- Como qualquer garoto, eu
sonhava ser jogador, mas nunca imaginei que pudesse vir a me tornar
profissional, que defenderia a seleção argentina ou que jogaria em outro
país. Acompanhei todos os jogos daquela geração, mas na verdade não
conhecia muito bem os jogadores. Lembro que o Herrmann jogou demais
contra os Estados Unidos e só depois do ouro passei a seguir de perto a
carreira de cada um deles. Quando ele assinou com o Flamengo fiquei
muito feliz. Não só por ele ser argentino, mas pelo que significa para o
basquete do meu país - explicou Nico, se referindo à histórica vitória
da Argentina sobre os Estados Unidos por 89 a 81 na semifinal das
Olimpíadas de Atenas 2004.
Um dos heróis de Nico no ouro de 2004, Herrmann vira seu colega de time no Fla (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Se
atualmente os dois são referências na equipe comandada pelo técnico
José Neto e foram fundamentais na inédita conquista da Copa
Intercontinental de Clubes, domingo passado, contra o Maccabi Tel Aviv,
de Israel, há uma década Nico era apenas um menino sonhador que vivia
correndo atrás da bola laranja. Aliás, essa é a única certeza que o
camisa 7 do Flamengo guarda daquele 28 de agosto, além da idolatria pelo
heróis dirigidos por Rubén Magnano (hoje técnico da seleção brasileira
masculina) e dos jornais da época que eternizaram o título argentino.
-
É claro que assisti à final contra a Itália, só não lembro exatamente o
que fiz depois do jogo. Sei que
não fui beber para comemorar porque só tinha 14 anos (risos). A única
certeza que tenho é que fui jogar basquete com meus irmãos e amigos.
Tenho todos os jornais de 2004 guardados em casa até hoje. Aquele ouro
para mim vale muito mais do que qualquer conquista da seleção de
futebol. A importância deles para os argentinos é tão grande, que
recentemente o Tata Martino (técnico da seleção de futebol) disse numa
entrevista que admira demais a geração de 2004 e que aquela equipe é uma
das maiores da história do esporte da Argentina - destacou Nico
Laprovittola.
Atento e até um pouco surpreso com as palavras
de carinho e idolatraria do novo companheiro de time, Herrmann não
esconde o orgulho pela conquista de 2004, mas diz que nem por isso se
sente melhor do que qualquer outro atleta argentino. Talvez essa seja a
razão que faça o jogador mais valioso da Liga Argentina na temporada
passada afirmar que nunca imaginou que a inesquecível conquista na
Grécia pudesse ter influenciado tanto as gerações futuras.
Principal
reforço do Flamengo para a temporada 2014/15, Herrmann agradece os
elogios de Laprovittola e se diz envaidecido pela chance de jogar ao
lado de um admirador. Ao mesmo tempo, o modesto ala rubro-negro cita uma
situação vivida num
passado nem tão distante assim para explicar que com o tempo a relação
de idolatria
entre fã e ídolo acaba perdendo a validade.
O
reforço rubro-negro pode até ter razão, mas nem por isso tem deixado de
"explorar" a boa vontade de seu fã. Em fase de adaptação no Rio de
Janeiro, Herrmann tem abusado bastante de Nico fora de quadra. Quase que
como um guia, o armador rubro-negro tem deixado o campeão olímpico na
cara da cesta na hora de indicar "as boas" da Cidade Maravilhosa ao
amigo.
Desde os números das linhas de ônibus e suas direções
até a escolha do melhor açaí da cidade, vício adquirido por Nico em
pouco mais de um ano de Rio e que parece já ter contaminado seu
compatriota.
-
O Nico tem sido fundamental na minha adaptação. Ele já me passou todas
as linhas de ônibus que preciso pegar para chegar aos lugares que quero
conhecer (risos). Segunda-feira peguei o 570 para conhecer o Corcovado
com meus três amigos argentinos que vieram assistir à Copa
Intercontinental. Fiquei impressionado com a beleza do lugar e o tamanho
do Cristo. Ele já me apresentou o Leblon e também me levou para tomar
açaí em Copacabana. Minha pedida foi com banana e morango e adorei -
disse Herrmann, que assim que desembarcou no Rio foi ao Maracanã
assistir à vitória do Flamengo sobre o Corinthians, por 1 a 0, pelo
Campeonato Brasileiro.
Há menos de um mês no Rio de Janeiro e
ainda sem entender bem o português, o ala argentino já se sente
praticamente em casa em solo brasileiro. Impressionado com a festa
proporcionada pela torcida do Flamengo após o título da Copa
Intercontinental de Clubes, Herrmann diz que já foi reconhecido pelos
torcedores na rua e só lamenta, em tom de brincadeira, não ter
conseguido dar a volta olímpica em razão da invasão à quadra.
Jogos na NBA despertam sensações distintas nos gringos
Antes
de aprimorar o novo idioma, Herrmann terá um desafio bem mais difícil
pela frente: representar o basquete brasileiro nas três partidas que o
Flamengo fará na pré-temporada da NBA, contra Phoenix Suns (8/10),
Orlando Magic (15/10) e Memphis Grizzlies (17/10).
Mas até
nisso o ala argentino está à frente do companheiro. Enquanto Nico não
esconde a ansiedade em poder realizar um antigo sonho de jogar no melhor
basquete do mundo, o ex-jogador do Detroit Pistons e do Charlotte
Bobcats terá a oportunidade de voltar à NBA seis temporadas depois de
disputar as finais da Conferência Leste contra o Boston Celtics, de Paul
Pierce, Ray Allen e Kevin Garnett.
Apesar de ter tirado
algumas dúvidas do "estreante" Laprovittola sobre a liga
norte-americana, Herrmann ficou sem resposta ao ser questionado se iria
enfrentar algum ex-companheiro de time:
- Não sigo muito a NBA
e sinceramente não sei dizer se algum ex-companheiro daquela época joga
nesses três times atualmente - admitiu o ala rubro-negro.
MVP da Copa Intercontinental, Laprovittola tinha 14 anos quando Herrmann foi ouro em Atenas (Foto: André Durão)
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