sexta-feira, 13 de abril de 2018

Atrás das grades: nova setorização do Maracanã isola organizadas no estádio


Um novo padrão de segurança nos estádios do Rio de Janeiro começa a dar seus primeiros passos. Além do início da implementação do uso da biometria nas partidas, outra medida já foi posta em prática: a setorização das organizadas.

Apesar de ainda não estar em funcionamento, o setor destinado às torcidas chama a atenção pelo novo aparato de isolamento: cabos de aço sobre grades, tornando o setor uma espécie de "gaiola", o que gerou versões conflitantes.

Desde a confusão na final da Copa Sul-Americana entre Flamengo e Independiente, diversas reuniões entre os quatro grandes clubes da cidade, o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) e o Ministério Público (MP) deram origem a um plano de ideias. A setorização das torcidas organizadas, que o MP não abre mão, é a mais importante delas.

- O Gepe solicitou aos clubes que criassem uma setorização para as organizadas em todos os estádios, como acontece no Sul. O Maracanã não tem setorização: foi feito para as pessoas poderem mudar de setores e rodar o estádio todo por dentro, caso assim desejasse. Só que isso é descolado da nossa realidade, e para conseguirmos provir segurança precisamos que se delimite algumas áreas. Uma delas, das organizadas - declarou o Major Sílvio Luiz, comandante do grupamento.

Com a biometria, de acordo com o Gepe, a ação policial de controle de pessoas e organizações se tornará mais fácil. Todas as torcidas organizadas ficariam em um setor - há um de cada lado das cabines - no nível 1 do estádio, que compreende dois mil lugares.

As medidas, em caráter educativo, foram dispostas no estádio pela primeira vez no segundo jogo da final do Campeonato Carioca, entre Vasco e Botafogo. Na partida entre Fluminense e Nacional Potosí-BOL, pela Copa Sul-Americana, o setor destinado às organizadas chamou mais atenção, já que o Tricolor utilizou apenas as arquibancadas inferiores do Maracanã.

A princípio, o Consórcio que administra o Maracanã se comprometeu a instalar divisórias de acrílico. Mas na prática, o que se vê agora são cabos de aço sobre grades que já existiam. A Ferj e os clubes desconhecem a iniciativa e não foram informados sobre a instalação dos novos aparatos de segurança.

As versões sobre a divisória são diferentes entre si. Enquanto o Gepe diz que os clubes escolheram o local e sabiam do material que seria utilizado, os clubes evitam comentar sobre as grades, e dizem não ter definido o setor da arena a ser destacado.

A Concessionária, por sua vez, admite ter idealizado e instalado as separações. Já a Ferj afirma desconhecer a colocação dos cabos de aço.

- Essa área foi escolhida pelos clubes. Apenas dissemos que precisávamos fazer isso. O espaço de dois mil lugares pode vir a não compreender todos os torcedores, mas será como no restante do estádio: se não houver mais bilhetes disponíveis, a entrada não será permitida. A ideia é separar as organizadas de todo o resto. Quem fez a obra foi a concessionária, que tentou diminuir o dano visual de quem fica no setor superior. Não é incumbência do Gepe, mas causa estranheza realmente visto pela primeira vez - disse o Major Silvio Luiz, comandante do Gepe.

O que diz a concessionária do Maracanã

“A setorização das torcidas organizadas foi uma determinação da FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), Ministério Público e GEPE (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios). Coube à Concessionária Maracanã operacionalizar, em consenso com os órgãos, a delimitação do espaço e, para isso, utilizar um material móvel, uma vez que nem todas as competições permitem a separação dos espaços do estádio."

O que dizem os clubes:

Flamengo

"O Flamengo está de acordo com as alterações, que são resultado de solicitação do MP, após reuniões entre clubes, Federação de Futebol do Rio de Janeiro e órgãos de segurança do Rio de Janeiro."

Fluminense

"A segurança nos estádios foi pauta de diversos encontros desde o ano passado, sempre reunindo representantes do Ministério Público, Gepe, Ferj, Juizado Especial do Torcedor e clubes. O Fluminense é a favor do uso da biometria e também concordou com a sugestão das autoridades de promover a setorização de determinados espaços do estádio, incluindo aquele destinado às torcidas organizadas."

vasco

"Os clubes foram informados das mudanças, mas ninguém foi consultado para dar opinião quanto à operações e instalações. Talvez seja uma discussão de bastante tempo. A nova gestão não foi consultada. O vasco foi informado das mudanças e mesmo assim só na reunião que tratou da final do Campeonato. Não escolhemos lugar. Nos passaram que a ideia seria replicada para outros estádios."

Botafogo

Por conta do confronto pela Copa Sul-Americana, a diretoria do Botafogo não respondeu a reportagem até o fechamento da matéria.

O que diz a Federação

"A disponibilização do espaço e sua utilização couberam ao Consórcio Maracanã em acordo com o GEPE. Ficarão no nível 1 em jogos no Maracanã. As medidas estão sendo implementadas em caráter educativo e experimental.

O Plano de Segurança Integrado é para jogos de grande apelo de público no Rio de Janeiro, seja Campeonato Carioca, Copa do Brasil, Brasileiro, Sul-Americana, Libertadores. A setorização está dentro desse pacote. A colocação das grades, sim, foi resultado de consenso entre os participantes para levar as organizadas para o setor destinado. A FERJ desconhece a colocação de cabos de aço.

Desde o início do ano, visando a segurança do torcedor, a FERJ mantém rotina de reuniões sobre o tema. Rodadas de discussões foram feitas com os clubes, Ministério Público, desembargadores do Tribunal de Justiça, órgãos de Seguranca, Polícia Militar, Guarda Municipal, Corpo de Bombeiros. A biometria não tem um pai. Tem vários, todos interessados na segurança. Vale ressaltar que havia uma decisão para implementar biometria e torcida única que, por conta dessas ações, está suspensa por 180 dias, à espera dos relatórios.

A Ferj entende que a setorização de qualquer estádio não tenha significado ou finalidade discriminatória, mas tão somente de forma a permitir, em local específico, a presença de grupos de torcedores com identidades e propósitos comuns, oferecendo aos mesmos conforto, acessibilidade, sanitários, bares, segurança e serviços pertinentes, a exemplo dos demais setores existentes."

Nenhum comentário:

Postar um comentário