quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Vice do Flamengo diz que futebol perderá credibilidade com 'virada de mesa'


Rodrigo Tostes Flamengo (Foto: Cahê Mota)Indignado com a possibilidade de alteração da classificação final do Campeonato Brasileiro por conta de suposta escalação irregular de jogadores, o vice-presidente de finanças do Flamengo, Rodrigo Tostes, falou em "forças extracampo" para descrever a confusão depois da última rodada da competição. Na segunda-feira, haverá julgamento dos casos da suposta escalação irregular de André Santos, do clube da Gávea, e de Héverton, da Portuguesa, conforme a CBF comunicou de forma oficial o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) na quarta-feira.

Tostes afirmou que haverá um alto custo a pagar se de fato o rival for mantido na Série A e o time do Canindé for para a Segunda Divisão. Ele citou que torcedores já fazem movimentos na internet indicando cancelamento de pacotes de pay-per-view (os clubes recebem percentuais) e disse que, se de fato o que chamou de "virada de mesa" se confirmar, a repercussão será de que o "futebol é uma grande brincadeira, que meia-dúzia manipula da forma como acha que deve".

- A repercussão (para a possibilidade de alteração da classificação final) é de uma total falta de credibilidade do que o futebol brasileiro representa. A repercussão vai ser que nessa altura do campeonato, depois de manifestações, trazer a Copa do Mundo, trazer a Olimpíada, o futebol é uma grande brincadeira que meia-dúzia manipula da forma como acha que deve. Ou seja, não adianta ir a estádio, não adianta comprar pay-per-view. Estou vendo campanhas na internet de pessoas dizendo que se acontecer a virada de mesa vão cancelar o pay-per-view. Não vale a pena ir ao estádio, discutir, fazer do futebol aquele ambiente saudável, sem tem meia-dúzia que decide quem sobe e quem desce. Vai ser uma frustração generalizada. Esse é o grande custo que vamos pagar com essa história toda, se isso terminar da maneira como está se indicando com a perda de pontos da Portuguesa, principalmente - disparou Tostes.

O vice de finanças do clube da Gávea falou que a hipótese de rebaixamento (caso de o Flamengo ser punida com a perda de quatro pontos, e a Portuguesa, não) nem está sendo considerada, por ora. 

 - O Flamengo reagiu a essa situação com clara indignação. Na visão do departamento jurídico, o clube tem todos os argumentos para que essa perda de pontos não aconteça, colocando à parte toda essa história de cair, rebaixamento ou não, a gente não está nem pensando nisso. O que a diretoria está indignada é a questão de reverter claramente um campeonato jogado na bola, o protagonismo de meia-dúzia de pessoas revertendo uma situação de pontos que foram disputados dentro do campo. Desanima. O sentimento é de indignação e de saber que estão sendo trabalhadas situações nos bastidores que prevalecem totalmente sobre a situação campo.

Tostes adiantou que o Flamengo trabalha com três teses em sua defesa para o julgamento da próxima segunda-feira. E disse que uma delas pode ser usada pela Portuguesa. O clube paulista está sendo defendido pelo advogado Michel Asseff Filho, que presta serviços para o Flamengo, já foi diretor jurídico na Gávea e atualmente também está colaborando na elaboração da defesa. O seu irmão, Marco Aurélio, foi ao STJD nesta quinta-feira retirar a cópia da denúncia contra os rubro-negros. O ponto principal, segundo Tostes, é o prazo para recurso e a validade da punição.

- Temos três teses que claramente podem ser utilizadas, com todo embasamento dentro do próprio regulamento, que dariam substância ao nosso pleito. A Portuguesa pode usar uma dessas teses que é a questão do cara ser julgado numa sexta-feira e a validade daquela decisão ser o próximo dia, sábado. Dentro do regulamento, tem outro artigo que joga para a questão do recurso. Por quê? Para dar a possibilidade de você poder se defender, p... . Imagina que você vai ser preso hoje, aí você só pode entrar com recurso na segunda-feira e vai ficar o fim de semana todo preso? Mas na Justiça comum tem lá um órgão que trabalha no final de semana para esse tipo de coisa. Então o que estou falando, além da questão de interpretação da lei, é a questão moral que está por trás disso.

