quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Maestro dos gols bonitos: Alan Patrick conduz Flamengo e se vê no auge da carreira


A torcida do Flamengo pediu insistentemente a chegada de um camisa 10 para a atual temporada, mas não conseguiu enxergar na contratação de Alan Patrick a solução. Tratava-se de um jogador que, prejudicado por seguidas lesões, vinha jogando pouco no Palmeiras. O casamento no Rio de Janeiro, no entanto, foi perfeito, surpreendeu. Bastou Alan ter um pouco de sequência como titular para encantar os rubro-negros, que agora sim veem nele um autêntico meia armador, mais criativo até do que Ederson, pescado na Europa para exercer a função e que inclusive ganhou o número que já foi de Zico.

Em 16 partidas pelo clube da Gávea, Alan Patrick tem três assistências, mas poderia ter mais, não fossem os gols desperdiçados por companheiros após presenteá-los com belos passes. O jogo contra o São Paulo no returno (vitória por 2 a 1) é um exemplo, com Guerrero perdendo duas chances claras após ser acionado pelo meia. E o camisa 19 traz consigo um bônus: é o artilheiro do time no Campeonato Brasileiro, com cinco gols. Todos muito bonitos, por sinal. Claro que guardadas as devidas proporções, dá para imaginar nele um pouco de Junior, que como meio-campista virou "Maestro" após liderar e guiar o Fla na conquista do Brasileiro de 1992, e outro pouco de Dodô, que ficou conhecido como "Artilheiro dos gols bonitos". O fato é que a fase de Alan Patrick é ótima, o que o fez ganhar a confiança e a admiração dos rubro-negros.

Alan Patrick, Flamengo (Foto: Ivan Raupp) 
Alan Patrick gosta de colocar a bola num lugar específico: a gaveta (Foto: Ivan Raupp)
 
- Eu não vim com aquele alarde todo, aquele status de estrela, mas procurei sempre fazer meu trabalho focado e mostrar dentro de campo meu valor para todos. Vem dando certo, os resultados vêm acontecendo. Com essas grandes atuações, acho que agora a torcida me conhece (risos), todo mundo me conhece, sabe do meu potencial. Espero dar continuidade dessa mesma maneira - disse o jogador de 24 anos, em entrevista ao GloboEsporte.com.

Foi na quadra de futsal do condomínio onde mora no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, que Alan Patrick recebeu a reportagem para conceder esta entrevista, onde falou bastante sobre Flamengo e carreira, que segundo ele está no melhor momento. Após seis vitórias consecutivas e o espaço conquistado no G-4, pediu pés no chão ao time, mas mostrou uma pontinha de esperança no título brasileiro, mesmo 13 pontos atrás do líder Corinthians. Teve dificuldade para explicar o porquê de a troca de Cristóvão Borges por Oswaldo de Oliveira ter dado tão certo. Relembrou os tempos de Ucrânia. E garantiu que pretende estender seu contrato com o Rubro-Negro, que termina no fim do ano - o Fla já se movimenta para tentar renovar o empréstimo junto ao Shakhtar Donetsk até o fim de 2016. Veja a seguir a entrevista na íntegra.

GloboEsporte.com: Vamos começar sendo diretos. O Flamengo tem um novo maestro?
Alan Patrick: (risos) Olha, isso eu deixo para o torcedor, né? Talvez pela função, pelas minhas características, algumas pessoas acabam apelidando dessa forma. Mas procuro ser eu mesmo dentro de campo para apresentar um bom futebol.

Na opinião de muita gente, você o jogador do Flamengo que vive melhor fase atualmente. Inclusive tem feito gols. A que se deve essa boa fase?
Isso de deve à confiança de todos desde o momento em que cheguei. Diretoria, jogadores e comissão técnica sempre me passaram muita confiança. A sequência de jogos também é muito importante, não só para mim, mas para todos os jogadores. Quando você tem uma sequência maior de jogos, é natural que seu futebol cresça, você vai pegando ritmo de jogo. Acredito que por isso também.


Alan Patrick, Flamengo x Cruzeiro (Foto: André Durão)Acha que este é o melhor momento da sua carreira?
Acredito que sim. Está sendo o melhor momento da minha carreira.

Você chegou ao Flamengo sem status de craque, de ídolo. Estava jogando pouco no Palmeiras por conta das lesões. Sentiu desconfiança da torcida ou da imprensa no momento da chegada?
Não. Eu não vim com aquele alarde todo, aquele status de estrela, mas procurei sempre fazer meu trabalho focado e mostrar dentro de campo meu valor para todos. Vem dando certo, os resultados vêm acontecendo. Com essas grandes atuações, acho que agora a torcida me conhece (risos), todo mundo me conhece, sabe do meu potencial. Espero dar continuidade dessa mesma maneira.

