O presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, está jogando a toalha. Não o faz para o processo de licitação dos direitos de imagem do Campeonato Brasileiro no período de 2012 a 2014, mas em relação ao futuro do futebol brasileiro como um todo. Em março de 2012, diz, ele vai embora.
Koff, magistrado aposentado e maior presidente da história do Grêmio – foi o artífice da maior conquista da história do clube gaúcho, o Mundial interclubes de 1983 –, não conseguiu nem mesmo evitar que o seu clube se bandeasse para o lado da dissidência, daqueles que querem negociar em separado com as emissoras.
Nesse processo de licitação, foi acusado de falta de lisura – disseram que ele consultou a Record sobre a proposta de um bônus para a Globo, quando, de fato, consultou todas as TVs, ele, pessoalmente, a Globo – e de ser um marajá (diz que recebe salários de R$ 52 mil, o que dá menos de 0,2% do contrato atual da Globo com o Clube dos 13).
É preciso lembrar, também, que o atual conflito tem relação direta com a última eleição do Clube dos 13, 11 meses atrás, em que Koff conquistou o sexto mandato derrotando o ex-presidente do Flamengo Kléber Leite, candidato do presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Nesta entrevista, ele afirma que cansou, que daqui a um ano, quando vencerem os empréstimos dos bancos aos clubes avalizados pelo C13, ele vai embora.
LANCE!: Qual é a sua avaliação de todo esse processo? Você está frustrado porque todo o trabalho pode ir por água abaixo?
É muito frustrante, sim. Toda vez em que há uma oportunidade para avançar, acontece um retrocesso. Uma vez aconteceu em 2002, quando tivemos uma oportunidade de fazer a liga, outra, agora, neste processo de licitação.
[Nota da Redação: isso ocorreu também em 1988, antes de Koff se tornar presidente do Clube dos 13. Depois de fazer a Copa União de 1987, que foi um sucesso de público e receita, a maioria dos clubes do C13, alegando medo de punição, voltou para os braços da CBF.]
L!: O que você pretende fazer?
Estou há muitos anos no Clube dos 13, desde 1996. Já deveria ter saído. Estou cansado.
L!: Você vai sair já?
Eu gostaria de sair após o fim do processo de licitação, mas tenho compromissos a cumprir. Eu participei diretamente dos empréstimos que os clubes pegaram com bancos com a garantia do Clube dos 13. Esses empréstimos acabam em março do ano que vem.
L!: O diretor executivo do Clube dos 13, Ataíde Gil Guerreiro, declarou que falta coragem aos dirigentes de clubes brasileiros. O senhor concorda com isso?
Concordo. Existe, no futebol, um ambiente permanente de vacilação e transigência. Por isso, quando surge uma oportunidade de avançar, o que ocorre é um retrocesso.
L!: Na sua opinião, a Globo sempre esteve contra o processo de licitação criado pelo Clube dos 13 ou essa divergência foi surgindo com o passar do tempo?
Nós temos uma relação antiga com a Globo, e obviamente não concordamos em tudo. Mas durante esse período, construímos uma relação que teve pontos positivos para os dois lados. Desta vez teve esse acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A Globo não aceitou o modelo que foi criado, mas não fomos nós que definimos as regras.
L!: Você está se referindo ao comunicado que a Globo soltou na semana passada?
A Globo emitiu um comunicado que faz críticas muito fortes à licitação. Ela não avisou o Clube dos 13 que iria fazê-lo. Quando saiu, nunca o Clube dos 13 recebeu tanta mídia como nesse episódio. Mas essas críticas não são para nós. Não fomos nós que decidimos esse modelo de licitação.
L!: Para quem a Globo deveria então dirigir as críticas?
Elas estão mal-endereçadas. Deveriam ser endereçadas ao Cade. Nós apenas seguimos o que o Cade determinou. Em todos os passos que demos nesse processo todo, nós consultamos o Cade. Isso fazia parte do acordo que fizemos com o órgão em outubro do ano passado.
L!: Como você vê a posição da Globo, então, nessa história toda?
A Globo não diz que ela também é parte nesse acordo do Cade. Houve um processo que havia nos condenado. A multa era de R$ 10 milhões. Para chegar a um acordo, a Globo abdicou da validade do direito de preferência do atual contrato. Nós também tivemos de fazer algo. Nós nos comprometemos a fazer a licitação nos moldes em que o Cade determinou.
