terça-feira, 17 de abril de 2012

Rubens Lopes: 'Ânsia de Marco Polo pelo poder é desmedida e flagrante'



Rubens Lopes (Foto: Paulo Sergio)
Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj), não aguentou a auto-indicação de Marco Polo Del Nero à eleição pela vice-presidência da Região Centro-Sul da CBF.

Rubens disse que o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) quer a qualquer custo a presidência da CBF e, irônico, recomendou que José Maria Marin, presidente da CBF, não aceite nem um bombom oferecido por Del Nero.

- A ânsia pelo poder leva pessoas a atitudes inimagináveis - disse.

Com o anúncio, Marco Polo e o tetracampeão Zagallo, indicado dos cariocas, vão se enfrentar em Assembleia Eleitoral a ser marcada. Certo mesmo é que quem ocupar a cadeira de vice da Centro-Sul será o primeiro na linha sucessória de José Maria Marin.

Os bastidores pelo poder na CBF pegam fogo. Veja a íntegra da entrevista exclusiva de Rubens Lopes ao LANCENET!.


Presidente, o senhor ficou surpreso com a indicação de Marco Polo Del Nero à vice-presidência da CBF?
Surpreso e assustado. As pessoas não estão respeitando os acordos. A ânsia pelo poder está fazendo com que elas extrapolem tudo. Estou assustado com essa ânsia que o Marco Polo está apresentando. Quer ser da Conmebol, da Fifa e da CBF. Na CBF, ele ficaria como o primeiro na linha de sucessão à presidência. Ele quer ser vice para legitimar uma relação de insubordinação à hierarquia que já está acontecendo. Existe um acordo moral. Há uma ânsia desmedida. O Rio de Janeiro precisa se posicionar, o Botafogo já se manifestou contrário a isso. Tenho lá minhas dúvidas se ele foi indicado dentro do prazo legal, o que constituiria uma irregularidade gravíssima. O Marin deve ter ficado com vergonha.

Qual foi sua reação quando foi avisado?
Fiquei surpreso. Não havia até então nome algum. Não se quebra um acordo. O Marin deveria se lembrar que ele é presidente da CBF em função de um acordo. Ele deveria convencer o Marco Polo a não indicar ninguém. Acordo entre lideranças é válido.

O Marin é refém do Marco Polo?
Marin foi governador, tem experiência política e é inteligente. Não sei se ele é refém. Talvez esteja meio sem graça de dizer "não" a um amigo. Isso o deixou em situação difícil, mas ele tem obrigação de impedir que São Paulo faça isso. Ele tinha de fazer valer o acordo.

Qual seria o projeto por detrás disto tudo?
Deve ser a presidência da CBF. Parabéns. Deve haver outros que querem ser também, mas que o faça pelas vias normais.

O senhor acha que existe uma tentativa de isolá-lo? Até alguns aliados já declararam que vão ficar um pouco mais longe desta questão.
Pelo que conheço do Ednaldo Rodrigues e do Novelleto (presidentes das federações baiana e gaúcha, respectivamente), eles não são desertores. Mas isso não invalida que eles continuem com uma posição como a minha. Não se respeita nada. Como respeitar o estatuto da CBF se eles não respeitam nada? O cara (Marco Polo) quer ser de tudo. Sugiro que o Marin se cuide. Se eu fosse ele, não comeria nem um bombom oferecido pelo Marco Polo. A cegueira e a ânsia pelo poder leva as pessoas a coisas imprevisíveis.

O senhor já fez um cálculo em relação a uma eleição Marco Polo x Zagallo? Acredita que Marco Polo pode adotar que tipo de expediente para conquistar votos, em especial das federações menores?
Não sei. Cálculo não fiz e não vou fazer. Se as federações e clubes entenderem que devem se submeter, paciência. Não cabe a mim interferir, não quero convencer ninguém. Não indiquei o Zagallo para disputar nada, estou lutando apenas pelo cumprimento de um acordo. Mas ele deve concorrer. As pessoas que mostrem publicamente que vão referendar aquele que não cumpre acordos.

Qual sua opinião pessoal sobre o Marco Polo?
Sempre tivemos relações boas. Apenas divergimos na postura. Achei que sua vitória para o Conselho Executivo da Fifa, por exemplo, foi uma grande vitória. Não vi anormalidade nisso. Sobre a ida da Copa América de 2015 para o Chile, podemos até instar que houve uma troca por um voto no CE da Fifa, mas foi uma vitória do Brasil a manutenção da vaga.

Presidente, qual é a próxima história que vai pipocar nos bastidores do poder da CBF?
Vamos esperar para ver. Serão positivas? Vamos aguardar. Todo e qualquer mecanismo que possa facilitar a vida do presidente Marin, para que ele dê expediente em São Paulo, será valido. O que não pode é que ele use este aparato na sede da FPF (N.R: Marin estaria pedindo que alguns programas exclusivos de uso da CBF sejam instalados em computadores em São Paulo). Ele que abra um escritório da CBF em São Paulo. Se não for assim, passo a acreditar até em Saci Pererê.

Como ficariam Rubens Lopes e a Ferj caso a vitória de Marco Polo se concretize?
Continuo mantendo minha posição, mas vou lamentar o resultado. Não estamos disputando algo dentro da normalidade. Referendar isso é que seria preocupante. Mas nós dois não somos inimigos.

Mas como fica sua percepção em relação a ele?
Descumprir acordos é algo que te coloca na defensiva. Mas ainda vamos conversar, o Marin pode impedir que isto aconteça. Ele deveria fazer gestão junto ao Marco Polo, ter uma crise de consciência.

Isso impede a costura de acordos futuros com o Marco Polo?
Vai ficar difícil. Quem faz um cesto faz um cento. A partir daí, só com documento assinado. E sob risco de falarem que não reconhecem sua assinatura.

A guerra está declarada na CBF?
Não estamos fazendo nenhum tipo de oposição. A CBF precisa de unidade para cumprir seus compromissos. O que há é amnésia de uns e desvio de rota de outros.

A guerra então será declarada caso a candidatura de Marco Polo seja vitoriosa?
Apenas teremos mais cautela no trato com as pessoas. A confiança ficará abalada.

Esse imbróglio pode significar o primeiro incêndio institucional da gestão José Maria Marin?
Ele deveria apagar isso logo. Ninguém está querendo cargos. O Marco Polo está advogando em causa própria. Sua ânsia pelo poder é desmedida e flagrante. Ele quer ser presidente da CBF a qualquer custo. Ele que seja, mas dentro de um processo normal.

O Marin vai abrir espaço para que ele assuma?
Podem até negar, mas que existe a possibilidade, existe. Recomendaria que o Marin não comesse nenhum bombom oferecido pelo Marco Polo. Tudo isto é parte de um processo de conspiração contra o Rio de Janeiro. Esportivamente, São Paulo nadava de braçada até o Rio acabar com isso. Foram três clubes na Libertadores deste ano. Isso deve ter sido considerado um pecado mortal por eles. Com o poder na mão, é fácil conspirar.

Essa suposta conspiração poderia se refletir em campo?
Imagina o que o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF (Sérgio Corrêa) não vai fazer sob as ordens da Federação Paulista de Futebol? Árbitros que apitarem jogos de clubes cariocas atuarão sob pressão. Eles já estão psicologicamente apavorados se acontecerem erros em prol dos cariocas.



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