Você jogou em São Paulo, no Rio Grande do Sul e na Ucrânia. Vê diferença da torcida do Flamengo para as torcidas desses lugares?
A torcida do Flamengo é a maior, né? Em todo lugar em que vamos jogar somos recebidos com festa. Vejo uma torcida que abraça o time. Agora, com esse bom momento da equipe, a tendência é que eles venham junto com a gente. A cada jogo eles estarão nos apoiando, fazendo o papel deles fora de campo. Dentro de campo a gente vai procurar retribuir. Realmente é uma torcida fantástica, faz a diferença.

Antes de iniciar essa arrancada no Brasileiro, o Flamengo foi eliminado pelo Vasco na Copa do Brasil, e você não pôde jogar por já ter atuado pelo Palmeiras na competição. Vendo de fora, acha que o time sentiu sua falta, sentiu a falta de um armador como você?
Não sei dizer se a gente teria conseguido a classificação se eu estivesse em campo. Não vejo dessa forma. Nosso elenco é muito qualificado, tem grandes jogadores que podem fazer essa função também. Mas, por escolhas, talvez a gente não tinha naquelas partidas o cara para fazer essa armação. Mas jogadores como o Canteros, que sempre faz essa função de armar também, estavam em campo. No primeiro jogo entramos muito na pilha deles de brigar muito dentro de campo e acabamos esquecendo um pouco de jogar o futebol que vínhamos apresentando. Na volta fizemos um grande jogo, mas sofremos o empate numa bola parada e a eliminação. Mas a equipe vinha fazendo bons jogos e vem apresentando isso no Campeonato Brasileiro. É uma competição diferente, e a gente está bem focado nela. Nós vamos buscar coisas maiores.

O jogador que o Flamengo contratou para ser o camisa 10 foi o Ederson, que está buscando espaço no time. Você enxerga uma concorrência direta com ele na posição de meia?
Vejo características nele que são diferentes das minhas, apesar de ele ser o 10. Acredito também que ele pode fazer essa função que venho fazendo. Ele também faz muito bem a função pelas beiradas, como atacante. Mas acho bom quando você tem um grupo assim, de jogadores qualificados. Isso motiva e não deixa a gente se acomodar. A cada jogo quero jogar melhor, sempre ajudar o Flamengo a vencer as partidas, e acho que esse é o pensamento de todos.

Se for o caso de vocês jogares juntos, o que já aconteceu no Flamengo, está disposto a atuar de forma um pouco mais recuada, como segundo volante? Inclusive você já fez essa função na sua carreira.
Sim, já fiz. Eu fiz bastante no Internacional com o Abel (Braga). E teve um jogo aqui no Flamengo onde jogamos juntos, eu fiquei um pouco mais recuado, e deu certo também. Isso vai do Oswaldo, de como ele acha melhor armar a equipe. Ele é um cara inteligente, e tenho certeza que vai conseguir tirar o melhor de cada um.

Alan Patrick, Flamengo (Foto: Ivan Raupp) 
Meia de 24 anos vive grande fase (Foto: Ivan Raupp)

Por falar em treinador, por que o Flamengo do Cristóvão não andou e o Flamengo do Oswaldo está andando?
Não sei. Com o Cristóvão a gente vinha fazendo bons jogos. A diferença é que o resultado positivo não vinha aparecendo. Com a chegada do Oswaldo, coincidiu de as vitórias começarem a aparecer, e a gente está fazendo essa bela campanha com ele.

Houve alguma mudança interna, de pensamento que seja, que de repente tenha virado a chave de vocês?
Não. Ele (Oswaldo) veio, passou muita confiança para todos, apontou que a gente podia chegar. A gente acredita no trabalho dele, como acreditava no do Cristóvão. Mas, como falei, o futebol é resultado. Com a mudança, os resultados começaram a aparecer.

Ainda sobre o Oswaldo, é curioso que no primeiro semestre ele te treinava no Palmeiras e te liberou para ir para o Flamengo, já que não estava sendo muito aproveitado. Agora vocês se reencontraram, e ele fez questão de dizer que você hoje é titular absoluto do time. Como foi essa situação, essa mudança de ares da dupla?
Quando ele chegou ao Palmeiras, eu até era titular, mas as lesões me atrapalharam muito. Tive uma lesão na posterior, e logo que voltei machuquei a anterior da mesma coxa. O Palmeiras tinha contratado muito, e tinha muitos jogadores da minha posição que estavam jogando bem. Eu tinha que esperar o meu momento, aí surgiu o interesse do Flamengo. Conversei com o Oswaldo e com a diretoria, e achei que era melhor a minha saída. Graças a Deus está dando certo. Hoje estou aqui, o Oswaldo chegou, a gente está trabalhando junto de novo. Mas ele é um excelente profissional, um cara do bem pra caramba, inteligente e competente no que faz.

