Eliminado pelo Brasil na Copa do Mundo de Basquete da Espanha, Walter
Herrmann mal teve tempo de curar a ressaca. Principal reforço do Flamengo para
a temporada 2014/2015, o ala argentino de 35 anos teve que fazer as malas às
pressas para se apresentar ao novo clube exatamente uma semana após o passeio
brasileiro em Madri. Pior do que juntar os cacos da derrota avassaladora
para o eterno rival e país no qual irá morar nos próximos 12 meses tem sido
aprender as jogadas passadas pelo técnico José Neto sem entender muito bem o
português. Mas como todo craque que se preze, o campeão olímpico nos Jogos de
Atenas-2004 usou seu improviso e "colou" justamente num antigo
rival e agora companheiro de time para tirar suas dúvidas e driblar as adversidades
dentro de quadra.
Há pouco mais de uma semana no Rio de Janeiro, é comum ver Herrmann grudado
em Marcelinho Machado durante os treinos na Gávea. Como o tempo até os dois
jogos contra o Maccabi Tel Aviv pela disputa da Copa intercontinental de
Basquete é curto, mais do que ensinar o novo idioma ao antigo rival, o capitão
rubro-negro tem tentando priorizar os movimentos mais importantes utilizados
pelo atual bicampeão do NBB e melhor time das Américas.
Marcelinho tem atacado de professor do argentino recém-contratado Walter Herrmann (Foto: Gilvan de Souza)
- É sempre mais fácil ensinar as coisas para um jogador experiente e de
altíssimo nível como ele. Mas como temos muitas variações de jogadas e pouco
tempo de preparação para os jogos contra o Maccabi, achamos melhor priorizar os
movimentos mais importantes e mais utilizados nos jogos para que ele possa
assimilar bem. Não adiantaria tentar ensinar tudo em uma semana e ele não
aprender nada - explicou Marcelinho.
Embora reconheça que o idioma tem sido seu maior obstáculo desde que
desembarcou no Rio de Janeiro, Herrmann não se cansa de agradecer o carinho que
tem recebido dos brasileiros e, principalmente, dos novos companheiros. As
dicas de Marcelinho têm sido tão úteis que o ex-jogador do Atenas de Córdoba
já até vislumbra um futuro brilhante para o capitão rubro-negro fora das
quadras.
-
Como fiz muitos poucos treinos com todos os jogadores, o Marcelinho tem
me
passado algumas coisas do time e isso tem ajudado muito na minha
adaptação. O
idioma ainda é um pouco difícil, mas quando as pessoas falam devagar eu
consigo
entender. Fomos adversários tantas vezes, e agora estamos do mesmo lado.
Ele é
um jogador experiente, de qualidade e com uma leitura de jogo incrível.
Se
quiser, acredito que tem tudo para ser um grande treinador no futuro.
Mas sei
que isso vai demorar um pouco para acontecer, já que ele é um cara que
fisicamente ainda está muito bem e é uma "fominha" de bola, né?
(risos) - elogiou o argentino, esbanjando simpatia e bom humor.
Apenas quatro anos mais novo que seu companheiro, Herrmann pelo visto vai pelo mesmo
caminho. Considerado veterano aos 35 anos, o jogador com passagens pelo
basquete da Espanha e pela NBA prefere não fazer planos e só pensa em dar o
melhor a cada ano. Eleito o jogador mais valioso da Liga Argentina na temporada
passada, o camisa 1 da Gávea afirma que apostou nas vitoriosas campanhas
recentes do basquete rubro-negro para trocar o cobiçado mercado europeu pela
oportunidade de fazer história na casa de seu maior rival.
Segunda chance de vencer a copa intercontinental
História
que poderá começar a ser (re)construída neste fim de semana. Em
1996, quando dava seus primeiros arremessos dentro de uma quadra de
basquete,
Herrmann fazia parte do elenco do Olimpia Venato Tuerto, equipe situada
ao sul da província de Santa Fé, da Argentina, que decidiu o Mundial
Interclubes daquele ano contra o Panathinaikos. Aos 16 anos na época, o
ala
sequer foi selecionado para os três jogos que deram ao time grego o
título da
competição, mas lembra que viveu de perto a atmosfera de uma final como a
que
terá pela frente.
