segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Caio Júnior revela momentos de dor e alegria e completa cinco meses no Mengão

Em entrevista, o treinador analisou os cinco meses intensos que viveu à frente do Flamengo.

Nesta segunda-feira, você completa cinco meses desde sua apresentação no Flamengo. Por tudo o que você viveu neste período parece muito mais?
Caio Júnior: Eu tenho o perfil de treinador que fica muito tempo nos clubes. Não sou de criar muita polêmica. Procuro resolver as coisas nos bastidores. Fiquei um ano no Paraná, um ano no Palmeiras. Mas no Flamengo parece que é um tempo maior porque aqui é diferente. A repercussão é muito grande, e os profissionais estão mais expostos às polêmicas. Tive alguns momentos difíceis, mas o importante é ver que houve uma evolução do trabalho. Tudo o que aconteceu de situação negativa serviu para fortalecer o ambiente e o grupo. Notei que isso realmente aconteceu.

Dá para dividir essa passagem de cinco meses em três partes: uma até julho, outra quando você perdeu atletas na janela de transferências e esta reconstrução da equipe?
Em termos de resultado foi exatamente isso. Três partes distintas. Quando cheguei, tive dificuldade só de recuperar o grupo na questão psicológica depois do jogo contra o América-MEX (eliminação da Libertadores depois da derrota por 3 a 0 no Maracanã). Mas o elenco estava pronto, muito motivado. Dei seqüência, fui colocando um pouco minhas idéias nas substituições. Incrementei um pouco, muitas vezes joguei com três atacantes (Marcinho, Souza e Tardelli).

E a segunda parte?
Coincidiu o momento em que Souza, Marcinho e Renato Augusto saíram, e as lesões de jogadores importantes como Kleberson e Angelim. Ficamos sem referência na frente, e a equipe caiu muito de produção. A terceira parte envolveu a chegada das contratações, mas aconteceu a dificuldade do entrosamento deste pessoal no grupo. A equipe melhorou muito com a chegada do Marcelinho Paraíba. Ele deu uma cara nova porque começou a segurar a bola na frente, que era uma coisa que faltava. E agora, nos últimos dez jogos, perdemos apenas para o São Paulo.

A questão da vaidade dos atletas é algo muito comentado nos bastidores da Gávea. Como você faz no cotidiano para lidar com isso?
Isso é pontual. Tem que ver muito o momento. Há muita coisa que ninguém vê. Eu pedi uma sala isolada na Gávea, em cima da musculação, justamente para poder conversar individualmente com algum jogador ou dirigente. Acho que foi ótimo isso porque me isolei e comecei a resolver muitas coisas. A nossa estrutura de vestiário é muito exposta e tem coisas que você precisa resolver sem alarde, sem que ninguém veja.

Por que essas dificuldades surgiram?
Ainda vejo que não é fácil contratar vários jogadores numa equipe grande durante a competição. Está sendo uma experiência diferente porque no Paraná eu formei o grupo, no Palmeiras também. E no Flamengo eu cheguei no grupo que estava formado. Agora ele está mudando. Ano que vem, sim, eu vou trabalhar como estou mais acostumado.

O Flamengo trouxe nove atletas na janela de transferências. Você mudaria algo no planejamento?
Um grupo tem de ter 26, 27 jogadores no máximo. Nós agora, até porque a janela de transferências está fechada e não quero prejudicar ninguém, temos 31 atletas. E isso atrapalha um pouco nos treinos. Não gosto de deixar ninguém fora. Por isso há duas semanas faço três, quatro equipes para todo mundo participar.

Naquela seqüência de sete jogos sem vitória sua expressão era de desânimo. Você chegou a ficar decepcionado com os rumos que as coisas estavam tomando?
É normal, né? Porque o treinador vive de resultado. A gente vinha de uma liderança absoluta há dez rodadas, com cinco pontos à frente, e começamos a perder, perder, perder e ficamos para trás. Comecei a ver que o sonho ficara impossível.

E no episódio da invasão à Gávea em que arremessaram uma bomba sobre os jogadores, dá para notar nas imagens que você puxa os atletas e fala: “Isso é Brasil”. Por que esse desabafo?
É complicado. Não sou a pessoa certa para falar desse tipo de coisa. Os profissionais têm que ser mais protegidos no trabalho. São situações que no Brasil acontecem e nós não temos nada a fazer. Mas o importante é que foi resolvido, o Fábio Luciano teve um papel fundamental, e o grupo se fortaleceu.

No jogo contra o Sport, o vídeo com a sua preleção falando sobre a importância da torcida do Flamengo teve muita repercussão entre os torcedores. Como é feita a escolha dos temas das palestras?
Tudo é momento. Chega a uma altura do campeonato em que você está cansado de preparar palestra. São 160 palestras em dois anos e meio. Tem de ter idéia para caramba. Sua cabeça enlouquece. Às vezes surgem coisas novas, bacanas. Estou sempre ligado, e naquele momento era importante falar do torcedor. Sabia que no jogo contra o Sport a torcida não teria paciência porque viemos de dois resultados com os quais eles não estavam satisfeitos (derrota para o São Paulo por 2 a 0 e vitória sobre o Ipatinga por 1 a 0). E eu estava certo, mas acabou que revertemos isso a nosso favor.

Você chegar à Taça Libertadores é legal, mas o Flamengo busca o título. Se a vaga para a competição sul-americana não vier será um fracasso?
Ah, com certeza. O Flamengo ano passado atingiu a Libertadores. Esse ano, o torcedor quer, no mínimo, repetir. Se nós vamos conseguir ou não é outra questão. Estava analisando a tabela no avião. Há oito ou nove times com possibilidade de chegar. A vaga não é fácil, é complicada. Mas mirando o título você tem mais chance de se classificar. E acho essa conquista totalmente possível pelo que tenho visto nas ruas. O torcedor está supermotivado e nós estamos encontrando uma equipe ideal na reta final.

E o grupo também tem essa mesma vontade de ser campeão?
Eu sinto isso, sim. Vejo que já houve uma adaptação melhor dos jogadores que chegaram. Nossas lideranças são muito boas. Alguns líderes estão crescendo. Não dependemos só do Fábio. O Leo Moura é um grande líder, o Bruno cresceu neste aspecto, o Jaílton, o Kleberson e principalmente o Marcelinho. Ele fala, dá opinião. Dividir este comando no elenco foi ótimo.

Você cita constantemente o Marcelinho. Qual é a influência dele no grupo tanto dentro quanto fora de campo?
Marcelinho é o que mais está encaixando. Ele divide a liderança com o Fábio, mas é bem diferente. O Fábio é um capitão como não vi até hoje alguém com a liderança tão positiva.

Depois de três jogos como titular, o Josiel nem entrou em campo contra o Náutico. É a hora de blindá-lo?
É o momento para resguardar o jogador. No Flamengo, atacante o torcedor ama ou odeia. Eu acho que ele tem potencial para fazer gol, mas precisa de tempo.

Uma das maiores críticas que você sofreu foi sobre o esquema com três zagueiros, mas um deles sendo o Jaílton, que é volante...
Veja bem. Quando você tem três zagueiros de origem, não dá para mudar de esquema durante o jogo. E em alguns jogos, o adversário entra com um atacante e eu falo: “Jaílton, passa para volante”. Posso fazer isso na boa.

E se você pudesse definir em uma frase ou uma expressão tudo o que vive no Flamengo, qual seria?
Quando eu era moleque, assistia muito ao Canal 100, e 90% dos jogos eram do Flamengo. Pensava muito em como seria participar deste clube. E agora eu estou aqui. Por isso eu penso como a vida é incrível.

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