A sigla, por si só, já é
autoexplicativa. Mas ao olhar o nome inteiro, é possível entender porque
o Flamengo investiu no Centro Unificado de Identificação e
Desenvolvimento de Atletas de Rendimento. Inaugurado em dezembro de
2015, o projeto completou um ano recentemente e tem sido um sucesso na
Gávea.
Para entender melhor do que se trata, o GRN conversou
exclusivamente com Izabel Miranda, responsável por administrar todo o
processo de trabalho. A profissional detalhou como funciona.
- O CUIDAR é o centro que foi criado para prevenir as lesões e,
principalmente, o excesso de treinamentos, além de melhorar o
desempenho. A gente só consegue fazer isso com a presença do
fisioterapeuta, médico, nutricionista, preparador físico e psicólogo.
Também temos um consultório científico que faz a mediação dessas
informações para dar suporte às decisões internas. É um projeto a longo
prazo e atende as equipes de ponta, digo, as principais. Queremos formar
atletas para chegar no alto rendimento. A estrutura foi montada para
atendermos tudo e identificarmos o real talento com o intuito de
trabalhar visando a evolução - explicou e exemplificou.
Com larga experiência no programa, por conta de sua passagem pelo
Minas Tênis Clube, a Coordenadora revelou a metodologia e fez um balanço
geral.
- Nós começamos o ano fazendo a avaliação da pré-temporada. Esse,
talvez, é o carro chefe do CUIDAR, o acompanhamento do estado atual do
atleta. Como ele chega aqui fisicamente, psicologicamente e em termos
nutricionais, por meio do percentual de gordura. Precisamos checar a
saúde mesmo. Realizamos uma bateria de testes para, a partir disso,
começarmos o treinamento. Temos um planejamento montado para todos e
vamos direcionar as atividades em busca da melhora da performance. Na
base, vamos observar a evolução em quatro aspectos: comportamental,
físico, tático e técnico. O diferencial é esse. Começaremos com
trabalhos preventivos para evitar um afastamento. E o maior objetivo é
preparar meninos e meninas das categorias inferiores para serem
submetidos a maiores cargas sem o risco de comprometer nada. O
pensamento é no futuro. Quatro anos é o prazo mínimo para a formação, o
máximo é dez. Vamos apresentar, em breve, uma novidade: a integração das
escolas com o esporte. A meta é estar presente na vida do esportista
desde cedo. Iremos verificar o rendimento escolar, que é um pilar
importante. O Flamengo pensa assim, e vamos montar um programa especial,
dando oportunidades para estagiários, pedagogos e professores -
destrinchou.
O basquete faz parte do processo e é peça fundamental na engrenagem.
Devido a unificação dos esportes olímpicos, funcionários, agora, vivem o
mesmo dia a dia. Questionada sobre o tema, Izabel destacou a
importância.
- Nós trabalhamos com a perspectiva de abordagem multidiscpilinar,
que por si só, valida o que fazemos. Existem programas internos com o
técnico, que é o líder, mas tem uma equipe por trás. Mais para frente,
teremos encontros mensais ou quinzenais, de olho no direcionamento de
treinos. Certamente, o número de lesões irá diminuir. Isso (união de
profissionais) já está sendo um diferencial. Muitos atletas estão
procurando o clube por conhecimento do investimento que vem sendo feito.
Toda vez que chega alguém novo para conhecer a estrutura, como foi o
caso do Hakeem Rollins, a gente sente uma confiança. O Flamengo tem a
preocupação de apresentar um panorama favorável. Os pais do pessoal da
base que vêm aqui, ficam encantados com o centro. Eu, como mãe, iria
gostar se meu filho viesse para cá - abordou.
A gerente esmiuçou a organização, apontou acertos e mostrou inovações.
- Quando Póvoa e Vido me convidaram, a gente já tinha um planejamento
pré-estabelecido. Nesse tempo, cumprimos tudo e entregamos um pouco
além do que esperávamos. Eu achava que seria mais difícil. O Fla é uma
grande força, mas nada é fácil. Mudar a forma de pensar dos
profissionais é complicado. Hoje, após um ano, vejo a equipe organizada
no atendimento ao atleta. O conceito do CUIDAR é fornecer serviços ao
esporte. Houve uma melhoria no acompanhamento geral e na aproximação com
os pais. Falta muita coisa à frente, temos um longo caminho. Aqui, às
vezes, o menos é mais. O simples se torna efetivo. Fizemos setecentas
avaliações, isso nunca tinha acontecido. É uma mudança significativa, e
estamos salvando vidas e fornecendo uma linha de trabalho. Vou adiantar
até uma informação: fechamos uma parceria de troca de conhecimentos.
Vamos mandar 21 funcionários nossos para Colorado Springs, durante uma
semana, para novas experiências. Quatro gestores também irão à Londres
para um encontro. Esses dois acontecimentos são frutos da negociação
excelente que o clube fez com os dois comitês (americano e britânico).
Creio que servimos de exemplo pela seriedade - concluiu sua fala.
Rafael Bernardelli, multicampeão com o FlaBasquete, passou a integrar
a base de sustentação do Centro. Em papo rápido, o preparador físico
deu sua opinião com argumentos relevantes.
- O CUIDAR é importante porque dá uma estrutura altamente qualificada
para atletas e técnicos de esportes olímpicos trabalharem. As
informações científicas ajudam a diminuir o indíce de lesão e, com isso,
o departamento médico fica mais vazio. O método é simples e
multidisciplinar. Fazemos uma avaliação completa com cada um e
formatamos o perfil. Assim, fica mais fácil identificar o ponto negativo
que pode ser melhorado - disse.
O escolhido para encerrar foi Marcelo Vido que, de forma sucinta e objetiva, complementou.
- Hoje, o esporte é de rendimento. É preciso enfatizar que, ciência,
conhecimento e tecnologia precisam caminhar juntos. Não da para
desassociar o crescimento sem os pilares. E, claro, nós temos como
prioridade de importância o desempenho escolar dos nossos atletas. O
Flamengo quer continuar sendo referência em todas as áreas - finalizou.
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