Tostes não poupou críticas ao fato de o procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, ter declarado que se não houver punição após a CBF informar as irregularidades, a imagem do tribunal ficaria arranhada.

- Se clubes não puderem perder pontos quando culpados, passa a ideia de que se faz julgamento político, e não técnico. Se houver interesses clubísticos em julgamentos e as normas não forem aplicadas de acordo com o Direito, é a falência das nossas instituições. (...)A lei não fala em dia útil, mas, sim, em dia seguinte, independentemente de ser sábado ou domingo, desde que as partes tenham sido intimadas para a sessão. Até porque a maioria dos eventos e competições esportivas é realizada nos fins de semana e feriados. Em casos assim, não dá para esperar chegar a segunda-feira para a decisão ser aplicada. Tanto as partes (Flamengo e Portuguesa) foram intimadas como também se fizeram representar através de seus advogados no dia do julgamento - disse Schmitt ao GloboEsporte.com no dia 11 deste mês.

O dirigente do Flamengo não aceitou as colocações:

- O cara já coloca em um discurso antecipado dele a posição dele sem fazer qualquer avaliação dos pormenores da nossa defesa. Nós e a Portuguesa já entramos culpados. Como um cara pode dizer, sem saber o que vamos colocar, que os dois já estão irregulares? Me leva a crer que tem alguma coisa, porque tudo isso já foi pensado. Já sabe inclusive qual argumento vou usar, já tem a decisão sem saber a ponderação que vou fazer. Está fazendo isso, naturalmente se aproveitando desse palco, desse holofote, mas precisava fazer isso para induzir o auditor às ponderações dele? Não precisava. O que nos parece é que já tem todo um circo armado e estamos ali no picadeiro. Nem tudo o que é legal é moral. Não estou dizendo que somos culpados, mas não estão analisando sequer os nossos argumentos e o cara já está dando publicidade à posição dele. Ele tem a função de denunciar, tem. Mas o que ele ganha com isso? - disse Tostes.

Schmitt, informado das declarações do dirigente, respondeu no mesmo tom:

- Não sei quem é esse senhor, nunca vi uma linha dele sobre direito desportivo ou justiça desportiva, ou militância dele no tribunal. Estou exercendo na plenitude minha função, que é de fiscalizar o cumprimento da legislação desportiva. Pouca coisa me surpreende ou inova em tese jurídica em casos como esses. Respeito muito os dirigentes, mas cada um no seu quadrado, o doutor Michel Asseff Filho, aliás a família Asseff, sim, essa sim dispensa comentários pelo currículo. Agora um diretor de finanças que cuide da saúde financeira do clube, que não raro a sociedade cobra por ser uma das dívidas tributárias mais astronômicas do meio esportivo mundial. Eu como não sou economista não me meto a falar nesse assunto.

O cartola rubro-negro falou em forças extracampo ao comentar sobre qual será a postura do clube no caso. Ele afirmou que o Flamengo está colhendo pareceres de juristas para embasar suas teses.

- O que posso dizer é o seguinte, o Flamengo vai brigar até o fim por isso. Não somente para evitar perda de pontos e de dinheiro, mas pela moralização do esporte. Por isso que a gente foi para o Flamengo. Agora, existem forças extracampo que a gente não consegue controlar, mas não vamos ficar calados. Principalmente essa questão do início da contagem do prazo. Estamos nos municiando com diversos pareceres. Por uma questão ética e moral o Flamengo não vai permitir isso. Se o Flamengo está sendo usado como desculpa do que estão querendo fazer com a Portuguesa, escolheram o time errado.

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