cobradores do Botafogo. Leandro Guerreiro e novamente Juninho esbarraram em Bruno na decisão do estadual de 2009.

A quase invisível Copa Rio de 2005 também colabora para a boa fase do Flamengo nos pênaltis. Apesar de jogar a competição com time reserva, as partidas contaram para as estatísticas oficiais do clube. Por isso, a vitória sobre o Olaria por 5 a 4, na Rua Bariri, está na lista. O goleiro era Wilson, atualmente no Figueirense.

A última derrota ocorreu em 22 de setembro de 2004, contra o Santos, pela Copa Sul-Americana.

Depois de superar o Fluminense, o Rubro-Negro está a 90 minutos do título Carioca. Para isso, precisa vencer o Vasco, domingo que vem, no Engenhão, às 16h (de Brasília). Se a equipe de São Januário vencer, serão mais duas partidas para definir o campeão.

Antes, porém, tem decisão pela Copa do Brasil. Nesta quarta-feira, Horizonte-CE e Flamengo decidem quem vai às quartas de final. A partida será em Horizonte, distante 40 quilômetros de Fortaleza, às 21h50m (de Brasília). No primeiro jogo, no Rio, empate por 1 a 1. Caso o placar se repita, o classificado sairá nos pênaltis. O Rubro-Negro precisa vencer ou empatar a partir do placar de 2 a 2. Quem passar encara Ceará ou Grêmio Prudente.


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