Cena
1: Welinton deixa o Flamengo para jogar no Alania Vladikavkaz, da
Rússia. Encontra uma cidade ainda em reconstrução depois de ataques da
Chechênia. Frio extremo, um idioma extremamente complicado e apenas dois
pequenos mercados para fazer compras. Em campo, de 11 jogos, disputou
dez como titular. O zagueiro agradou aos russos, que decidiram comprar
os direitos econômicos do jogador.
Cena 2: O Alania passa por
sérios problemas financeiros e a situação de Welinton - que deixou de
receber grande parte dos pagamentos - mudou da noite para o dia. Em
julho, ele desembarca de vez no Rio de Janeiro. Fora dos planos de Mano
Menezes, treina sem saber qual será seu destino. Quando o abatimento com
a possibilidade de ficar seis meses sem jogar já consumia o zagueiro,
em outubro, Jayme de Almeida reintegra o jogador, que sempre agradou ao
treinador.
Cena 3: Welinton volta a treinar com o grupo
principal, foi titular pelo Brasileirão no jogo contra o Grêmio,
festejou no campo do Maracanã o título da Copa do Brasil e saiu na foto
oficial de campeão, mesmo sem ter disputado um único jogo.
A
relação de Welinton com o Flamengo daria um filme. Exaltado por técnicos
como Vanderlei Luxemburgo e Jayme, o zagueiro sempre foi alvo de grande
parte da torcida. As vaias são a trilha sonora. Com contrato até março
de 2016, o jogador aguarda as cenas dos próximos capítulos.
-
O futuro pertence a Deus. O mais importante é receber a
carta para estar no dia 8 na reapresentação, me preparar, manter a
cabeça no
lugar. Torcida é aquilo: da mesma forma que pega no pé, se você for bem,
ela vai aplaudir, gritar o seu nome. Não tenho medo, passei muito por
isso
aqui e mantive minha cabeça erguida.
Tem o lado crítico e o que apoia. O que vale para o torcedor
é a paixão, tenho que ser profissional para diferenciar as coisas.
Agora é trabalhar. Enquanto não tiver
nada, espero, quem sabe, ficar muito tempo no Flamengo - afirmou.
Aos
24 anos, Welinton garante que a experiência no futebol russo serviu
como trampolim para seu amadurecimento. Dentro e fora de campo. E mais
uma vez as dificuldades apareceram no caminho.
-
Foi uma experiência legal, eu não esperava, mas
apareceu a oportunidade e fui. A adaptação é difícil, a cultura
totalmente diferente,
serviu como grande aprendizado. É um campeonato difícil, o time estava
numa
situação complicada, valeu como experiência. Tiveram momentos difíceis,
quando foi preciso ter calma, pensar na carreira, ver o que realmente
quero da vida. Aprendi não só dentro
de campo, mas fora também. Era muito frio, a cidade pequena, não tem
quase nada. Eram dois mercados, a cidade já foi bombardeada pela
Chechênia
e não tinha sinal de reconstrução. Bem complicado,
difícil. Sorte que tinha amigos brasileiros que falavam a língua, fora o
tradutor que enrolava um pouquinho e assim fui me virando, consegui
criar um
espaço. De 11 jogos só fiquei fora de um, isso foi bem legal, bom para
evoluir - recordou o zagueiro.
Da noite para o dia, o retorno
Eis
que de um dia para o outro, depois de uma série de indefinições,
Welinton foi avisado: não seria comprado pelo Alania. Voltou voando para
o Brasil, no sentido literal e figurado. E viu um futuro incerto pela
frente:
-
Foi tudo muito rápido. Eles demonstravam interesse,
falavam que iam me comprar e do nada despenco na Gávea sabendo que não
seria mais aproveitado. Tudo mudou. Uma notícia que seria boa para ambas
as
partes, acabou que não aconteceu. Deu um baque pesado pensar que ficaria
seis meses sem
jogar e ter o Flamengo, um grande clube, onde fui criado, praticamente
de
portas fechadas. Pude manter a postura e a
oportunidade apareceu de novo no Flamengo. O Jayme assumiu, me chamou e
hoje estou feliz da vida só por estar de volta. E joguei contra o
Grêmio. A esperança voltou
mais forte do que nunca.
Jogador promete se cuidar nas férias para estar bem no início da próxima temporada (Foto: Janir Junior)
Na
final da Copa do Brasil, Welinton estava nas cadeiras do Maracanã. Com o
título sobre o Atlético-PR, o zagueiro foi a campo comemorar. Dias
depois, saiu na foto de campeão no Ninho do Urubu. E, se derem brechas,
brinca ele, também vai querer beliscar parte da premiação pela
conquista.
-
Mesmo sem ter jogado na Copa do Brasil, o grupo me
colocou no bolo, e ajudei da forma que podia, incentivando, gritando. Não tem preço estar no Maracanã lotado
sendo campeão. Nesse grupo está todo mundo junto.
Espero estar no bolo da premiação (risos) - disse.
Cuidado com a balança à espera do futuro
No
momento, Welinton curte férias. O zagueiro ainda não sabe qual será seu
futuro, se permanecerá no Flamengo ou novamente seguirá seu caminho
longe da Gávea. Enquanto aguarda a próxima manchete com seu nome, o
jogador - conhecido por ganhar um quilinhos a mais durante período de
inatividade - se diverte com notícias que está acostumado a ler em suas
reapresentações:
-
Costumo falar que quando começam as férias a
matéria já esta pronta: "Welinton se reapresenta acima do peso" (risos). Mas fui
aprendendo, tudo tem sua hora. Foi um ano difícil, que terminou alegre, feliz. Tem que saber
beber uma cervejinha, comer um churrasco, mas com limite. Vou fazer 25 anos,
não posso ser aquele moleque de antigamente que zoava e voltava acima do peso.
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