Em campo, o zagueiro Jaime de Almeida disputou 198 jogos com a camisa
do Flamengo durante a década de 70, uma história construída com suor e
técnica. Em outubro de 2010, sua trajetória voltou a ser reconstruída
quando foi apresentado como auxiliar técnico de Vanderlei Luxemburgo. O
treinador caiu, mas ele foi mantido na comissão técnica fixa, tendo
comandado já por duas vezes o time no Carioca deste ano, contra Olaria e
Botafogo, com dois empates.
Quando Joel Santana assumiu o comando, junto com Maurício Albuquerque e
Marcelo Salles, o auxiliar de 59 anos ficou com um papel secundário. Em
cinco meses, foram poucos contatos com o treinador, fazendo com que ele
cogitasse abrir mão de trabalhar no clube de coração.
Mas não foi o caso. Jaime persistiu, viu Joel ser demitido e novamente
foi chamado para assumir de maneira interina o comando do Flamengo,
antes de Dorival Júnior iniciar os seus trabalhos. Ele diz não guardar
mágoa de Joel. Mas reconhece que o sorriso fácil e as brincadeiras tão
comuns no seu dia a dia ficaram para trás, junto com a decepção e a
frustração de não conseguir ajudar o Flamengo a voltar a vencer.
- Não fiz praticamente nada com o Joel aqui. Respeito muito o
profissional, mas ele chegou com seus auxiliares, e não tive meu espaço.
Não fica nenhum tipo de mágoa, não. Era um pessoal de confiança dele,
mas ficava uma frustração. Nas poucas vezes em que ele me perguntava
alguma coisa, dei minha opinião sincera, como sempre - desabafou.
A impotência o fez pensar em sair e dar continuidade ao sonho de
construir uma carreira como treinador de futebol. Apesar das poucas
chances e de ter sido auxiliar por muito tempo, Jaime garante que nunca
desistiu do objetivo. E que vai lutar com as próprias forças, sem ajuda
de empresário.
- Foi uma situação difícil. Não me sentia produtivo e cheguei a pensar
em sair. Tenho o sonho de voltar a ser treinador e engrenar minha
carreira. Isso nunca vai sair de mim. Mas o mercado é complicado. Liguei
para alguns amigos e vi umas situações, mas continuei aqui. Nunca tive
empresário e não sei a influência que isso tem. Sempre caminhei com as
minhas próprias pernas e vou seguir assim - afirmou.
Nos últimos dias, o sorriso já voltou a ficar aberto. As brincadeiras
com os amigos também retornaram, dando uma pinta do Jaime de Almeida que
todos conhecem. É difícil segurar o riso quando as histórias saem da
boca do treinador interino, um carioca nato. Mas isso some também quando
ele encara os microfones. Diz que não se sente confortável em soltar as
piadas com quem não tem muita intimidade. E isso passa também para os
jogadores, já que ele considera importante ter uma relação de comando.
- Com um ou outro você pega um intimidade maior, mas é importante ele
saber quem comanda. Brincadeira é brincadeira. Comando é comando. Fora
que é preciso dar espaço ao jogador. Mas fora disso sou muito brincalhão
mesmo. Gosto disso, desse espírito, mas é necessário ter intimidade.
Saber com quem e em que momento você faz as brincadeiras. Quem me
conhece sabe que sou assim, mas sempre com muito respeito - explicou.
E com Dorival, como será a relação? Assim como Joel, o novo treinador
traz dois auxiliares (Lucas Silvestre e Ivan Izzo) e um preparador
físico (Celso de Rezende). Jaime não tem como planejar. Mas espera uma
relação mais aberta e se coloca ao dispor do novo comandante.
- Estarei pronto para ajudar e fazer o meu melhor para o bem do Flamengo - finalizou.
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