Você tem contrato com o Flamengo até o fim do ano, mas já existe um pré-acordo verbal para que seja renovado até o meio de 2016. A diretoria tem interesse em estender o vínculo pelo menos até o fim do ano que vem, seis meses antes do término do contrato com o Shakhtar. A renovação com o Fla é algo que você faz questão que aconteça hoje?
Estou muito feliz pelo meu momento aqui, quero continuar. Vamos ver o que vai acontecer daqui para o final do ano a respeito dessa negociação. Espero que dê tudo certo. Claro que o Flamengo tem que conversar com o Shakhtar e meus procuradores para juntos tentarem chegar a um acordo. Espero que seja bom para mim, para o Flamengo, e que eu possa continuar aqui dando sequência à minha história dentro do clube.

Então, é desejo seu ter pelo menos mais uma temporada inteira pelo Flamengo?
É sim. Vai ser importante. Se Deus quiser e a gente conseguir uma vaga na Libertadores, quero jogar ano que vem e fazer outra temporada boa, tentando levar o Flamengo às conquistas. Estou bem focado nisso.

Você voltou para o Brasil apenas duas temporadas depois de ter sido vendido ao Shakhtar. Foi frustrante de alguma forma ter ido para a Europa e voltado tão rápido ao Brasil?
Queria reencontrar meu bom futebol, porque não vinha jogando muito na Ucrânia. Conversando com minha família e meu empresário, achei que seria melhor uma volta. Isso aconteceu, e ano passado fui bem no Internacional. A Ucrânia foi uma experiência muito boa para mim, aprendi muito profissionalmente. Tenho boas coisas que posso levar para o resto da minha vida.

Teve algum tipo de dificuldade de adaptação à Ucrânia?
Não, a adaptação foi boa. Claro que o futebol lá é diferente, o idioma e a cultura são diferentes, mas tinha bastante brasileiro, e a gente se unia bastante. Acho que isso ajudou muito na adaptação.

E por que acha que não conseguiu o sucesso que esperava lá?
No Shakhtar havia muitos brasileiros para a mesma posição. Quando eu estava lá, eram 12 ou 13 brasileiros, todos do meio para a frente. Se não me engano, só o Fernandinho, hoje no Manchester City, era volante e jogava mais recuado. Por isso tive poucas oportunidades, e acabei optando pela volta.

O Flamengo encerrou um jejum de quase quatro anos sem entrar no G-4 do Brasileirão. Depois de seis vitórias seguidas, como está o astral do grupo?
Melhor impossível (risos). As coisas vêm acontecendo da maneira como a gente esperava. Nós nos reunimos na virada do turno e traçamos uma meta de que a partir dali seria um recomeço e um novo campeonato para nós. Vem dando certo. Também vale ressaltar que o Campeonato Brasileiro é muito disputado, muito nivelado. Isso dá muita confiança para todos, e a gente espera continuar fazendo bons jogos e indo em busca de mais vitórias.

Alan Patrick, Flamengo (Foto: Ivan Raupp) 
Alan Patrick é o artilheiro do Fla no Brasileiro, com cinco gols, todos bonitos (Foto: Ivan Raupp)
 
Quem são seus melhores amigos no grupo? E seu parceiro de quarto na concentração?
Sempre me dei bem com todo mundo em todos os clubes por onde passei, mas claro que você tem mais afinidade com um ou outro. Aqui no Flamengo estamos sempre juntos eu, Everton, Paulinho, a rapaziada que gosta de brincar mais e tirar uma onda com um ou outro. O grupo é excelente, todos se dão muito bem. E meu parceiro de quarto é o Ayrton. Chegamos juntos aqui e nos concentramos juntos.

Vocês estão no G-4 hoje. Acha que o Flamengo tem condição de ser campeão brasileiro?
Cara, acho que temos que pensar passo a passo. Vamos com o pezinho no chão. Faltam muitas rodadas ainda. É claro que, com as vitórias acontecendo, a tendência é que a gente se aproxime mais dos primeiros colocados. A diferença de pontos é grande. Mas quando estiverem faltando umas sete rodadas nós vamos ver se realmente vamos brigar pelo título ou por uma vaga na Libertadores.

E seleção brasileira? Vê essa meta ainda distante ou está perto?
Sempre foi meu sonho. Todos buscam essa convocação. Mas estou bem focado aqui. Espero continuar apresentando bom futebol. Claro que todos estão vendo, até o próprio treinador da Seleção. Espero continuar nessa boa sequência para, se Deus quiser, conseguir um dia uma convocação. É meu sonho e vou trabalhar para isso.

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