quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Mansão abandonada: casa que abrigou ídolos do Fla está inabitável


A mansão Fadel Fadel, em São Conrado, que na década de 80 serviu de concentração para Zico, Júnior, Adílio e outras estrelas do Flamengo, está abandonada, inabitável. Com irregularidades fiscais, o clube tenta a Certidão Negativa de Débito (CND) para encontrar uma solução para o lendário imóvel da rua Jaime Silvado, que foi abrigo de ídolos, endereço que guarda histórias e já teve canja de Jorge Benjor. Mas hoje está em desafino.

- Tivemos proposta de envolver o imóvel em uma transação, mas não é venda, continuaríamos com o patrimônio. Hoje a casa está parada, em péssimo estado de conservação, inabitável e deteriorada. Temos questões de irregularidades fiscais, precisamos da Certidão Negativa de Débito (CND) para conseguir uma solução. Esse problema vem de alguns anos. Existiu a ideia de ser utilizada como concentração para a base, mas há muito tempo não usamos a casa. Não sei se será ainda nesta gestão, mas a ideia é buscar uma solução – afirmou o vice-presidente de patrimônio do Flamengo, Alexandre Wrobel.

Casarão concentração Flamengo abandonado (Foto: Janir Júnior / Globoesporte.com) 
Mansão que servia como concentração do Fla em São Conrado (Foto: Janir Júnior / Globoesporte.com)
 
Na década de 80, a mansão possuía dez quartos, jardim arborizado com bancos espalhados, sala de cinema, refeitório, e uma mesa de sinuca que animava os jogadores. Até a seleção brasileira, com Pelé, ficou no local nos anos 60.

Júnior lembra com carinho dos animados dias e noites da mansão. Uma época em que concentrar não era, para os jogadores, o pior momento do futebol.

- Era como se fosse a nossa casa. Tinha sinuca, jogávamos um baralhinho, dona Mara, seu Nivaldo, Zé Luiz, eram pessoas que trabalhavam lá, conheciam a gente desde moleques, sabiam como cada um gostava da salada, se o bife era bem ou mal passado, faziam pastéis. O clima era muito legal. A gente acordava, ia para o jardim ler o jornal. O hotel é muito restrito, ali tinha maior liberdade, recebíamos os familiares – recordou o Maestro.

O ex-jogador também revela curiosidades, e uma espécie de revolução às avessas quando o então técnico Carlos Alberto Torres pensou em abolir a concentração.

- Ele queria acabar com regime de concentração, e ninguém quis. Os jogadores todos foram para lá. Fazíamos brincadeira, entrávamos na frequência de um rádio, começávamos a fingir que era uma entrevista, falando que o Moisés (técnico) não mandava nada, ele ficava p... da vida. Uma vez, o Carlinhos Niemeyer fez uma compilação de jogos do Canal 100, passamos dois dias assistindo. Também íamos ao cinema, que era do outro lado da rua, no shopping – revelou Júnior.

concentração flamengo década de 80 (Foto: Agência O Globo) 
O jardim arborizado da concentração do Flamengo na década de 80. Júnior revela clima familiar que cercava a mansão e curiosidades da época (Foto: Agência O Globo)
 
Ele acredita que o clube poderia pensar em ter algum lucro com o imóvel.

- Pode ser bom economicamente de alguma forma, já que a estrutura é grande.

Certa vez, Adílio também comentou com carinho sobre a mansão, que era frequentada por jornalistas, torcedores e personalidades.

- Às vezes, tinha canja do Jorge Ben, do Pepeu Gomes... Eu também brincava, fazia uma dança imitando o James Brown (risos). Era muito animado.

A concentração na casa evitava gastos com as altas diárias do hotel. Hoje, o time se concentra em um luxuoso hotel na Barra da Tijuca, a poucos quilômetros da mansão Fadel Fadel, que chegou a servir de moradia para meninos das categorias de base. O volante Jônatas, o zagueiro Rodrigo Arroz e o atacante Fabiano Oliveira dividiram quartos em São Conrado. A ideia é que no futuro, com o fim das obras no Ninho do Urubu, o grupo possa ficar hospedado no CT.

concentração flamengo São conrado (Foto: Eduardo Peixoto / Globoesporte.com)Concentração passou por reformas em 2007

Em 2007, ainda com Márcio Braga na presidência, o clube estudou transformar a casa novamente em concentração. Durante três meses foram realizadas reformas no imóvel. A ideia era que, em 2008, os profissionais retomassem os hábitos da geração vitoriosa de 80, o que não aconteceu.

Na época, também existia uma preocupação: com Zico e companhia, eram quatro, cinco atletas em cada quarto. Atualmente, os jogadores foram acostumados a serem divididos em duplas em hotéis cinco estrelas. Mudou a época, mudou a mentalidade.

Atualmente, a mansão Fadel Fadel é o retrato do abandono. Um segurança do Flamengo toma conta do local. Há alguns meses, dois moradores da Rocinha, favela próxima ao imóvel, pularam o muro e tentaram se abrigar no local, sendo expulsos imediatamente.

Fios, paredes rabiscadas, pedaços de concreto e um ar de nostalgia dão o tom do local. Referência ao Flamengo, apenas em um adesivo com um escudo do clube e um pôster de campeão apagado pelo tempo. O rubro-negro Jorge Benjor um dia esteve por lá. Mas hoje a mansão Fadel Fadel seria mais a casa muito engraçada cantada por Vinicius de Moraes: “Não tinha teto, não tinha nada”.

 

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