L!: E vocês estão cumprindo o que foi combinado?
Nesta semana, fomos a Brasília, e o Cade nos cumprimentou pela transparência da carta da licitação. Disse que é um processo limpo, transparente e sem privilégios. O Cade só fez uma alteração. Cortou o bônus de 10% que havíamos dado à Globo. Era um reconhecimento nosso para quem estava aí há mais tempo. Mas o Cade não deixou. E nós tiramos.
L!: Esse bônus é a prova de que o Clube dos 13 queria a participação da Globo?
Não só isso. É claro que queríamos a participação da Globo. É uma emissora importante. Mas não podemos fazer uma licitação direcionada para ela. Isso não é correto e não fizemos.
L!: O presidente do Santos, Luis Alvaro Ribeiro, horas depois de se reunir com o senhor na terça-feira à noite, soltou uma nota dizendo que o Santos iria negociar em separado, não por divergência com o Clube dos 13, mas porque, com as deserções de clubes e a desistência da Globo de participar, a licitação havia acabado, ficado inviável. Como o senhor reage a essa declaração?
Como assim acabou? Não acabou! Não aceito isso. A licitação está na rua! Não acabou nada. O Clube dos 13 ainda tem procuração dos seus 20 sócios para negociar os direitos do Campeonato Brasileiro coletivamente.
L!: Mas como o Clube dos 13 pode insistir na negociação coletiva, se tantos clubes já a abandonaram?
Ninguém saiu até agora. Só tenho conhecimento dessas decisões pelo jornal. Não é assim. O Clube dos 13 não é uma associação na qual cada um entra e sai na hora que quer. Tem de fazer por escrito, só o Corinthians fez, mas sem olhar o estatuto. Há prazos a cumprir.
L!: Segundo o estatuto do Clube dos 13, um filiado pode negociar em separado?
Não, quem quiser fazer isso tem de se desfiliar. Para isso tem um rito. Ninguém pode sair em menos de 60 dias.
[Nota da Redação: nesse período, devem ser definidos os resultados de cinco licitações; a primeira, da TV aberta, terá seus envelopes abertos na próxima sexta-feira; as outras quatro, nos dias 23 e 24 de março.]
L!: O que acha da atitude dos clubes de anunciarem a saída da negociação coletiva e continuar no Clube dos 13?
Como alguém pode vender o mesmo produto para duas pessoas? É isso o que esses dirigentes estão dizendo que farão. O Clube dos 13 continua sendo o representante dos clubes. Eles assinaram isso. Se querem mudar, que assumam a posição. Mandem por escrito, inviabilizemo processo, peçamumaassembleia. O Clube dos 13 é uma das organizações mais democráticas que existem. Com a assinatura de apenas quatro clubes, é possível convocar uma assembleia. Mas ninguém faz isso.
L!: E se não fizerem, o que acontecerá, então?
Se não fizerem vão sofrer as consequências.
L!: Quais são as consequências?.
Nem tudo o que é jurídico é moral.
L!: O que significa essa afirmação? Se um clube fechar um contrato em separado, desrespeitando o estatuto do Clube dos 13, você poderia entrar na Justiça contra isso?
Se o Clube dos 13 congrega clubes, como seu presidente, eu não vejo como possa processá-los. O espírito do Clube dos 13 não é esse. É representar os clubes, e não processálos. O meu espírito também não é esse.
L!: Então você não faria nada? Essa situação ficaria impune?
Nem eu nem o Clube dos 13 podemos fazer nada. Mas outra pessoa ou instituição pode. Um torcedor, a Secretaria de Direito Econômico. Eu concordo que não gosto dessa sensação de impunidade. Se alguém dá a sua palavra, tem de cumprir. Pelo menos era assim que sempre aconteceu.
L!: A impressão que o senhor passou nesta entrevista não é a de alguém que está jogando a toalha. O senhor não parece cansado, como disse. Ao contrário, parece estar muito disposto para enfrentar essa briga.
Mas eu estou mesmo muito cansado. Não tem mais lugar para mim no Clube dos 13. Com essas pessoas, pelo menos, não. Para mim, acabou. Chega.
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