O telefone toca incessantemente e, para ter alguns momentos de paz, é
preciso desligar o aparelho celular. A pressão e o vazamento de
informações afetam o trabalho. O distanciamento da família incomoda.
Algumas declarações geram questionamentos. O dia a dia de Zinho mudou
radicalmente desde 11 de maio, quando assumiu a função de diretor de
futebol do Flamengo, e deixou para trás uma tranquila vida de
comentarista de TV. Dois meses e meio depois, o dirigente confessa:
- Estou desgastado.
No tempo em que está no cargo, Zinho teve de administrar problemas
sérios, de extrema repercussão e que geraram enorme desgaste. O embate e
a saída conturbada de Ronaldinho Gaúcho, o processo de fritura e queda
de Joel Santana, o fracasso nas negociações com Diego e Juan, a ausência
da contratação de um camisa 10 e a condução do caso Riquelme são alguns
dos exemplos de turbulência do comandante do futebol rubro-negro.
Em pouco mais de dois meses, Zinho enfrentou mutos problemas (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)
A política fervilhante do clube também respinga no futebol, já que
algumas crises internas envolvem o vice-presidente de finanças, Michel
Levy, e o vice de futebol, Paulo Cesar Coutinho. Apesar da pressão sobre
Coutinho, Zinho defende o trabalho do dirigente. O vazamento de
informações também incomoda.
- Percebi nesses dois meses que não vou conseguir mudar isso no Flamengo - afirmou Zinho.
A mulher e filhos de Zinho foram passar férias nos Estados Unidos. Foi
uma solução para o dirigente garantir uma diversão para a família, e
conseguir trabalhar sem o peso de não conseguir dar atenção em casa.,
Zinho tenta arrumar outra casa, a rubro-negra. Tem o carinho e respeito
dos jogadores pela forma de falar olho no olho. Ganhou moral com a
presidente Patricia Amorim, já que segura algumas cobranças que seriam
destinadas a ela. Mas, em pouco tempo, o diretor sentiu na pele a
dificuldade de colocar ordem no clube, em funções que nem grandes ídolos
como Zico e Junior conseguiram passar imunes. Zinho, porém, não pensa
em abandonar o barco e deixar o futebol rubro-negro à deriva.
Caso Ronaldinho Gaúcho
Logo que assumiu sua função, Zinho já teve um grande problema para
resolver, que atendia pelo nome de Ronaldinho Gaúcho. Responsável direto
pela queda de Vanderlei Luxemburgo, o ex-camisa 10 tinha uma rotina de
problemas disciplinares. De início, o novo diretor conversou com o
jogador e chegou a encobrir indisciplinas e defendê-lo quando apareceu
sem condições ideais para treinar. Aos poucos, porém, a situação ficou
insustentável. Na viagem do time para um amistoso em Teresina,
Ronaldinho não apareceu e nem ligou para Zinho. Na ocasião, Paulo Cesar
Coutinho, vice de futebol, foi flagrado por torcedores dizendo que o
jogador estava afastado. O diretor foi acordado no hotel da delegação no
Piauí já tendo que desarmar mais uma bomba. Horas depois, porém, veio à
tona que o ex-camisa 10 entrara na Justiça contra o clube. Zinho,
então, falou abertamente sobre as indisciplinas do jogador e afirmou:
- Acabou a festa, acabou a bagunça.
Fritura e queda de Joel Santana
Desde o começo da fritura interna de Joel, Zinho foi obrigado a
conviver com notícias de possíveis substitutos e foi o principal
responsável por manter o treinador no cargo. O diretor teve de ir à
imprensa para esclarecer que não tinha procurado Dunga, nem Jorge
Sampaoli, e pediu paz para o técnico. Mas o próprio dirigente já não
estava satisfeito com o trabalho de Joel. Zinho se desgastou ao servir
de escudo para o ex-treinador. Depois da derrota por 1 a 0 para o
Cruzeiro, no último domingo, a demissão, enfim, foi consumada. E logo em
seguida Zinho já teve de esclarecer que não fizera nenhum contato com
Dorival Júnior.
Juan, Diego e o caso Riquelme
Outros desgastes para o dirigente. Depois de iniciar a negociação com
Juan em maio, o zagueiro preferiu o acerto com o Internacional. Zinho
deixou clara sua insatisfação. Mas a busca sem sucesso por um camisa 10
foi mais penosa. O diretor mantinha contato com Diego em sigilo, quando o
vice de finanças Michel Levy comentou abertamente sobre a vontade do
clube de contar com o jogador. O Flamengo deu sua cartada para tentar a
contratação junto ao Wolfsburg-ALE, mas o negócio não foi adiante.
Quase ao mesmo tempo, Zinho mantinha contatos com o plano B, que era
Riquelme, mas em suas declarações evitava admitir a negociação. Foi
noticiado, então, que Levy teria uma conversa com representantes do
jogador - o que não aconteceu. Mas o episódio deixou Zinho extremamente
irritado, e ele chegou a cogitar um pedido de demissão. O clube
intensificou as negociações com o argentino às vésperas do fechamento da
janela de transferências internacionais. Mas, depois da derrota por 3 a
0 para o Corinthians, o camisa 10 do Boca Juniors recusou o convite,
segundo Zinho, com a alegação de que teria ficado assustado com a
atuação do time e pressão.
- Houve uma polêmica com o vice de finanças, porque eu estava
negociando com o jogador, mas, como no Flamengo é impossível negociar
sem que as coisas vazem... A primeira opção era o Diego, mas haveria
novas possibilidades. Eu não falava da minha boca, parecia que não
queria o Riquelme. Belíssimo jogador, nome maravilhoso, mas infelizmente
não virá - justificou Zinho, ao ser questionado sobre o fato de ter
negado as conversas com Riquelme.
Reunião com Adriano
Mesmo sem o atacante ter contrato com o clube, Zinho teve de responder
sobre Adriano várias vezes. O atacante, que usava as instalações do
clube para se recuperar de uma cirurgia no tendão de Aquiles do pé
esquerdo, faltou a algumas sessões de fisioterapia. O diretor teve de
intervir, fez uma reunião com o Imperador e deixou claro que ele teria
de se enquadrar nas regras do Rubro-Negro. Na semana passada, Adriano
deixou de treinar no CT.
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