Se há 18 anos o lugar mais alto do pódio era disputado em melhor de três
partidas, agora Herrmann poderá se vingar do tempo e refazer o final dessa
história em apenas dois confrontos. E, desta vez, dentro de quadra. O argentino
reconhece que a ansiedade é tão grande quanto o respeito e a preocupação com o
adversário israelense.
- A expectativa de todos é muito
grande. Principalmente a minha, que já vivi
essa experiência pelo Olimpia. Vencemos o jogo na Argentina, mas
perdemos os
outros dois na Grécia. Mesmo ser ter sido relacionado para nenhum dos
jogos,
foi uma experiência maravilhosa. Estamos assistindo a vídeos e
analisando algumas
estatísticas do time deles. Mesmo após ter perdido alguns jogadores
importantes
e não ser tão badalado como outras potências da Europa, o Maccabi é um
grande
time e merece nosso respeito. Eles venceram na decisão da Euroliga
ninguém
menos que o Real Madrid, que contava com um elenco fantástico - alertou o
jogador, que marcou 15 pontos na sua estreia pelo Flamengo, na vitória
sobre o Macaé, sexta-feira passada, pelo Campeonato Estadual.
Não são só os jogos diante do campeão europeu que têm mexido com as emoções
de Walter Herrmann. Ex-jogador do Charlotte Bobcats, que tem Michael Jordan
como dono, e do Detroit Pistons, franquia que o argentino defendeu na temporada
2007/2008, quando a equipe comandada por Allen Iverson perdeu à final da
Conferência Leste para o Boston Celtics, o ala não esconde sua ansiedade de
voltar a jogar nos Estados Unidos defendendo o Flamengo.
- É estranho, mas será uma experiência única voltar a jogar em algumas
arenas que disputei tantos jogos. Jogar na NBA foi a experiência mais marcante
da minha carreira. Passei três anos maravilhosos nos Estados Unidos, tenho um
carinho enorme pelo país e pelo povo americano e será muito legal poder matar a
saudade nesses três jogos - disse o camisa 1 do Flamengo.
Torcedor fanático do san lorenzo
Emoção maior Herrmann talvez só tenha sentido na Copa Libertadores deste
ano. Torcedor fanático do San Lorenzo, o ala rubro-negro finalmente soltou
o grito de campeão e não será mais alvo das gozações dos rivais, uma vez que o
time de Almagro era o único entre os grandes da Argentina que ainda não
tinha conquistado o título da principal competição sul-americana de clubes.
E para garantir que Herrmann não corra o risco de virar a casaca pelo menos
em solo brasileiro, a diretoria do clube carioca tratou logo de levar o reforço
argentino para conhecer a força da torcida rubro-negra. Ainda sem a mulher e os
três filhos - dois meninos e uma menina -, que só deverão chegar ao Brasil no final de outubro, o jogador deu
sorte à sua nova equipe na sua estreia no Maracanã.
- Adoro futebol e fui ao Maracanã logo no dia que cheguei ao Brasil. Assisti
à vitória do Flamengo sobre o Corinthians por 1 a 0, pelo Campeonato Brasileiro,
e fiquei impressionado com tudo. Desde o tamanho do estádio, até a força da
torcida rubro-negra que não para de cantar - disse o jogador.
Campeão da Liga das Américas deste ano, o Flamengo enfrenta o Maccabi em
dois jogos neste fim de semana, na Arena da Barra. A primeira partida será na
sexta-feira, às 21h30. O segundo duelo é no domingo, às 12h. O SporTV transmite os dois jogos, e o GloboEsporte.com
acompanha em Tempo Real. Os assinantes do Canal Campeão ainda podem assistir
pelo SporTV Play.
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